"Arrogância e loucura andam de mãos dadas em corações apaixonados por ilusão. "
Paidí estava cansada, com fome e constantemente era surpreendida pelos algozes que a perseguiam. Já havia andado muito para além de onde encontrará Ánasi, e começava a pensar onde iria parar após tudo aquilo.
Em um ato de desespero deixou-se estender pela relva, cansada de vigiar os uivos relaxou a atenção. Voltou seus pensamentos para o início. Para seus progenitores. Para os que dela cuidaram pelo caminho. Onde estavam agora?
Seus pais, ela sabia, a protegeram até onde suas forças suportaram, mas e quanto aos outros? Seus fiéis apoiadores simplesmente não consideravam mais a sua existência. Do que valera toda a sua comiseração? Do que valia naquele momento todas as palavras que diziam?
Em que o amparo daqueles desconhecidos se assemelhava ao amor daqueles que mesmo abatidos ainda guardavam consigo um zelo imensurável pela pequena Paidí? Em seus olhares apáticos havia muito mais significado de que em todas as palavras que recebera desde então. Por quê fugir de encará-los?Talvez Paidí estivesse louca. Indo em direção ao inimigo. Indo em direção a aos restos mortais de seus pais. Mas algo em seu interior, talvez seu sangue ou a loucura de viver tanto tempo só, dizia que ao voltar encontraria o sentido que se havia perdido.
Não seria fácil. E não foi. Quanto mais avançava entre as terras de musgo e frio, mas sentia-se observada. Houveram noites em que não diminuia o ritmo da caminhada apesar de ouvir nitidamente os monstros chamando pelo seu nome.
Téleios e Ánasi a encontraram em seu retorno. Não puderam deixar passar o quão pior a menina estava. Não puderam deixar de apresentar a arrogante Enfánisi e o incontrolável Físikos, amigos que criaram. Enfánisi encantou Paidí, ela era justa e brilhante em tudo que fazia, seus olhos eram convidativos como duas joias amarronsadas e translúcidas, e logo pareceu precisar do auxílio Paidí, pois não parecia muito forte para andar. Físikos por outro lado, era forte e simples, precisava de Paidí para que o orientar, tinha os olhos turvos e não ouvia muito bem.
Paidí se entreteu junto com eles durante um tempo. Tinha medo de fazer com que sucumbissem a vida ali. Certo dia, quando percebera que havia regredido em seu intento, evitou o sono planejando deixá-los. Com algumas madeiras podres fez uma moleta para Enfánisi e contava que a mesma ajudasse a Físikos, fariam um bom par. Paidí não poderia se esquecer que não pertencia a nenhum deles ali.
Já havia os perdido de vista quando o cenário começou a trazer a tona suas memorias, de um tempo em que não andava com medo. Já havia os perdido de vista quando os uivos e grunhidos vieram a ameaçar. Ela correu. Debil ela caiu. Se arrastou de olhos fechados para não os ver.
Písti a puxou do chão, a pos a sua frente e pôs uma espada em seu punho ajudando-a a ferir aos que a atacavam. Ela via tudo desacreditada. A um certo momento eles pararam de atacar e Paidí sorriu. Não sabia o que era isso.
O sorriso fez Písti sorrir também. Um sorriso que fez o sorriso de Paidí dobrar. Havia uma áurea de paz em seu olhar que fazia com a menina não tivesse medo. Ela o abraçou.Písti, em sua autoridade, entendeu a caminhada de Paidí e a ensinou manejar a espada. Deve forjar a sua com bravura e verdade, foi o que disse ao ensinar a fazê-lo. Paidí desconfiava dele. Afinal, onde ele estivera esse tempo todo? Mas não conseguia duvidar de suas palavras por muito tempo.
Ele a forjou. Treinou lado a lado. Porém a jornada era dela. Ele dizia, para não retroceder. Então Paídi seguiu. A certa altura ouviu um choro que a chamava, olhou para trás preocupada. Seria algum de seus amigos? Písti percebeu que algo a incomodava, encarando o ambiente já não tão úmido e não tão escuro a fez refletir sobre os dias em que os ajudará. Ao olhar a espada chegou a conclusão que eles nunca a ajudaram, não como Písti o fizera até ali. Ela seguiu, ignorando esse choro que aos poucos se tornou em um eco de um praguejar por algo que ela não tinha culpa. Por algo que eles escolheram.