Epílogo

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A recepção à delegação patrana que chegava a Marlas foi organizada por Laurent e Damen juntos. Era a primeira vez que Patras enviava um representante desde a unificação de Vere e Akielos há quase quatro anos.

Torveld pareceu bastante desconfortável ao cumprimentar Damen em sua chegada, mas cercados de nobres e com os patranos cansados da viagem, ninguém fez muito mais do que cumprir com as formalidades de hóspede e anfitrião. Jokaste, que havia praticamente acabado de se tornar noiva de Torveld, a única que não demonstrou qualquer tipo de desconforto, mesmo que antes de seu casamento, apenas um mês antes, estivesse terminantemente proibida de entrar em Akielos ou Vere.

Para o segundo dia de visita da delegação patrana eles haviam planejado um pequeno baile. Ancel, o escravo de estimação de Berenger, havia se oferecido para fazer sua apresentação com fogo, e Laurent teve de convencê-lo a dançar sem ascender o fogo, pois Torveld, além da esposa, também havia trazido alguns escravos consigo e dentre eles estava Erasmus, com uma barriga que o príncipe estipulava ser de algo em torno de quatro meses de gravidez. Bastardos eram aceitos em Patras, como em Akielos. Os veretianos ainda estavam aprendendo a tolerar tais costumes, mesmo sem adota-los para si.

Era verão, e embora Marlas não fosse tão quente quanto Ios, Laurent ainda tinha dificuldades em lidar com o calor. Havia dias em que Laurent se rendia as vestimentas akielons por conta do calor, e às vezes o fazia apenas para provocar Damen, que por algum motivo continuava a perder completamente o foco ao vê-lo com as coxas a mostra.

Foi por causa do calor que Laurent recebera Torveld vestido em um quiton branco, com detalhes em dourado e uma capa azul, no primeiro dia. E é claro que o rei veretiano percebeu os olhares discretos de Torveld para suas coxas, embora os tivesse ignorado de forma completamente deliberada, as vezes afastando o cabelo do pescoço e evidenciando a sua marca de acasalamento. Damen por outro lado não soube ser discreto. Sempre que Torveld se aproximava deles dois, o alfa envolvia a cintura ou os ombros de Laurent em um abraço possessivo.

Em parte para evitar que aquilo se repetisse, para as comemorações do segundo dia Laurent havia se vestido com suas roupas veretianas completas.

A noite ainda era quente, porém o calor era suportável. Enquanto andava pelo salão ele não demorou a encontrar Jokaste, ela se destacava entre a delegação patrana. Viu-a conversando com algum nobre, enquanto um garotinho agitado de pele clara, cabelos escuros e cacheados corria a sua volta, com um cavalinho de madeira nas mãos e um grande sorriso no rosto.

Laurent não conheceu Kastor, mas certamente era bastante fácil associar aquele garotinho risonho a Damen. Era difícil de acreditar que alguém capaz de assassinar a própria família havia dado origem a uma criança como aquela.

Ele observou o pequeno Herakles, de cinco anos, correndo enquanto imitava os sons de cavalos. Reparou, quando ele se aproximou mais da luz de uma tocha, que seus cabelos eram levemente mais claros do que os de Damen, e os olhos eram tão escuros que chegavam a se confundir com o negro. O garoto vestia roupas patranas, escuras e bem ajustadas ao seu corpo, sem nenhum ornamento ou qualquer símbolo que o identificasse como um príncipe akielon.

O menino esbarrou em um nobre veretiano, distraído em sua brincadeira. Jokaste imediatamente voltou os olhos para ele, mas seu caminho estava interditado pelo nobre patrano com quem conversava.

Laurent viu a confusão que poderia vir a se desenrolar quando o menino pediu desculpas em sua língua materna e o rosto do homem se contraiu em uma careta de repugnância enquanto a palavra para bastardo soava em veretiano.

A criança não pareceu entender o que foi dito. Jokaste tentou contornar o homem com quem conversava, mas ele se manteve em seu caminho, sem parecer perceber o que acontecia a suas costas. Laurent, que estava a poucos passos de distância, se colocou entre o homem e a criança assim que o viu abrir a boca novamente, possivelmente para ofender o menino.

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