DOCUMENTO 007: A VIDA É UM MERO RELÓGIO

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Em um dos apartamentos do Santuário, Marishi e Haron se sentavam ao redor de uma mesa circular que exibia uma larga imagem holográfica emitida pelo Tahamalen.

Nela, várias figuras formadas por riscos gravados numa pedra pairavam no ar, revelando símbolos que se assemelhavam à forma humana, assim como outros caracteres desconhecidos.

- Nossos historiadores conseguiram concluir seus estudos sobre as civilizações indígenas do Continente Americano de Yuransha. – Disse Haron, apresentando o relatório final daquele estudo a Marishi.

- Achei que não seria possível. Suas obras de arte, embora primitivas, possuem um intenso simbolismo. Como vocês conseguiram entender seus significados? – Marishi perguntou, ainda não compreendendo como os Sacerdotes conseguiram desvendar tal enigma.

- Pelos acontecimentos que definiram suas histórias. Vê estes traçados? – O alto Sacerdote apontou para alguns riscos que lembravam formas humanas. Do lado deles, pequenos traços rústicos intercortados desenhavam estranhas imagens, porém, conhecidas do idioma dos dois Harashis.

- Parecem com nossos antigos ideogramas. – Disse Marishi, sem demonstrar nenhuma surpresa. Haron assentiu com a cabeça.

- São do período posterior às nossas primeiras visitas. São dos povos indígenas da Grande Bacia do Nevada, especialmente do chamado Povo Ute.[1] – Concluiu Haron.

- Nessa época – Continuou o Sacerdote. – seu idioma tornou-se mais complexo, e seus registros foram influenciados por nossas visitas, inclusive a escrita, que, como você percebe, é similar à nossa. – Disse Haron, tocando as imagens no espaço vazio. – Mas quero que você preste atenção nisso aqui.

O Sacerdote fez um movimento com a mão, fazendo surgir outra caverna em que se encontravam imagens parecidas. Porém, aqueles riscos eram bem menos definidos, quase apagados.

- O que eles têm em especial? Dizem alguma coisa? – Perguntou Marishi.

- Na verdade narram uma história. Uma história que nossa Ordem conhece muito bem.

- Você quer dizer que uma narrativa de nossa cultura foi contada a essas tribos primitivas?

- Marishi, você ainda não entendeu. As primeiras imagens que lhe mostrei são posteriores às nossas visitas a esta civilização. Já as últimas, mostram um registro anterior à nossa chegada nesta região do planeta.

- Aonde você quer chegar com isso? – Perguntou Marishi, confuso.

- Estas histórias não foram repassadas a esses povos. Elas estavam lá antes mesmo de nossos enviados chegarem ao planeta. Não sabemos como, mas estes povos de algum modo previram algo que iria acontecer entre nós. Uma profecia...

Ao ouvir aquelas palavras o sereno rosto de Marishi deu lugar a uma visível incredulidade. Haron voltou a insistir.

- Eu sei que é difícil você aceitar isso, mas não fomos nós que repassamos tal história a estes povos, foram eles que nos revelaram uma profecia que nós transformamos em uma lenda.

- Então eles guardam uma profecia... sobre nós?[2]

- Temo que não somente eles, mas outras civilizações compartilhem desse mesmo conhecimento. Afinal, eles não foram os únicos povos que visitamos antigamente, não é?

Aquelas palavras fizeram Marishi atinar para um importante ensinamento da Ordem Harashi.

- De fato... O conhecimento é como a água que podemos usar para saciar nossa sede, mas nunca poderemos segurá-la com as mãos... Devemos levar nossas bocas direto à Fonte. Tentar retê-la, como sempre será inútil... – Disse o Sacerdote, externando seu pensamento.

Harashi - Os Mestres da Luz - Livro 1: A Guerra do PrincípioOnde histórias criam vida. Descubra agora