𝗚𝗮𝗹𝗮𝗱𝗵𝗿𝗶'𝘀: 𝗣𝗿𝗶𝗺𝗲𝗶𝗿𝗼 𝗔𝘁𝗼 𝗫

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Primeiro Ato X: Descrença
O início de tudo.

Não dá para confiar em todas as pessoas, humanos são imprevisíveis, ambiciosos, egoístas em busca de um objetivo individual e se não da pra confiar em alguém, estará sozinho.


O calabouço de um castelo está longe de ser um lugar agradável, mas em Galadhri, era um verdadeiro pesadelo. Nesse lugar fétido e sombrio, pessoas eram esquecidas para morrer, enquanto outras enlouqueciam antes que a desnutrição as consumisse. As celas, frias e sujas, exalavam um odor nauseante de podridão, com chão de pedra infestado por aranhas e coberto de restos de fezes de roedores. Os sons na masmorra eram agonizantes, ecoando lamentos e suspiros que alimentavam uma estranha ansiedade. Esperavam por um resgate que nunca viria, conscientes de que seu destino era a morte. Quando essa realidade os atingia, gritavam desesperados, choravam e amaldiçoavam, passando por todas as fases da decomposição humana. Perdiam sua humanidade, regredindo a um estado animalesco e vazio antes de enfrentarem a morte.

Esse calabouço era reservado para os mais cruéis prisioneiros e traidores, verdadeiras ameaças ao reino. E, no passado, também abrigava Tanith, uma adolescente de beleza singular. Seu rosto doce e inocente, com olhos de um avelã levemente esverdeado, lábios carnudos, bochechas arredondadas, queixo delicado e testa suave, contrastavam violentamente com a brutalidade ao seu redor. Seu cabelo castanho claro, longo e ondulado, descia até o quadril, macio e perfumado, lembrando um passado de suavidade e carinho. Seu corpo, ainda jovem e gracioso, carregava a marca da gravidez, um ventre que seria liso se não fosse pelo novo ser que crescia dentro dela.

Era evidente que o calabouço assustador não era lugar para uma dama bela e inocente como Tanith. Duas noites haviam se passado desde que ela foi jogada nesse antro de horror. Todos sabiam que ela não pertencia a esse lugar, vítima de uma cruel injustiça orquestrada pela Viúva Negra, a impiedosa Rainha Grakce. O silêncio na masmorra era quebrado apenas pelos murmúrios e suspiros dos prisioneiros, ecoando histórias de desespero e sofrimento, enquanto Tanith, cercada pela escuridão, enfrentava seu destino incerto.

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Dentro desses dois dias, Tanith permaneceu faminta e recolhida no chão duro, abraçando os próprios joelhos. Esperava, na sua fragilidade, que seu príncipe encantado descesse à masmorra e fizesse todos se curvarem em desculpas, mas ninguém apareceu. Apenas os guardas da ronda da noite, os ratos sujos e as baratas nojentas faziam companhia a ela.

Um guarda, movido por compaixão, aproximou-se das enormes e velhas barras de ferro, passando pelas fendas uma garrafa de barro com água fresca e uma bolsa de pano com alimento.

- Coma, Tanith — sussurrou o guarda.-  O príncipe Gadir está fazendo um favor para sua mãe. Não conte a ninguém sobre isso... Aqui não é lugar para você, garotinha.

- Minha... mãe — a garota começou a chorar, rastejando-se até a grade, fraca e raquítica. — Como ela está?

- Nada bem. Ela está sendo mantida em suas tarefas, a Rainha não deu permissão para ela visitar você ou sair da torre — o guarda disse com a voz cansada e timbre pesado. — Olha, infelizmente as coisas não estão boas para o seu lado. A acusação de bruxaria está ganhando força.

-  E o Kyogakh? Ele tem que me tirar daqui, estou grávida de um filho dele! Ele não pode me deixar aqui! — a garota agarrou as grades com mãos pálidas e sacudiu-as levemente.

- Desculpa, pequena... O príncipe está ocupado demais com os preparativos do casamento dele — respondeu o guarda, encerrando a conversa.

A ficha de Tanith não havia caído definitivamente. No fundo, ela ainda fantasiava com a chegada de Kyogakh para salvá-la. Mas a realidade era crua e dolorosa; ela sabia que ele não viria. Sabia que agonizaria antes de ser punida, e se arrependeu de não ter escutado sua mãe. Poderiam estar vivendo uma vida melhor que essa. O arrependimento a consumia, pois sua vida seria ceifada junto com a da criança em seu ventre, de uma forma ou de outra.

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