"Foda-se! Esse é o único jeito?" Samuel questiona para o seu reflexo no espelho. A coisa toda parece um pesadelo.
Mais cedo, antes de chegar ao seu banheiro, o homem caminhou até o quarto de James e entrou no ambiente.
Tentou ser o mais silencioso ao chegar perto do bebê adormecido. Agitar seu filho é uma péssima ideia. E o Alfa não sabe se pode suportar mais uma noite acordado com os gritos inconsoláveis do filhote.
A consulta médica durou mais do que ele gostaria e agora, tendo de tomar uma decisão tão séria, Samuel precisa olhar para seu bebê com a intenção de fortalecer sua ação futura.
James estava profundamente adormecido, seus lábios levemente abertos e em um bico suave, ele até fazia alguns movimentos de sucção e o pai adivinhou que seu bebê estava sonhando em mamar.
Samuel ainda não conseguiu tirar as roupas que seu filhote passou o dia. O cheiro do ômega era potente em volta do bebê, mas já começava a desaparecer, o que agitou seus instintos.
Em pensamentos, ele implorou para que seu filho não acordasse e tivesse uma noite de sono tranquilo e reparador. O Deus Alfa sabe o quanto o pequeno precisa disso.
Sem conseguir se conter, Samuel muito vagarosamente leva as suas mãos para o berço de seu menino, seus dedos longos seguram a madeira delicada enquanto o Alfa inclina-se para frente e encosta o seu rosto, primeiro nos cabelos castanhos do menino e, depois, em seu peito coberto por uma manta suave estampada em delicadas estrelas azuis.
Inspirando profundamente, o homem tenta guardar na memória o cheiro de seu filhote e do ômega. A mistura de perfumes designais suaves e significativos fazem o peito dele voltar a ronronar.
Meu filhote...meu Ômega...família...
Sim, esse cheiro o leva exatamente para esse lugar, sua mente chega a ficar nublada com o odor agradável. É tudo o que Samuel mais quer da vida, seu maior sonho.
No instante em que o Alfa sente o bebê começar a se agitar com as fungadelas de seu pai. Samuel trata de se afastar.
Seu filho cheira a inocência e descanso. Não há fome e tristeza e esse é um cheiro ótimo. James é inocente dos erros de seu pai e não deve ser punido sem uma mãe que o amasse e lhe desse muito carinho e conforto.
O Deus Alfa sabe o quanto o homem está tentando suprir seu filhote nisso e, vergonhosamente, fracassando.
Sem pensar mais no assunto, Samuel se afasta do quarto de seu filho e faz a curta caminhada até seu próprio quarto. Ele se recusa a parar até estar na frente da pia do banheiro, com a luz devidamente acessa e pronto para agir.
Sua ansiedade aumenta consideravelmente assim que o Alfa pega o pequeno estojo revestido em tecido preto, de dentro da gaveta de seu gabinete.
Dentro do temido estojo está uma única pílula vermelha, presa em uma embalagem plástica.
Existem no mercado uma dezena ou mais de supressores Alfa, de farmacêuticas diferentes e dosagem diferentes.
Entretanto, nenhum supressor era igual a esse.
Alphex vinte miligramas, era considerado o mais forte entre todos os outros e para cada apresentação Alfa, os pacientes eram recomendados a ter pelo menos um comprimido devidamente guardado, para emergências.
Somente uma farmacêutica tinha a posse da receita e fabricação deste medicamento. E Samuel nunca precisou usá-lo.
Qualquer designado Alfa corre bravamente para longe desta medicação. Os efeitos costumam ser imediatos e potentes o suficiente para inibir até mesmo o Alfa mais selvagem. Fazendo o designado parecer um gatinho assustado, ou pior, um nascido Beta.
Os instintos Alfa eram suprimidos de tal maneira que mesmo a voz interna não conseguia se levantar. Os cheiros já não eram sentidos, nem todos os instintos que definam Samuel sendo o que ele é, eram cortados e afogados.
Às vezes o resultado pode durar semanas, existem relatos de Alfas que permaneceram meses sem uma parte importante de sua biologia.
Era uma pílula de emergência e todos sabem disso. E ao segurar a pequena pílula nas mãos, logo a voz de Tom ressoou em seus pensamentos.
"Se vocês realmente forem um par altamente compatível, então devo te alertar que talvez você não perca todos os sentidos principais do Alfa. " Tom explicou por vídeo. "Sua necessidade pelo ômega ainda vai estar presente, mas seus sentidos estarão bagunçados por alguns dias. Talvez o suficiente para você alertar a mulher em questão e dar-lhe a oportunidade de pensar a respeito. Ela deve estar sentindo sintomas parecidos, mas sua biologia e o bebê recente não vão permitir que seu corpo entre em calor total, você pode dizer-lhe para esperar um aumento em seus sentidos de cuidado e aninhamento, talvez ela se torne mais protetora com os filhotes e suas necessidades de proteger seu território."
Samuel ouviu tudo o que o médico tinha a dizer, forçando o seu cérebro confuso a prestar atenção e focar nas palavras do outro Alfa.
"O importante é pensar que sua rotina vai estar controlada o suficiente para você decidir o que fazer, especialmente pensar em seu filho e tomar providências para que o bebê esteja protegido durante a sua rotina. Pois garanto, Samuel, que vai acontecer, estamos conseguindo tempo para você, mas de jeito algum isso é permanente." Lembrar da voz de Tom dizendo todos os conselhos e orientações não foi fácil. Ainda mais com uma voz interna tão alta e ressentida por tomar o supressor de emergência.
Samuel conheceu somente um homem que teve que tomar a pílula, o rapaz era um Alfa recém-apresentado e ainda sem controle do pior da biologia Alfa. O estúpido rapaz acreditou que estaria bem em ir para uma academia treinar. Mas, durante suas horas lá, algum feromônio ômega o acionou para uma rotina. Na época ninguém sabia qual das moças presentes fizeram o homem cair em uma rotina.
Acontece que em um lugar tão cheio de pessoas, é fácil se perder no cheiro.
Três outros homens foram necessários para conter o Alfa em rotina. Enquanto um instrutor correu para pegar no estoque a temida pílula e enfiar a pequena coisa vermelha goela abaixo no homem selvagem.
Coisas assim não eram tão presentes, então sempre se tornava um alerta na mídia e redes sociais.
O rapaz era um Alfa irmão da fraternidade que Samuel frequentou, e nos dias seguintes a pílula supressora Alphex, o homem era um caco de si mesmo. Seu cheiro estava todo estranho e as lamentações eram constantes.
Samuel teve que ver o rapaz passar mal em várias ocasiões, crises de vômito e enxaqueca eram corriqueiras. Levou quase dois meses para o sujeito voltar ao que era antes da medicação sair de vez de seu sistema.
É claro que para cada Alfa, o efeito de Alphex é diferente. Samuel não quer ser tão fortemente afetado. Mas, os efeitos de não fazer nada são piores que os da pílula.
James precisa dele, já que uma rotina é iminente, planos devem ser traçados para a segurança de seu filhote. Seus pais devem ser alertados, a empresa notificada, provisões tomadas para os dias cruéis que estavam por vir.
Depois de seu filhote, a coisa mais importante é notificar o ômega que o acionou. Darla Brendon precisa ser avisada. E é presunção acreditar que ambos dividiriam tal momento juntos. Supor que ela o ajudará em sua rotina é um pensamento bastante egocêntrico da sua parte.
Entretanto, Tom disse que ela pode estar passando por sintomas parecidos. Lembrando de como sua biologia ômega estava aflorada enquanto ela amamentava James, e o modo doce é envergonhado em que ela pediu para ele liberar um pouco de sua própria biologia e trazer alívio aos seus instintos, foi reconfortante e preocupante.
Se ela também está sofrendo, talvez a ruiva aceite ajudar Samuel.
Samuel sabe que pensamentos assim apenas o atrasam do que é mais imediato. Tomar a pílula.
Com um último rosnado e pouca determinação, mas muito medo de fazer algo errado, o homem leva a pílula aos lábios e a engole a seco. O gosto é estranho e levemente mentolado, porém ainda o lembra de algo seco e frio.
Por alguns minutos, o Alfa fica imóvel, com as mãos estendidas sobre a pia do banheiro, a bolsa onde a pílula estava descartada ao lado, seus olhos castanhos esverdeados encaram seu reflexo. Sua aparência desgrenhada e olhar maníaco o incomoda. O homem arfante e selvagem, quase agressivo, não é quem Samuel verdadeiramente é.
Em todos seus anos apresentados como Alfa. Ele nunca esteve tão fora de controle.
Samuel está acostumado a passar suas rotinas sozinho, às vezes dividindo os dias odiosos com alguma mulher Alfa que também estivesse em rotina. Nunca com um nascido Beta e jamais chegou perto de nenhuma mulher ômega.
Era revoltante ver-se tão frágil e dependente de uma medicação para sanar sua desordem biológica.
Suas roupas ainda são as mesmas de trabalho, o cheiro de Darla está levemente preso no tecido de seu terno e camiseta. Somente o pequeno ato de tirar as roupas para tomar banho leva muito de sua energia.
Seu cérebro Alfa briga incessantemente contra a ideia de perder o perfume ômega. Todavia, a ação é necessária para que o homem se sinta mais uma vez no controle.
