Conto de Néos - Ánasi: a acolhedora

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"Existem abrigos que acolhem medos e agigantam monstros"


Após o primeiro ataque tudo que Paidí queria era alguém que não quisesse a ver morta. Seus progenitores haviam sido derrotados diante daqueles monstros, mesmo que tentasse a apatia deles só fizera seu horror ser pior.

Correndo pelas vielas da terra desolada, Paidí encontra Ánasi. Primeiro ficou assustada, seria naquele momento a sua morte, mas a figura de cabelos longos e cheios sorriu e lhe estendeu sua capa. A capa fez Paidí se se sentir mais segura, ela seguiu Ánasi por todo o lugar, fazendo-a parecer ainda maior do que era.

Ánasi conversava com Paidí sobre tudo, e quando os monstros vinham atacar, Paidí se enfiava na capa, onde sentia menos medo, mas Ánasi tinha seus inimigos também e quando os enfrentava Paidí temia perder sua nova proteção, pois Ánasi sempre saia muito ferida, a ponto de Paídi lhe servir de apoio para que caminhasse, embora não fosse confortável e acabasse ferida também, Paídi não a deixava.

Nunca houveram grandes desentendimentos entre a dupla, isso porque Ánasi só reclamava quando Paidí tentava faze-la agir como seus progenitores. Ela não aceitava. Ánasi dizia que a protegia e queria que ela vivesse, e de fato ela nunca desprezou nenhuma das dores de Paidí, nunca respondeu com apatia, nem mesma quando ferida. Ánasi não julgava que Paidí talvez devesse partir dali, ou que ela que os inimigos pudessem ser vencidos por completo, mas ela poderia ter uma vida boa.

A capa era quente, afofada e macia, se Paidí levantasse para enxergar lá fora, Ánasi à criticava, dizia ser o ar gélido que a incomodava. O ar gélido da realidade lá fora era a culpa de todo sofrimento dizia. Poderia sangrar quantas vezes fosse, mas não suportava o ar. Paidí não entendia como isso poderia ser pior. Mas, a medida que foi crescendo e a capa ficando pequena passou a perceber o quão temerosa era Ánasi e o quanto ela não se importava de deixá-la exposta tão somente para de proteger.

Não havia mais como ser seu escoro, não se o ar gélido passasse para dentro da capa. Por isso, em um dia em que Paidí descansava sob a capa Ánasi fugiu. Paidí acordou em pânico com os ruídos dos inimigos. Se não tivesse crescido tanto quanto seus progenitores ainda poderia contar com os cuidados de Ánasi, ela era sua única amiga, e agora estava sozinha e sem a capa. Não conseguiria fugir. E quem carregaria Ánasi agora? Paidí fugiu, sentindo pavor de si. Para onde iria agora?

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