O dia de Samuel foi bastante inusitado.
Agora, no final do dia, com o sol se pondo no horizonte e já em casa com seu filhote. Samuel consegue aproveitar o simples prazer do silêncio.
James estava adormecido em seu berço, muito bêbado de leite para permanecer acordado, como era o usual para o pequeno filhote e sem emitir nenhum sinal de desconforto.
Todo o dia foi muito diferente do que o homem tinha previsto. Nada em seu planejamento foi cumprido e, quando tudo pareceu que daria errado e que esse certamente se tornaria um dos piores dias para pai e filho, um anjo apareceu e suas orações implorando por um milagre foram ouvidas pelo Deus Alfa.
Agora, James aproveitou o sono de seu bebê para iniciar uma chamada de vídeo com um médico que costuma atender as necessidades designais de Samuel.
Seus instintos Alfa ainda não estão em ordem e nem abaixaram para algo normal. Para o homem a questão se tornou preocupante já que permanecer tanto tempo com sua biologia brigando com a razão se tornou além de um desconforto no corpo.
Samuel chegou a temer entrar em uma rotina e ele sente que se continuar com seus instintos tão aflorados e dominantes, que esse é o destino que o aguarda.
Cair em uma rotina não é o indicado no momento. Ele não está perto de uma ainda, faltam alguns meses para que o desastre de uma rotina se estabeleça em seu corpo.
Foi por isso que o homem decidiu ligar para o seu médico de designação. Segurando no peito, a ideia de evitar esse desastre de acontecer é excêncial.
Samuel teve que esperar para estabelecer James em seu berço e quarto, para enfim descer em seu escritório e fazer a temida ligação, requerendo um atendimento de emergência.
Agora, ao estar longe do bebê e especialmente longe de Darla, ele não se preocupava em segurar os seus instintos mais ameaçadores.
Foi frustrante estar afastado do Ômega, sua biologia o comanda a procurar por Darla. Encontrar o Ômega e trazê-la para o seu lar.
Devo proteger o ômega, cuidar do Ômega...onde ela está?
Os rosnados explodiam de seu peito e lábios. Suas glândulas coçavam para alcançar a mulher, caçar a mulher.
Sim, caçar parecia uma boa ideia. O Alfa a encontraria, não importa onde ela estivesse, pois seu cheiro doce seria facilmente seguido e encontrado, e em um pior cenário onde ele não conseguisse, obrigaria alguém da Exclusive Ordem a lhe entregar o endereço do ômega.
A mulher pode estar em perigo. E se outro Alfa sentisse seu perfume ômega. Alguém pode encontrá-la primeiro. Darla é pequena e delicada. Seus braços suaves não conseguirão afastar um Alfa desonesto.
Muito delicada, muito doce...meu Ômega...está sozinha, com seu filhote nos braços...
Em segundos a raiva que Samuel sentiu transformou-se em um medo paralisante. Seus membros logo enrijecem em uma antecipação fria.
O homem tem que passar as mãos pelo cabelo, arrastando os dedos e unhas pelo couro cabeludo e apertando seus fios normalmente arrumados em uma tentativa pobre de controle.
Os instintos do Alfa o instigam a levantar-se e ir atrás de Darla. E em sua imaginação, quando a ruiva e sua menina estivessem em seu apartamento, logo ambas estarão seguras.
"Samuel, você tem que falar comigo!" Uma voz foi ouvida de seu notebook. O que acabou despertando o Alfa de seus pensamentos obsessivos.
Samuel ainda levou alguns instantes para se orientar e no momento em que olhou para a tela de seu notebook, voltou a perceber estar em uma chamada de vídeo com o médico responsável por cuidados e prognósticos dentro da designação Alfa.
O Doutor Thomas Daves Terceiro, não era grisalho e enrugado como se espera, mas sim jovem igual a Samuel, talvez eles tivessem idades semelhantes. O homem moreno também é um nascido Alfa. Seu pai Thomas Daves Segundo, foi um renomado doutor responsável por decifrar muito sobre a designação Alfa, escreveu muitos livros e artigos científicos sobre os instintos e os supressores. Durante muitos anos foi responsável pelo atendimento da família Hux, de seus pais e do próprio Samuel.
No passado e em raras ocasiões, os garotos chegaram a brincar juntos algumas vezes.
Hoje, já aposentado, deixou seu consultório para o filho mais velho, que também se especializou no mesmo nicho de atuação do pai. Por isso, Samuel continua seu atendimento com essa família, que o atendeu a vários anos e eram os responsáveis por cuidar dos inibidores e supressores que Samuel usava em seu dia a dia.
E quando o momento certo chegasse, até James seria atendido pelo médico.
"Bom ter sua atenção mais uma vez. Agora, me diga exatamente o que se passa em sua mente. Em que você estava pensando agora há pouco?" O médico parecia mais atendo em Samuel. Mesmo que sua expressão se mantenha estoica e profissional.
Amarrar seus pensamentos na atividade presente, deixando de lado toda a paranoia Alfa, foi mais difícil do que parecia. E mesmo centrando seus pensamentos, os rosnados irritados continuavam a explodir por seus lábios.
Estar assim não foi apenas doloroso, mas incrivelmente constrangedor.
"Estou uma bagunça, Tom. Tudo em mim me diz para ir atrás da mulher, o desejo de caçar o ômega e trazê-la para minha casa é devastador. E esses malditos rosnados e ronronados não param, pareço um cachorro com raiva." Samuel explode em uma explicação ainda mais raivoso.
Rosnar para o médico com certeza não é a melhor opção, porém apenas a visão do jovem doutor inspira um instinto de rivalidade.
"Não consigo me livrar do cheiro do ômega, uma parte de mim não quer perder o perfume dela. Nem tomar banho consigo com medo de que o cheiro vá embora. Também não tirei as roupas de James, não quero que o filhote perca os feromônios dela." Samuel desabafa em seu relato cada vez mais agitado. Lembrar do cheiro doce faz seu sangue queimar veloz nas veias. Um calor opressivo navega em seus ossos.
"Vejo que você também está com coceira nas glândulas." O doutor aponta sua sentença de modo nada discreto. "Há quanto tempo começou, e em quais glândulas você sente um maior incômodo?"
Samuel demora a perceber que está coçando seu pescoço, porém suas mãos estão lá no exato lugar onde suas glândulas de acasalamento estão localizadas.
A glândula, normalmente escondida e esquecida, agora está elevada e quente. O Alfa não precisa ver a pele para saber que deve estar rosada, com uma estranha aparência inflamada.
Ele sente o pulsar da coisa irritante, e se ele mandar sua mente refazer uma busca por seu corpo vai perceber que o pior é que essa não é a única glândula que o incomoda.
"Parece loucura, mas começou no instante em que a mulher abriu seu uniforme e captei o primeiro cheiro de seu leite materno. O perfume dela é forte e tão quente e doce, como o mel mais raro e caro." Samuel responde ainda mantendo o nome de Darla em segredo, para um contesto real, o homem brevemente contou o que aconteceu mais cedo em seu dia, a e situação inusitada em que ambos, alfa e ômega foram expostos. Thomas Daves Terceiro, ou apenas Tom, como prefere ser chamado, é seu médico, todavia ainda é um Alfa solteiro e sem companheira. Vergonhosamente, Samuel não pode deixar de pensar no outro homem como um rival em potencial.
E não está em seus instintos Alfa a permissão para expor seu Ômega.
Minha, não dele. Nem de ninguém...proteger o ômega, tenho que proteger o ômega.
Encontrar Darla estava se tornando um desejo insano e tão primordialmente entranhado que outra explosão de rosnados raivosos escapou de seus lábios. Agora, todos dirigidos para o doutor que ainda o encarava com atenção.
"O cheiro de seu leite me fez ter uma ereção. Fiquei duro no meu escritório, Tom, no meio do expediente com meu filho a poucos metros. E aqueles barulhos manhosos que ela fazia para acalmar James? Vou entrar em rotina, sei disso. A coceira está em todas as glândulas..."
"Todas as glândulas?" O médico o interrompe com uma expressão confusa.
"Sim, nelas todas. Isso não é normal?" Samuel decide perguntar ao focar mais uma vez na chamada de vídeo.
Tom não parece estranho, talvez um pouco surpreso já que seus olhos castanhos mostram curiosidade. Esperar pela resposta agita Samuel, ele não demora em fechar seus punhos de modo apertado, quase sentindo suas unhas cortando a pele.
"Existem graus diferentes na coceira? Você chega a sentir certa queimação ou um pulsar?" Tom evita a sua pergunta o questionando mais sobre o assunto.
O homem não precisa pensar muito para encontrar a resposta.
"Sim, minhas glândulas do pescoço e virilha são as mais doloridas, além da coceira também sinto um pulsar e essa sensação de queimar." O Alfa responde ao encarar o outro, sua voz fica grossa. E é impossível manter o comando alfa longe das palavras. "Me explica o que está acontecendo!"
Um rosnado forte foi ouvido do outro lado da chamada de vídeo. Tom mantém uma expressão azeda ao encarar Samuel.
"Você sabe que não é uma boa ideia tentar comandar outro Alfa, Samuel. Tem sorte de eu ser médico e manter um juramento para salvar vidas e não ferir, e que estamos em uma vídeo chamada. " O outro Alfa rosna para ele de modo mais contido e baixo, porém o barulho já remete a um alerta de cuidado. "Agora, me diga, você nota algo estranha em sua saliva? Talvez na audição?"
Por dentro, o Alfa sente vergonha pelo que fez. Tom está certo, comandar outro Alfa é quase um pedido aberto para briga. Além de ser considerado um ato bastante mal-educado.
Entretanto, é sua biologia estúpida no comando e não existe muita coisa a fazer. Por isso, Samuel decide se concentrar em responder às perguntas feitas, tentando não se envergonhar mais uma vez.
São detalhes aleatórios para se concentrar, mas, de alguma forma, devem fazer sentido para o médico.
Voltando-se para dentro, o homem começa o pensar no que foi perguntado e ele não tinha notado essas coisas tão específicas antes, mas agora que Tom falou, essas pequenas mudanças são perceptíveis.
"Sinto minha saliva mais grossa e amarga, minha audição parece mais potente,
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Ajuda Inesperada
RomansDistopia A/B/O "O sonho de Samuel Hux sempre foi ser pai. E com a realização de seu desejo ele descobre que a paternidade não é tão simples. Sua designação Alfa o comanda para prover, proteger e cuidar de seu bebê. E é frustrante descobrir que ele e...