A ação boba de tomar um banho foi difícil, mas necessário. O cheiro neutro de sabonete e shampoo parecem zombar dele, uma ofensa específica para seus instintos. Não demora muito, todavia Samuel sabe que a medicação está fazendo efeito no instante em que percebe que a sua voz interna já não é mais ouvida, e em segundos o cheiro do sabonete já não o ofende, seus membros tornam-se gelados e pesados.
Logo, um novo medo surge em sua mente, dessa vez não provinha de sua biologia e nem é comandada por seus instintos. Agora, sem a voz Alfa o assombrando e comandando, sem os rosnados e os instintos o impulsionando a agir, a mente de Samuel fica estranhamente vazia.
A sensação é mais que unicamente estranha, algo nunca sentido pelo homem. Em seu íntimo Samuel ainda consegue se identificar um Alfa, porém o que o tornava um esta ausente e silencioso.
Foi quando o medo toma conta dele. O pavor de perder o cheiro suave de seu filhote, denão conseguir identificar suas emoções com apenas um farejar rápido. E o terror de não sentir o perfume quente de um doce ômega.
Mesmo sem compreender, o Alfa sabe que será uma experiência bastante diferente olhar para Darla e não se sentir ronronar com o calor meloso de seu perfume ômega. Não salivar com o cheiro de seu leite materno ou ser impulsionado a lamber suas glândulas para aprofundar o sabor em seu corpo.
Quando sai do banho, o alfa não demora a se enxugar e vestir um pijama simples de algodão.
Sem controle das ações, Samuel volta ao quarto de James. Dessa vez, o homem caminha com propósito até o berço de seu filho.
James ainda está dormindo confortavelmente enrolado e aquecido no ninho que Darla fez para o filhote. Pois, sim, Samuel teve todo o cuidado de retirar o ninho do mesmo modo em que ela fez dentro do carrinho de bebê. A coisa foi bastante complicado de se fazer, especialmente com James ainda dentro. Mas não impossível.
Repetindo a ação de mais cedo, James leva o seu rosto até os cabelos de seu filho e depois ao seu peito. A mudança mais perceptível dessa vez é a falta de ronronados explodindo em seu peito. Tomado por medo e pesar, Samuel abandona seu filhote adormecido e volta para seu próprio quarto. Virar as costas para o berço faz os membros de seu corpo tremer.
Ao chegar no ambiente, o homem caminha de um lado para o outro, seus pensamentos tão caóticos e, em simultâneo, vazios que são um verdadeiro incômodo. Sem sentido ou razão, o Alfa se sente jogado em uma trincheira, totalmente vendado e com uma arma cheia de balas de festim.
Naquele instante o Alfa percebe pequenas gotas de água manchar a camiseta do seu pijama. Ao levar as mãos ao rosto percebe a umidade que escorre por seu suas bochechas, logo e com uma surpresa mórbida ele entende estar chorando.
E após notar esse fato, foi impossível controlar os soluços insistentes de escapar por seus lábios.
Samuel teve a decência de manter seu momento baixo para não acordar e assustar seu filhote. Entretanto, é impossível não largar a caminhada sem sentido e se sentar na grande cama kingsize, lentamente o homem leva as mãos à cabeça e permitir-se ter esse momento de tristeza pela perda enorme que sua decisão o levou.
Ele já não pode sentir o cheiro de seu filhote e nem do ômega. A mistura de odores é quase um fantasma preso às roupas de James, sendo esse simples fato assustador para o Alfa, quase tirando a vida para fora de seu peito.
Parece errado, porque é errado. E Samuel não precisa de uma voz em sua mente para confirmar o que é nítido.
O Alfa não sabe se foi a medicação ou seu choro insistente que o levou a ter uma dor de cabeça tremenda, todavia foi o grande desconforto que sentiu que o fez adormecer com os pensamentos bagunçados em como seria o dia seguinte.
***
Notas da autora: Olá amores!
Meus dias estão bastante corridos com a pós graduação. Por favor, perdoem o horário da postagem.
Mais uma vez obrigada por todo o carinho e apoio e saibam que estou me esforçando para entregar os capítulos a tempo.
Esse foi um capítulo bem difícil de escrever.
Por favor, me deixem amor! Preciso disso mais que nunca. E comentem!
Um grande abraço,
Diandrabydi
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Ajuda Inesperada
RomanceDistopia A/B/O "O sonho de Samuel Hux sempre foi ser pai. E com a realização de seu desejo ele descobre que a paternidade não é tão simples. Sua designação Alfa o comanda para prover, proteger e cuidar de seu bebê. E é frustrante descobrir que ele e...