CAPÍTULO 28

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XXX

Greg

Trinta minutos atrás

Confesso que naquele instante eu não teria a menor chance de enfrentar Joe e o Homem do Machado.

Estava escondido atrás de um sofá com uma mulher tão desesperada quanto eu, carregando uma espingarda sem munição e com apenas a vontade de permanecer vivos em nossos corações. Era suicídio querer sair de onde estávamos. Não tínhamos muito o que fazer depois que o velhote sumiu noite a dentro, restando apenas seu cumplice mascarado na soleira de uma janela estilhaçada.

Meu coração estava batendo com força como se não houvesse amanhã, tão acelerado que achava que teria um mini infarto. As peças estavam começando a se encaixar agora e por mais que visse apenas uma parte do verdadeiro plano desse massacre, estava entendendo o que estava acontecendo em Recanto Feliz.

Foi tudo estrategicamente colocado para parecer que foi uma carnificina programada apenas pelo ensandecido homem por trás de um capacete de futebol americano. Joe havia dado brecha para esse estranho ser se infiltrar na floresta e chegar até onde chegou. Ele estava colaborando com tudo isso e até ajudando a matar outras pessoas. 

O casalzinho que ele havia dito antes só me fez ficar ainda mais preocupado com Mia e Félix naquele Mirante, mas por mais que quisesse ajudá-los eu não estava numa situação muito favorável para sair de onde estava agora.

A grande questão agora era o que fazer?

Enquanto ele passava pelo salão de modo tranquilo, passando perto demais dos sofás de couro escondidos pela penumbra parcial da Sede, minha mente estava fervilhando com ideias mirabolantes para fugir dali.

Não tínhamos muito o que fazer se saíssemos. A área toda estava minada com cacos de vidro e por mais que tentássemos sair pela janela estilhaçada, havia o problema de provocar um barulho acidental o suficiente para chamar atenção do nosso inimigo. E mesmo que conseguíssemos sair, havia Joe perambulando o acampamento do lado de fora.

Minhas rotas de fuga estavam começando a ficar escassas e acabei me desanimando. Leslie tocou meu ombro bom, me chamando a atenção. Estávamos deitados ao lado um do outro, escorados de um jeito desconfortável entre o sofá e a parede. A pouca luz que caia em nós, me fez focar em seus olhos chorosos e que transmitiam uma súbita esperança risível em meio a toda aquela situação.

— Vamos ficar bem. - cochichou ela - Ficaremos aqui até ele ir embora.

Eu engoli em seco, bastante nervoso.

— Tá legal.

Era engraçado pensar que eu estava no lugar dos personagens que sempre detestei em filmes e livros de terror. Achava tão patético a forma como eles fugiam e se safavam dos assassinos, mas vendo agora que na vida real ninguém é imortal e que sua vida pode acabar com um mero corte na garganta, passei a entender exatamente o sentimento que eles passam nessas horas.

Viver na pele o que eles passam me fez ver como é horrível ser caçado como um animal por outras pessoas que só querem ter o prazer sádico de ver o último suspiro de suas vítimas. Era bizarro pensar que esse tipo de pessoa existe na vida real e que ela pode estar mais perto que você imagina.

Esse tipo de coisa ficava ainda mais esquisita quando você mora em um condado famoso por seus crimes hediondos. Era quase impossível não associar Green Black com a onda de assassinatos e desaparecimentos estranhos dessa região. Parece que os serial killers tinham uma tara nesse lugar e achavam que poderiam fazer o que bem entendessem aqui.

Anoitecer SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora