𝐈𝐥𝐥𝐢𝐜𝐢𝐭 𝐀𝐟𝐟𝐚𝐢𝐫𝐬 | 𝐇.𝐒

ᴘʀᴇғᴀ́ᴄɪᴏ

Quando penso em Harry, eu automaticamente penso em sua mente.

Por mais psicótico que isso soe, me imagino abrindo aquele crânio intelectualmente invejável, na ilusória tentativa de destrinchar o seu cérebro para obter as respostas pelas quais estive me questionando desde o primeiro segundo em que o conheci:

"No que você está pensando?"
"Como está se sentindo?"
"Foi você quem orquestrou o assasinato de sua amada esposa, professor?"

Após ter adentrado o universo obscuro do escritório de Valerie Kavanagh, estaria mentindo para si mesma se dissesse que não estou imersa nas páginas de seus diários secretos. Desde a noite em que os encontrei enfurnados no interior de uma gaveta propositalmente destrancada, posso dizer: dentro de cada diário, sem exceções, há um poço de segredos e confissões que condenaria o culpado de seus traumas em prisão perpétua — se por obra do destino a verdade viesse à tona.

Não sou eu quem levantará os fatos, mas como uma futura escritora voraz me sinto na obrigação de alimentar meu vício curioso com informações que Harry jamais me entregaria por vontade própria. Sinto e vislumbro o caos certeiro quando as verdades nuas e cruas emergirem nessa correnteza de mistérios. Mas, como ser humano, faço o meu papel e continuo a ler, deixando que as palavras de sua falecida esposa atravesse cada víscera do meu corpo e por fim, eu consiga conquistar o veredito desse caso indefinido.

Não sei mais o que esperar pela frente.

Valerie já me entregou tantas vertentes intimistas do início de seu relacionamento com Harry no primeiro capítulo, que temo o que virá em seguida. Os dois eram verdadeiros adoradores do sexo, parecia que o seu casamento girava em torno disso. Havia afeição, sim. Mas por parte de Valerie, esse sentimento puro se mesclava com uma espécie de obsessão e tornava a imagem do amor algo deturpadamente distorcido. Me arrepio a cada parágrafo que leio, assim como me arrepiei no dia em que vi o seu rosto emoldurado no quadro do hall de entrada da casa do lago.

Talvez a quantidade de beleza que a adorada esposa de Harry possuía se igualava perfeitamente à psicose pavorosa enrustida dentro de seu cérebro.

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i see you soon
with love always, B. <3