HUMANISMO II

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Desde o ventre fora esperado e no berço estava repleto de cuidados.
Seus primeiros passos demoraram um pouco, seu desmame demorou quase a vida inteira.

Cuidadosamente seus pais retiraram do seu caminho todos os obstáculos e cobriram todas as superfícies duras com texturas macias.

Sem voz alta.
Sem pressa.
Sem negatividade.
Sem atrito.
Sem limite.

Seu choro era o suficiente para reverter qualquer situação. Seu desânimo era o suficiente para perder as responsabilidades que lhe pertenciam.

E assim foi até os 10, até que teve de encarar o mundo e no primeiro atrito se escondeu.
E assim foi até os 15, aprendeu os caminhos onde nada o afligia e seguiu buscando o lado brando da vida.
E assim foi até os 20, enquanto fugia de volta pro berço, correndo das consequências de seus atos.
E assim foi até os 25, quando chorava e nada mais parecia fazê-lo acalmar.
E assim foi até os 30, onde o sabor da vida lhe escapou, talvez tivesse o escapado bem antes, não saberia dizer.

Nunca soube lidar com um mundo cheio de rusgas e armadilhas, e nunca entendera como seus sonhos se realizariam em um cenário assim.

Mas talvez ele nunca sonhara. Estava no modo sobrevivência desde que nascera, esqueceram de virar a chave e agora, sua mente não conseguia nem mesmo conceber que era possível ser feliz, pra si só havia felicidade na satisfação de todas as suas vontades e o mundo era seu vilão, até seus pais eram seus vilões a essa altura, e ele era a vítima, que contava com o colo incondicional de qualquer um que não o contrariasse.

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