Se a falta de odor não o enlouquecesse. O choro incessante de James, certamente o faria.
Já passava das dez horas da manhã e nada do que Samuel tinha programado se concretizou.
Darla, a mulher ômega que o ajudou no dia anterior, não podia ser encontrada em lugar algum do escritório. E com o choro prolongado de James, as reuniões do período da manhã foram canceladas.
O menino, desde o momento em que acordou e não encontrou a mulher para o acolher com braços acalentadores e o principal, seios cheios de leite, fez com que o filhote tivesse uma crise de choro pior do que Samuel estava acostumado.
Nada podia acalmar o pequeno, que se agarrou aos seus cobertores e com suas mãos pequenas levaram o tecido ao rosto, Samuel acredita que em busca do cheiro da mulher.
As coisas mais simples foram feitas com sofreguidão absoluta. Ele gritou, esperneou, a birra foi tão grande que deixou o Alfa em alerta e com uma tremenda dor de cabeça.
O mais preocupante para o pai desesperado aconteceu quando o pequeno bebê simplesmente recusou a alimentação em fórmula.
Normalmente o bebê chora e esperneia, mas ao menos tenta comer o que lhe é oferecido. Naquela manhã, nada podia ser feito.
A criança estava irredutível em sua negação. O que, de certo modo, era admirável, pois James é um bebê e em tão pouca idade já mostra fibra moral em manter decisões. Por outro lado, foi extremamente desgastante e preocupante.
Alphex já estava bagunçando seu sistema biológico inteiro. Todavia, não chegava nem perto de James Hux mostrando a todos a força de seus pulmões.
Samuel fez o possível para acelerar sua ida para o escritório, em sua ingenuidade, nem sequer cogitou chamar pelo serviço de babá, tentando mais uma vez conseguir alguém para cuidar de seu menino.
Sua mente estava focada em encontrar Darla.
E ele sabe que a pequena ruiva vai ajudar.
Dessa vez não existe em sua mente uma voz instintiva o comandando a agir, foi o puro desespero da situação inusitada que o colocou em ação.
Em certo momento, o bebê até chegou a dormir pelo cansaço de sua birra estrondosa. Mas esse cansaço não durou muito, Samuel mal estava dentro de seu escritório quando o menino mais uma vez acordou e seus olhos castanhos vasculharam seu arredor em busca dela.
Quando não encontrou Darla, o pequeno voltou a mostrar o quanto podia chorar até enlouquecer quem estava perto.
Samuel não tem vergonha de admitir que gritou com o escritório inteiro em busca de Darla. Sua secretária, uma mulher de descendência oriental beta chamada Elize, chegou a chorar e literalmente correr pelos andares em busca do ômega.
Foi humilhante e Samuel sabe que terá que comprar algo caro para suprir seu descontrole com a jovem mulher. Elize estava na função de secretária há alguns anos e ele valorizava o seu trabalho árduo. Existiram poucas vezes em que ele se descontrolou ao ponto de gritar com ela.
Mais tarde ele se arrependeria do fato, a pobre beta não tinha nada com seus problemas, e não merece ser tratada assim. Mas o Alfa não pode se controlar.
Logo uma hora se passou e nada de Darla Brendon aparecer. Elize também não estava em seu posto, o que indicava que a mulher ainda estava procurando a funcionária.
Sua reunião tinha começado sem ele, e Anthony Clifford, assumiu a liderança do balanço semestral, dirigindo os diretores e gerentes com punho de ferro. Foi humilhante deixar outro Alfa assumir uma posição que era dele.
Anthony é seu superior, hierarquicamente falando, mas é um convidado durante toda a semana de balanço. E não deveria assumir as reuniões, apenas supervisionar e orientar. Gerir sem assumir.
Samuel sabe que tem muita sorte pelo Alfa mal-humorado, ser seu amigo. Ou sua posição na direção desta filial leste da Exclusive Ordem seria comprometida.
Algumas funcionárias de seu setor chegaram a se aproximar e tentar consolar o bebê que estava agarrado nos braços de seu pai. Mas o filhote recusa a largá-lo, fechando seus punhos minúsculos no terno do pai e chorando ainda mais com a aproximação das mulheres Betas.
Foi impossível manter os rosnados longe de sua voz, enquanto ninava seu filhote nos braços e o acalentava até que Darla aparecesse.
Em certo momento, Samuel já não suportava os olhares de dó de ninguém, e expulsou os curiosos de seu escritório, forçando todos a voltar ao trabalho. Ficar sozinho com James, mesmo o bebê ainda se mostrando inconsolável, é preferível do que ter pessoas que não estavam de todo bem intencionadas, xeretando seu assunto.
Quando a segunda hora veio e passou, Elize finalmente voltou de sua caçada e com os olhos arregalados e mãos tremendo ao tentar controlar seu nervosismo, a moça deu a pior notícia para o Alfa.
Primeiro sua secretária respondeu o quanto procurou, invadindo todos os andares em busca da mulher, perguntando para funcionários e indo até o setor de limpeza e manutenção para conversar com a supervisora geral. Quando ninguém sabia nada sobre a ruiva, Elize foi até o andar de recursos humanos e descobriu que Darlan Brendon teve sua posição desligada na noite anterior.
A situação não desceu bem em Samuel que mesmo sem seus instintos Alfa funcionando direito, ainda pode rosnar de raiva e se sentir inflamando de dentro para fora.
Ele teria a cabeça de alguém. Algum irresponsável venenoso pagaria por essa decisão estúpida.
O homem até sentiu seus membros congelando de uma raiva intensa e viciosa.
"Escute Elize, eu preciso que você encontre a Senhorita Brendon. Que espere pela chegada dela e a traga imediatamente para o meu escritório. E se conseguir, descubra quem pediu e assinou a rescisão da mulher." Ele a comandou ao se lançar para frente até sua mesa e se apoiar nela com os braços abertos no mogno escuro. Desta vez Samuel, pelo menos, conseguiu controlar o pior de seu temperamento explosivo.
James estava acordado em seu carrinho de bebê, deitado no ninho torto que seu pai tentou imitar do ninho perfeito que Darla fez no dia anterior.
Samuel supôs que o bebê também estava cansado de chorar tão fervorosamente, se recolhendo a choramingar e fungar em sua desolação.
Por um instante ele cogitou fazer uma nova mamadeira de fórmula e tentar mais uma vez alimentar o filhote. Todavia, não chegou a realizar o ato quando pensou no escândalo que uma nova tentativa poderia arrancar do bebê.
Logo os segundos admirando seu bebê transformaram-se em minutos, e quase uma meia-hora depois o Alfa mais uma vez encontrava-se com o pequeno filhote em seus braços tentando consolar o menino choroso.
Mesmo sem seu senso de cheiro, o Alfa ainda pode sentir um arranhar constante no fundo de seu ser, algo que ele não quis controlar e que lutava para se levantar.
No instante em que o homem ergueu seus olhos para o horizonte, onde uma infinidade de prédios comerciais se estendiam, ele escutou a porta de sua sala abrir e logo, mas ainda sem sentir o cheiro, um arrepio atravessou sua coluna enquanto um resquício do que ficou de seus instintos o comandou a virar e olhar.
"Senhor Hux, consegui interceptar a Senhorita Brendon." Sua secretária falou e logo abriu espaço para Darla entrar no ambiente.
Os olhos do Alfa correram para encontrar a pequena mulher ômega que agora estava dentro de seu escritório.
"Obrigada Elize, não permita que ninguém nos perturbe até receber minha autorização." Ele falou ainda com seus olhos presos na mulher a sua frente.
Darla Brendon estava em pé, com seu rosto escarlate e olhos arregalados. Seu cabelo solto em volta de seus ombros estreitos eram um emaranhado de cachos grossos e pesados, o vermelho tão intenso que era quase incandescente. O que acentuada as abundantes sardas em sua pele de pêssego.
O vestido modesto dela, era um modelo antigo e fora de moda que cobriam seus joelhos. E um agasalho de tricô a mantinha aquecida e coberta, os botões grandes e a modelagem larga lembravam muito um casaco masculino, mas, em seu corpo a roupa ficou graciosa.
E isso o levou a pensar que Darla ficaria linda vestindo as roupas dele. Por ser mais alto e largo que ela, as roupas engoliriam seu corpo feminino.
Entretanto, a atenção do Alfa ficou pouco tempo nisso, pois seus olhos foram presos no que Darla mantinha em seus braços.
A bebê rechonchuda e atenta, mantinha seus incríveis olhos azuis presos em tudo ao seu redor. A pequena estava vestindo um vestido amarelo que acentuada o tufo de cabelo ruivo em sua cabeça.
E esse foi o momento em que Samuel mais se arrependeu de sua decisão de tomar o Alphex.
A filha de Darla era preciosa, igual a um sol no início da manhã, quando o amanhecer queima o céu e tudo se torna cor e vida.
A bebê deve ter um cheiro ótimo. Já que sua mãe certamente a perfuma constantemente, e o homem sabe em primeira mão o quão bem a mulher ômega pode cheirar.
É estranho como ambos ficam paralisados, os dois com bebês em seus braços e olhares arregalados.
Ômega... Ele quase jurou poder ouvir a voz de seus instintos rosnar e se levantar da prisão hormonal em que ele se aprisionou.
Vergonhosamente sentiu-se um grande tolo por encontrar tanto alívio no simples ato de colocar seus olhos na mulher ruiva, mais uma vez.
"Senhor Hux, você pediu para me ver?" Darla pergunta ao passar sua filha de um braço para o outro e morder seu lábio inferior.
Sua voz suave foi a única coisa capaz de o fazer acordar do estupor em que se colocou. E com passos largos ele caminhou em direção a mulher. James bem preso em seus braços, mas agora silencioso e atento. Seu rosto pequeno rosado e molhado das lágrimas.
O bebê estava com as costas da mão direita presa em seus lábios, vagarosamente chupando sua pele delicada, mas com a proximidade de seu pai para a mulher ruiva, assim que colocou seus olhos nela o menino voltou a se agitar esticando os braços e usando as pernas como alavanca para se lançar e alcançar o ômega.
E logo mais uma rodada de choramingo triste escapa de seu menino.
O bebê era tudo menos calmo agora que viu a pessoa que procurou desde o momento em que abriu seus olhos.
Darla começou a ofegante assim que olhou para o menino, suas pupilas estavam explodindo em largura. Tornando o castanho de seus olhos quase pretos.
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Ajuda Inesperada
RomanceDistopia A/B/O "O sonho de Samuel Hux sempre foi ser pai. E com a realização de seu desejo ele descobre que a paternidade não é tão simples. Sua designação Alfa o comanda para prover, proteger e cuidar de seu bebê. E é frustrante descobrir que ele e...