Capítulo 18 - Uma proposta

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Era o quinto paciente que Anne visitava naquela manhã atarefada de consultas, e ronda diária. Ela tinha o prontuário nas mãos, e anotou rapidamente o progresso do garotinho de quatro anos que tinha contraído pneumonia, e estava ali fazia uma semana. Felizmente, sua melhora acontecia a olhos vistos, e mais alguns dias estaria indo para casa e voltando à sua rotina normalmente.

Ela se aproximou do garotinho que a olhou timidamente, mas não lhe sorriu, e disse enquanto acariciava os cabelos macios dele:

-Está com saudades de casa?- o menininho que se chamava Tony, balançou a cabeça em sinal de afirmativa.

-Mais três dias e estará com sua família. - Anne lhe contou. - E então? Está feliz?- o garotinho dessa vez balançou a cabeça, assentindo com um pequeno sorriso no rosto, o que fez Anne pensar em como seria ter um bebê.

Ela queria ser mãe um dia, o que era um sonho seu desde adolescente. Devia ser maravilhoso sentir a criança crescer em seu ventre mês a mês, comprar e tricotar suas roupinhas, decorar o quarto, e idealizar o futuro que ele ou ela teria. Para isso, ela precisaria do pai perfeito, e logo sua mente a levou para onde queria.

O sorriso brilhante de Gilbert surgiu em sua cabeça sem esforço algum. Anne podia claramente imaginá-lo como pai de seu bebê, e pelo que já pudera constatar em alguns momentos em que o vira em presença de alguma criança, ele se dava muito bem com elas.

Era verdade que Gilbert tinha um passado complicado que envolvia um bebê, uma filha para ser mais especifica, e Anne não sabia se ele ainda pensava em ser pai um dia, pois muitas vezes as marcas deixadas por um trauma como o dele nunca mais desapareciam, comprometendo assim qualquer sonho ou ideal que um dia pudesse ter tido naquela área.

No entanto, ele parecia gostar de crianças, e esse lado dele felizmente não fora afetado por seu trauma e depois que Gilbert, confessara que a amava, ela se permitia sonhar com a possibilidade de um dia cruzarem essa linha e formarem uma família, mas obviamente não se permitia ir muito longe, porque tinha outras coisas a considerar.

Robert ainda era uma dessas coisas, e por mais que Anne amasse Gilbert, ela sentia que não podia ser feliz enquanto seu ex-namorado estivesse incapacitado naquela cama de hospital.

Às vezes, Anne sentia que sua felicidade sempre seria manchada por aquela sombra do seu passado. Como se cada pequena alegria que conquistasse viesse com um estigma de desmerecimento.

Nunca fora supersticiosa, e muito menos acreditava em caça às bruxas, mas havia algo em seu coração que a fazia pensar que o que acontecera com Robert sempre seria uma maldição em sua vida, como se naquele dia do acidente ela tivesse sido escolhida para viver em um limbo de dores e autodestruição.

Por outro lado, a vida, o destino ou alguém superior decidira lhe dar uma trégua de todos os seus infortúnios, e lhe presenteara com Gilbert Blythe. Um anjo em forma de homem que era o único capaz de salvá-la de seus dias escuros, e de sua autopunição. Anne não sabia até onde podia esperar que a vida lhe fosse benevolente, e por quanto tempo poderia amar Gilbert sem impor a si mesma nenhum limite, mas estava disposta a aproveitar cada instante com ele até que isso não fosse mais possível.

-Vou pedir à enfermeira que te traga um brinquedo. Acha que vai gostar disso?- Anne perguntou, olhando para Tony que mais uma vez lhe sorriu, concordando com a cabeça.

Assim, ela fez mais um carinho na cabeça do garoto, e saiu para o corredor, caminhando rumo ao seu consultório.

Enquanto ouvia os próprios passos no chão caprichosamente encerado, Anne pensava no quanto aquele hospital tinha se tornado o seu lar, e por mais que tivesse sido difícil no início, ela encontrara seu lugar ali dentro, e após algum tempo, também conseguira ver que todos naquele ambiente eram unidos como uma grande família, e esse fato era um imenso alento para seu coração de órfã carente.

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