Anoitecer Sangrento

CAPÍTULO 18

XXX

Greg

Grace me olhou como se eu fosse louco:

— Você enlouqueceu? É impossível que aquele cara esteja aqui.

Os trovões retumbaram acima das copas das árvores, verdadeiros estouros nos céus que me fizeram temer por estar em um lugar tão propício para ser abatido por um machado. Tentei me levantar, mas a dor era excruciante e me fez cerrar os meus dentes com força para não soltar um grito bastante desesperador.

— Ele foi atingido por um machado, Grace! – protestou Mia – Eu reconheço esse tipo de ferimento melhor do que qualquer um de vocês. Precisamos levá-lo para Leslie. AGORA!

— Desligue a luz. – falei – Ele vai nos ver.

Félix soltou um palavrão baixinho, desligando a lanterna e colocando seu celular no bolso de sua calça para me ajudar a ficar de pé. O torniquete que Mia fez havia dado certo, o sangramento havia estancado e toda aquele rio carmim que fluía descontroladamente pelo meu braço havia finalmente terminado. O pavor de morrer enquanto perdia todo meu sangue logo sumiu das minhas entranhas.

Um grito feminino ecoou na floresta, fazendo Grace cobrir sua boca para conter seu berro esganiçado na sua garganta. Seu semblante estava tão apavorado que mesmo na penumbra dava para ver seus olhos saltados de tanto pavor.

— A Carly! – avisei, nervoso – A Carly está com ele! Vocês precisam salva-la!

Notei Carter e Mia trocaram olhares conspiratórios. Eles já temiam o pior e antes que eles me dissessem que Carly não estaria mais com vida, eu me adiantei, quase berrando:

— Ela estava viva quando vi ela correr mata a dentro. – eu apontei mais ou menos aonde ela havia corrido – Ela foi por ali! Vocês precisam salvar ela antes que aquele idiota a...

Não ousei dizer "mate". A última coisa que queria que minha mente ousasse pensar era na morte da única pessoa que realmente foi legal comigo nesse lugar. Carly e eu tínhamos tudo para iniciarmos uma boa relação, talvez até amorosa, mas agora isso estava em risco com um maníaco por aí.

Carter e Félix me ajudaram a ficar de pé. Por sorte, minhas pernas estavam intactas e isso era bom caso eu precisasse correr por minha vida. No instante seguinte eu me censurei ao pensar uma coisa dessas, mas no fundo aquilo tinha razão. O primeiro vislumbre de um novo massacre em Recanto Feliz estava dando as caras naquele momento.

Me venho em mente o que Joe havia me contado naquela tarde com Carly. O passado desse lugar, manchado de sangue e de histórias assustadoras. Parecia que um novo ciclo de mortes estava brotando nessas terras, querendo uma nova safra de corpos para abastecerem a má reputação que esse lugar ganhou ao longo dos anos.

— Calma, Greg. – falou Carter – Mia tem razão, você precisa ser medicado. Eu vou tentar achar Carly, o resto de vocês volte para o acampamento e chamem por ajuda.

Grace entrou em modo pânico:

— O quê? Você quer mesmo se arriscar indo atrás dela? A essa altura ela já deve estar morta.

Mia a olhou de um modo tão intenso que pensei que raios lasers iriam soltar de suas pupilas e pulverizar Grace em uma pilha patética de cinzas. Algo havia mudado entre as duas, dava para sentir isso no ar assim como as primeiras gotas do temporal acertando meu couro cabeludo.

— Como você pode dizer uma coisa dessas? – exclamou Mia – Carly acabou de implorar por ajuda.

— Eu preciso ir. – falou Carter – Eu sou o mais alto e mais forte aqui, posso dar cabo desse otário fácil, fácil.