CAPÍTULO 17

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XXX

Grace

Confesso que senti uma súbita adrenalina subir através do meu sangue, me causando uma gostosa sensação assim que meus doces lábios tocaram na boca insalubre daquele garoto. Estava tão entretida com aquela generosa ação, que não me contive e dei tudo de mim para tornar a experiência de Greg (pelo visto a primeira dele) a melhor possível.

Acho que me superei desta vez. Agora, pensando por alto, deve ser a primeira vez que estou fazendo algo tão ousado. Nunca agi tão por impulso como estou fazendo agora e apesar da repercussão escandalosa que isso fará assim que nossos lábios se desgrudarem, estou orgulhosa de estar trazendo algo mais divertido para uma festinha tão parada e chata.

Era o nosso último verão juntos antes de cada um ali trilhar seu caminho rumo a faculdade dos sonhos. Provavelmente muitos de nós nunca mais se veriam e o destino iria se encarregar de que nossas vidas nunca mais se cruzassem outra vez. Essa noite seria uma mera lembrança esquecida nas mentes deles e eu queria deixar esse dia marcado para sempre por eles e, é claro, por mim.

Notei que ele estava gostando, apesar de ouvir um quase inaudível protesto escapulir de sua garganta enquanto nossas línguas estavam dançando umas sobre as outras em uma sintonia incrível. Suas mãos pousaram contra meus ombros, imaginando que ele estava entrando naquela brincadeira, mas não para causar carícias e sim para me afastar abruptamente.

— Vo-você pirou? – gaguejou ele – I-Isso não se faz.

Ele poderia dizer o que fosse, mas ele realmente tinha gostado do nosso beijo. A maior prova estava entre as suas pernas, em uma explícita visão que seus países baixos haviam se erguido para participar da festa. Ele tentou disfarçar cobrindo com a camisa, mas o estrago já havia sido feito.

— Isso foi muito bom. – comentei – Para um novato até que se saiu bem.

Greg não conseguiu mais processar palavras, abrindo sua boca sem sair nada além de um pigarreio inquietante. Ele girou seus olhos castanhos para a menina que estava sentada ao seu lado, quieta durante todo esse tempo. O pânico penetrava a visão de Greg de uma forma que tive que me segurar para não rir.

— Carly... – começou ele, falando baixo.

Eu passei meu dedo indicador pelo canto da minha boca, tirando o excesso de batom que acabou sujando fora dos meus lábios. Foi um gesto bastante sugestivo que só Carly observou, já que ela não conseguiu encarar Greg desde que terminamos o desafio.

— Ele beija bem, amiga. – brinquei – Tirou a sorte grande.

Carly se levantou abruptamente com um rosto tão neutro que não consegui assimilar se era um sorriso ou uma contração de tristeza em seu rosto. Nunca tinha visto ela me olhar tão intensamente como agora, parecendo que iria partir para cima de mim a qualquer momento. Por um instante, eu até cogitei essa possibilidade quando ela cerrou seus punhos.

— Vo-você... – disse ela, tão baixo que quase não ouvi – Você...

Ela saiu rapidamente, tão rápido que ela poderia participar de uma das corridas de atletismo que o nosso colégio realiza a cada final de semestre. Suas pernas finas e compridas dando passadas desajeitadas para fora da clareira e sem ter muita visibilidade sem a iluminação da fogueira, acabou colidindo com algumas pedras ocultas no meio do caminho.

Carly quase caiu de cara no chão, mas se apoiou em um dos troncos. Greg a chamou em vão, pois ela não deu ouvidos as suas lamúrias e se embrenhou no meio da escuridão da mata fechada que nos rodeava. O silêncio se sucedeu por alguns breves segundos de paz antes do inferno cair sobre mim através de duras palavras.

Anoitecer SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora