CAPÍTULO 25

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XXX

Félix

— Mia eu te odeio tanto, mas tanto...

A garota que estava subindo a interminável escadaria de pedras a minha frente apenas virou sua cabeça para trás e deu uma risada presunçosa. Ela retornou a olhar para frente, balançando a cabeça em negação.

— Também te amo, Félix.

Já tinha perdido as contas de quanto tempo nós dois tínhamos gastado em subir essa colina. Minhas panturrilhas estavam queimando e o simples fato de colocar um pé em frente ao outro já me obrigava a querer me jogar contra aqueles degraus.

— A gente não pode dar uma pausa, não? - perguntei, esperançoso.

Mia parou a sua subida e olhou para cima. Uma fina garoa estava caindo do céu, produzindo alguns relâmpagos ao longe. Tinha noção que um assassino estava à espreita, mas considerando o lugar tão distante e inabitado que nos encontrávamos, acho que Mia estava reconsiderando meu pedido.

— Ok, sua banana. - falou ela - Vamos descansar um pouco.

— Finalmente você escutou a voz da razão, né?

— Vou fingir que não ouvi isso. - Mia riu e se sentou alguns degraus de distância de mim - Você nadou pelado! Não tem credibilidade nenhuma para falar isso.

Me sentei na escadaria, que as vezes dava um ziguezague entre a encosta íngreme que estávamos praticamente escalando. Não me importei em sujar minha calça jeans no molhado. Havia coisas mais importantes para se ter em mente do que se preocupar com roupas sujas.

— Eu confesso que não entendo como você aturou ficar nesse lugar por tanto tempo. - falei, limpando as gotas da garoa que caiam em meu rosto - Sério! Olha só essa colina! É quase um Monte Everest.

Ela fez um sorriso fraco e abaixou um pouco a cabeça, sem muito ânimo.

Às vezes eu gostaria de ver o que se passa na cabeça de Mia. Eu conheço ela já faz algum tempo e posso dizer com total convicção que ela não tem passado nada bem ultimamente. Não estou falando do ataque que ela sofreu uma semana atrás, mas bem antes disso.

Tudo pareceu desandar já faz um ano, quando nós saímos desse acampamento assim que a temporada de cuidar de pirralhos havia passado. Ela estava mais distante de nós, principalmente de Grace.

Nunca forcei ela a me contar o que de fato havia acontecido entre elas, pois só de falar sobre a última noite que ficamos aqui, Mia já mudava de humor e de expressão. Rolava certa tensão no ar quando nosso grupo se reunia e apesar de todo esse clima, Grace se mostrou sempre sorridente e cordial.

Cordial até demais.

As coisas pareciam ter voltado ao normal alguns meses atrás. Pensei que elas tivessem se entendido e a amizade inabalável das duas se fortalecido outra vez, mas estava errado. Houve o episódio da briga do refeitório e aquela troca de insultos na frente de toda a escola. Até hoje, Mia e Grace nunca sequer tocaram no assunto.

Tinha uma aura de estranheza que Mia sempre emanava quando estava triste. Ela se fechava em seu próprio mundinho e ficava ali. Calada e solitária. Isso não era bom para ninguém e diante de tudo o que nós e o resto do pessoal estávamos passando, ficar nesse clima depressivo não iria nos ajudar em nada.

— Mia? - chamei - Você tá legal?

— Bem... tem um assassino atrás da gente, então...

Revirei os olhos:

Anoitecer SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora