10. the gabinete

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C H A P T E R    T E N

Harry verificou os quilômetros em seu Apple Watch e sorriu

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Harry verificou os quilômetros em seu Apple Watch e sorriu. As corridas matinais tendiam a ser revigorantes.

Todos os dias, antes do alvorecer, ele saia para correr. Era um hábito que se desencadeou logo após sua esposa desaparecer e o ajudava a clarear a mente e encontrar equilíbrio. Mesmo quando a confirmação da morte de Valerie veio à tona, Styles continuou. Havia algo de extraordinário em repetir isso todas as manhãs. As árvores frondosas da floresta e o aroma de pinho no ar era um deleite para os seus pulmões, ele sentia-se bem consigo mesmo e conseguia encontrar alento nestas horas de solitude. Além do mais, as corridas o tonificaram e o deixaram com o físico de um universitário obcecado em academia. A cada ano que passava, Harry parecia envelhecer como vinho, mesmo tendo somente 30.

Ele recuperou o fôlego enquanto descia a última rua em direção a casa do lago. A nobreza e o silêncio do seu bairro era algo que o fascinava. Os únicos sons existentes eram da correnteza do rio e dos rouxinóis celebrando a virada do sol. Estar acordado antes do resto do mundo despertar era uma sensação de potência máxima, incomparável. Ao virar a esquina, surpreendeu-se com a imagem perambulante de uma de suas vizinhas. Era a senhora Meredith Kennedy, uma artista plástica aposentada que viera da Califórnia junto ao marido, Norman Kennedy. Ambos viviam ali há mais de 30 anos e com exceção de Ella e Joey, eram o segundo casal da vizinhança que não possuíam filhos.

Meses após a morte de Valerie, Meredith foi diagnosticada com um transtorno neuro cognitivo ocasionado pelo mal de Alzheimer, uma doença que já percorria gerações de sua família. Harry lembrou-se do quanto ela sempre foi amável com Valerie no período em que ambos se mudaram para a vizinhança, constantemente enviando cestas de doces ao jovem casal e convites para brunches vespertinos. No entanto, anos se passaram e Styles sequer se recordava dele ou de sua falecida esposa estarem disponíveis para esses encontros. O casal vivia mergulhado em seus trabalhos, cada um em uma rotina distinta e alheios ao mundo social. Construir um império era algo que demandava tempo, mas que no fim das contas nunca o levará a lugar algum se você não souber dosar suas prioridades com sabedoria. No fundo, ele sentia-se culpado por ter dedicado tanto tempo à sua carreira e pouco, aos afetos.

— Bom dia, Mrs. Kennedy. Como posso ajudá-la?

A mulher demorou alguns segundos desconcertantes para reconhecer Harry, encarando-o com um ar desconfiado, fantasmagórico. O mais estranho de tudo é que ela ainda vestia uma longa camisola branca por baixo de um cardigan creme e pantufas nos pés, deixando subentendido que a mesma sequer planejara sair de casa em um horário como aquele. Será que Norman tinha consciência de que sua esposa estava ali? Styles se questionou, preocupando-se com o estado mental da vizinha.

— Oh Harry, querido! — Finalmente, Meredith sorriu — Eu só estava caminhando, respirando ar fresco. Norman ainda está preparando o café e então resolvi dar uma volta — Voltou a olhar para além da casa do lago, como se estivesse à espera de alguém.

𝐈𝐥𝐥𝐢𝐜𝐢𝐭 𝐀𝐟𝐟𝐚𝐢𝐫𝐬 | 𝐇.𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora