CAPÍTULO 44

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XXX

Greg

Parecia que o céu iria se partir e desmoronar sobre as nossas cabeças.

Talvez fosse o efeito dos remédios ou talvez fosse simplesmente a hemorragia que se alastrava dentro de mim, me deixando com alucinações, mas seja lá o que fosse, o que estava acima de nós não era algo natural.

A tempestade estava girando suas nuvens negras sobre o acampamento. Clarões amarelados e esbranquiçados deixavam o cenário ainda mais assustador de se ver. Os leves tremores dos estalos de relâmpagos anunciavam a chegada de algo mais brutal do que já foi despejado naquela noite.

— O tempo está acabando. – falei, sem pensar – Ela está vindo.

— O quê?

Nem eu mesmo sei o que tinha acabado de dizer. Era como se algo tivesse se apossado da minha voz e me obrigado a movimentar minha boca para falar aquilo.

Isso foi algo tão natural, que por um momento pensei que tivesse sido eu que tinha pensado em falar isso, mas na verdade não foi.

Abanei a cabeça para ela. Estava suando frio.

— Não foi nada. Eu acho que foi coisa da minha cabeça.

Mia não pareceu acreditar muito nisso, mas não ousou se pronunciar. Conforme meu corpo se esforçava a caminhar, comecei a ver a silhueta de um chalé menor que o dos dormitórios surgir entre as árvores. Os relâmpagos ajudaram a enxergar com mais nitidez seu telhado íngreme e cheio de heras.

Começamos a andar em uma área mais plana do que a habitual encosta do lago nos obrigava a prosseguir em frente. Um pequeno deque poderia ser visto na margem mais próxima, praticamente coberta pela vegetação e pelos galhos.

O depósito não parecia ser muito visitado pelos monitores ou pelo próprio Victor. Suas tábuas pareciam velhas e desgastadas e a maioria das ervas daninhas que subiam pela fachada camuflavam as paredes externas e uma das janelas estreitas.

— Tem certeza que ficaremos bem aqui? – perguntei.

— Não. – falou ela, sem hesitar – Mas por enquanto ele servirá de abrigo da chuva. Vamos, eu te ajudo a subir as escadas.

O chalé ficava suspenso por palafitas, grandes vigas de madeira que erguiam a construção acima do solo. Mia me contou durante o trajeto até aqui que no inverno, o lago costuma ter uma maior vazão e alagar bastante nessa área. Por essa razão, esse chalé foi desativado e usado mais como depósito de tralhas ao longo dos anos.

Subir os dezoito degraus da escadaria não foi uma tarefa fácil, mas Mia jamais deixou de me incentivar e me emprestar as suas mãos para que pudesse chegar a varanda caindo aos pedaços do lugar.

Daqui de cima, pude respirar um pouco e ver a bela paisagem que o depósito guardava consigo. O Lago Lamery se estendia até onde a vista alcançasse até terminar abruptamente entre os rochedos do penhasco que se erguia entre as colinas que formavam a margem dessa área. Daqui era possível ver as pontiagudas cordilheiras da serra que usamos para vir para cá.

"Um lugar tão isolado... perfeito para assassinar um bando de adolescentes".

— Acho que não fomos os únicos a ter a brilhante ideia de se esconder aqui. – falou Mia, escancarando a porta – Greg, vem ver isso.

Caminhei até a entrada da porta e visualizei o que parecia ser um chalé em perfeito estado de uso. Apesar da sujeira e poeira impregnados em todos os cantos, era visível ver que alguém esteve aqui antes.

Anoitecer SangrentoOnde histórias criam vida. Descubra agora