XXX
Greg
As informações sobre essa última noite foram despejadas sobre os meus ouvidos conforme o efeito dos remédios me deixava entorpecido naquela maca.
Pelo rádio da ambulância consegui ouvir o que um dos repórteres das redondezas falava com extremo pesar sobre o caos de Green Black. Cada detalhe que ele forneceu para mim me deixava com certa inquietação:
— "Fontes oficiais confirmam que chega a 567 o número de vítimas em Green Black, havendo ainda mais 34 pessoas desaparecidas. Prosseguem as investigações sobre a correlação entre esse evento, agora chamado como o Grande Incêndio de Green Black com o massacre descoberto está manhã no acampamento Recanto Feliz. O condado decretou estado de calamidade pública e informa oficialmente pedidos de apoio aos outros estados para auxiliar o máximo possível as duas tragédias".
Olhei para o lado vagarosamente. Estava muito sonolento e acho que a garota de cabelos azulados que estava sentada próximo de mim, tirando um merecido cochilo com uma manta térmica cobrindo seu corpo magrelo e ferido, claramente compartilhava o mesmo estado de espirito que o meu.
Mia havia me dado um grande susto alguns instantes atrás.
X
Após ter ouvido aquela estranha canção ser sussurrada dentro do meu cérebro, ela havia sumido de vista. Os oficiais acabaram tendo uma nova missão nas mãos assim que comecei a berrar para que eles encontrassem ela, começando a averiguar todos os cantos daquele lugar infestado de cadáveres e sangue.
Queria poder ajuda-los nas buscas, mas meu corpo já não conseguia mais ficar em pé sem que uma dor excruciante se instalasse nos meus nervos e me obrigasse a desabar de volta ao chão. Estava impotente e tudo o que me restava era esperar que encontrassem ela.
De repente, imaginei Aquilo que Cresce entrando na cabeça de Mia e induzindo ela a se afastar, levando ela até a floresta e matando. Carter me contou que Carly, antes de morrer, já não parecia ser mais ela mesma. Era como se algo a possuísse e a obrigasse a tentar matar Carter, só não fazendo isso por causa do golpe fatal e defensivo que ele deu nela.
Fiquei imaginando algo parecido em Mia. Ela passou por muita coisa em uma única noite. Ela poderia muito bem ser influenciada a fazer algo que não queira. Isso só me deixou ainda mais ansioso em partir desse lugar. Quanto mais tempo eu ficava nesse lugar, mais eu tinha certeza que eu seria o próximo a cair nas mãos daquela entidade.
— Onde você está, Mia? – falei, quase chorando – Onde?
O que para mim pareceu ser uma eternidade, para os policiais não demorou mais que alguns minutos. Mia estava retornando para a ambulância nos braços de um dos oficiais, a colocando com todo o cuidado nos bancos do automóvel. Os enfermeiros começaram a averiguar os batimentos dela e a atual situação dela, vendo que a temperatura dela havia caído muito de uma hora para a outra.
— Provavelmente ela está com hipotermia. – revelou a enfermeira, passando suas mãos na testa gélida da garota – Rápido, me dê um cobertor para ela! Precisamos ir logo para o hospital.
A regata molhada de Mia foi tirada de seu corpo e substituída por uma camisola grande branca. Um cobertor a envolveu na parte de cima enquanto o enfermeiro barbudo (Jack Castle segundo o crachá que balançava em seu pescoço) enfaixava mais a perna dela e avaliava os pontos abertos de seu ombro com uma expressão preocupante.
— Mia? – falei – Consegue me ouvir?
Ela girou seus olhos para mim. Havia um pequeno brilho estranho em suas pupilas que logo se dissiparam. Não sei se aquilo era reflexo das luzes das viaturas ou de outra coisa, mas ver aquele brilho me deixou em alerta. Eu sabia que tinha algo de errado acontecendo.
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Anoitecer Sangrento
HorrorSangue, tripas e maldições. É isso que reserva para todos que pisarem no Acampamento Recanto Feliz. Um lar para as crianças e monitores de plantão durante o dia, um matadouro durante a noite. Quando Mia Spencer é ceifada por um mascarado serial kil...