Capítulo 2

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    Acordo com o despertador do meu celular sem acreditar que o sol já deu as caras. Corro pro banheiro e tomo uma ducha rápida, mas na hora de me secar percebo alguns hematomas bem aparentes em meu braço e uma marca no pescoço. Aí céus! Esse cara ontem perdeu a mão! Pra quê eu fui aceitar trocar um pouco os papéis? Bem, o jeito é correr atrás de uma base e tudo vai ficar bem.

    Chego no hospital e corro logo pro vestiário. Guardo minhas coisas e pego meu uniforme, preciso me trocar antes que alguém chegue e veja essas marcas. Pra minha sorte, consigo terminar de vestir o jaleco e em seguida sou chamada por Pedro:

— Nicole! O pessoal está lá na emergência. Parece que tem algumas ambulâncias chegando! Corre!
Corro com ele pra lá e enquanto colocávamos as luvas e máscaras, recebíamos as instruções apressadas do doutor Paulo que já andava em direção às portas principais da emergência:
— Bem pessoal, as aulas começam literalmente agora! Vocês precisam aprender a trabalhar sobre estresse e pressão, mas não encarem isso como pedidos debochados de relatórios em um escritório, se tratam das vidas dessas pessoas que estão chegando! Acalmem por um primeiro momento os parentes que chegarem junto, mas direcionem eles para alguém da enfermagem. As ambulâncias devem chegar nos próximos 2 minutos, então foco, raciocínio rápido e não se esqueçam: vocês estão aqui pra salvar vidas! Bora lá!
Assim que nos aproximamos das portas as ambulâncias encostam e o doutor Paulo vai direcionando os pacientes para os residentes e também para alguns enfermeiros, visto que alguns eram apenas pequenos ferimentos. Em uma questão de minutos a emergência ficou um verdadeiro caos! E eu espero que consigamos dar conta de tantos pacientes. Olho pro lado e o paramédico arrasta a maca em minha direção dizendo:
— Homem, 52 anos, hipertenso. Encontramos ele desmaiado no local depois de ser atirado pela janela do ônibus. Alguns ferimentos no braço, mas está com muita dificuldade de respirar!
Ele deixa o paciente no leito, se despede e vai embora. Eu olho a situação daquele homem e entro em pânico! As informações passadas pra mim quase que desapareceram no momento em que eu vi o estado crítico do meu paciente coberto de sangue. Respiro fundo e rapidamente pego meu estetoscópio para escutar sua respiração... a coisa só piorava! Olho o monitor e a pressão dele estava nas alturas! Gente, a qualquer momento este homem entra em colapso e morre! Mas não... não no meu plantão!

    Conseguimos estabilizar o paciente, segui corretamente todas as etapas, conferi os exames... tudo normalizado! Bem, com este paciente né... olho pra trás e com a emergência cheia daquele jeito, corri pra ajudar mais pessoas.
— Bom dia Daffiny, quais pacientes estão precisando de atendimento?
Ela me olha com uma pilha de pastas nas mãos e diz:
—Como é seu segundo dia e você conseguiu estabilizar aquele paciente, pegue os leitos 6, 7 e 8 que estão apenas com problemas mais leves. Depois volta aqui assim que terminar.
Não perdi tempo, peguei as fichas, atendi os pacientes e em menos de 15 minutos eu já estava de volta. Daffiny me olhou e disse:
—Boa menina, te quero na minha emergência durante o meu plantão hein! Corre ali no leito 2 pra auxiliar sua amiguinha que não consegue nem receitar um antibiótico direito.
Pensei comigo: depois de ganhar esse elogio da Daffiny, acho que nunca mais eu ganho na loteria! Quando me aproximo do leito, vejo que se tratava de uma paciente gestante. Muito provavelmente por isso que a Cíntia estava demorando.
— Oi Cíntia, precisa de ajuda?
Cíntia revira os olhos ao ouvir minha voz e diz:
— Tá se achando né? Só porque deu sorte e pegou pacientes relativamente simples, não precisa vir aqui cantar a vitória. Não quero sua ajuda! Está tudo bem por aqui!
Senhor! Que bicho mordeu ela?
— Credo Cíntia! Dormiu mal essa noite hein! Só estava querendo ajudar e já que você não precisa, vou ver se o Pedro quer.
Quando me viro pra procurar ele, uma enfermeira grita:
— Doutora Nicole! Ela está convulsionando!
Corro pra lá, vejo a paciente e já ordeno que a enfermeira administre a medicação. Em poucos segundos ela para, os batimentos regularizam e a paciente estabiliza. Ufa! Que segundo dia! E olha que ainda nem se passou uma hora.

    Depois de uma manhã um tanto quanto agitada. Faço uma pausa pra um café. No caminho cruzo com Pedro que me acompanha no pedido. Sentamos um pouco e ele diz:
— E aí? Curtiu a emergência?
Olho pra ele com toda a calma do mundo e digo:
— Curti e muito! Acho que muito provavelmente essa vai ser minha praia. Até a Daffiny falou que me quer lá no plantão dela!
Ele me olha espantado e diz:
— E você acendeu a vela pra que santo? Pra isso poder acontecer, só encontro essa resposta!
Quase cuspo o café com os risos e digo:
— Nenhum, seu louco! Nem acredito nessas coisas!
Ele responde:
— Ah... mentira! Não acredito que você é do tipo que não acredita em Deus, só crê na ciência e blá blá blá...
Dou outra risada, sacudo a cabeça e digo.
— Acredito nele sim e na ciência com certeza! Só no blá blá blá que não! Bem, vamos embora que preciso comprar logo outro café!
Ele fica confuso...
—Mas você acabou de beber esse!
Entro na fila novamente dizendo:
— Você acha mesmo que depois dessa a Daffiny não tá esperando meu café?

    Passamos o dia relativamente tranquilos. Eu e Pedro até que fazemos uma bela dupla! Desvendamos alguns casos laboratoriais juntos, fizemos as visitas dos pacientes internados e ainda por cima rimos um pouco das enfermeiras dando em cima do chefe às escondidas. Ele carrega uma senhora aliança naquele anelar dele, mas alguma coisa me diz que aquelas enfermeiras não estão ali só perdendo tempo e saliva. Bem, tentativas a parte, hoje dei o meu primeiro flagra num casal... o chefe da pediatria estava aos beijos com a secretária do RH dentro do depósito de medicamentos. Não consigo entender que fetiche é esse em transar em locais proibidos! Bem... sei bem que no mundo do prazer tudo é possível, mas sinceramente eu não vejo a menor graça nessa vibe.

    Meu chefe reúne a equipe um pouco antes de acabar nosso plantão e diz:
— Muito bom o dia de hoje! Trabalharam bem! Tenho que dizer que a partir da semana que vem, irei começar a fazer as escalas dos plantões. Vocês não irão mais se ver diariamente e essa moleza de dormir todos os dias vai acabar! Só estão pegando esses horários leves porque eu quis antecipar a vinda de vocês pra saber aonde eu quero que cada um fique. Boa noite pra vocês, vão pela sombra!

    Plantão acabado e dessa vez eu topei o convite para ir beber no tal barzinho. Nada de álcool pra mim, mas até que passar mais um tempo com o Pedro fora do hospital me pareceu uma boa.
Pela graça dos céus, a Cíntia pegou a moto e passou reto pelo bar.
— Boa noite querida, me vê uma cerveja!
Eu apoio minha bolsa e digo:
— Um refri por favor! Pode ser uma Coca.
Pedro me encarou e disse:
— É sério isso? Coca pós expediente?
Afirmo com a cabeça enquanto eu pego meu telefone vibrando com a seguinte mensagem: "Mulher, 45 anos. Procura sexo com outra mulher em local proibido. Topa?" Encaro aquilo como uma gracinha do destino e dessa vez eu respondo: "Não, passo."
— Bem, escolhi a Coca, pois achei que ia precisar ficar mais tempo acordada essa noite. Mas pelo o que eu acabei de ver já já vou pra casa dormir!
Pedro indaga:
— Vai me dizer que levou um fora?
Dou um gole na minha Coca e respondo:
— Não, eu que dei! Bem, estou louca por um hambúrguer, quer também?
Ele estica a mão pro garçom e diz:
— 2 Burgers de picanha por favor!
Cruzei os braços e disse:
— Obrigada pela gentileza, mas eu pensei em a gente escolher junto!
Seu ar de deboche me deixa desnorteada:
— Desculpa "Senhorita eu dou o fora nos caras" não sabia que o coitado do Burguer picanha também não iria agradar a sua noite!
Dei um tapa no braço dele enquanto os risos já nos tomavam... bem, já vi que aqui começa o início de uma gostosa amizade, e eu estou adorando isso!

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