Tudo é Meu

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"Bom, tenho vinte e cinco anos, e por uma série de questões não consegui me formar na época certa, estou me graduando agora, faço um curso noturno na universidade local." Darla diz ao olhar para Samuel.

James está sentado confortavelmente nos braços de Darla. Seu carrinho de bebê permanecia vazio e dentro dele, onde o ninho improvisado que Samuel tanto se empenhou em fazer e que não foi aprovado por seu filho, foi discretamente organizado pela mulher enquanto ambos esperavam a comida, pedida em um restaurante ser entregue para eles.

Samuel estava atento na mulher, tanto quanto estava de olho em seu filho. O pequeno bebê não demorou a acordar após a chegada de seu pai, talvez seu cheiro Alfa o tenha alertado, mas o que realmente importa é que o pequeno está desperto e prestando bastante atenção na mulher que o tinha no colo. O que permitia que a conversa atual pudesse acontecer, mas era tão surreal ver seu filhote calmo e atento, sem o drama normalmente concentrado em que ele se colocava, entre gritos de raiva e um choro incessante.

Seu bebê parecia outra criança, flexionando suas pernas gorduchas e pulando no colo da mulher, sorrindo para ela e levando suas mãos para o rosto do Ômega.

Constantemente o menino inclinou seu rosto molhado de saliva e bochechas rosadas para o rosto de Darla. É como se ele quisesse sua atenção total e quando ela o olhava e ronronava de modo amoroso, James gargalhava e arrulhava barulhos desconexos.

Samuel mal pode impedir que um sentimento mesquinho de inveja se instalasse em seu peito no instante em que nota seu filho enterrar o rosto no pescoço de Darla. Babando e cheirando o perfume ômega.

Mergulhando nos feromônios da mulher que apenas sorria e o embalava. Mostrando uma paciência enorme para as peripécias de seu menino curioso.

Os instintos de Samuel também o impeliam a mergulhar nos braços do ômega e conseguir seu cheiro doce diretamente da fonte.

Mas algo em seu peito estava tão quente e tranquilo que mesmo esse sentimento mesquinho não era grande o suficiente para uma batalha interna de vontades.

O Alfa mantinha o ronronar satisfeito, profundamente amarrado no peito. Samuel quase engasga na vontade de liberar a vontade mais primária de sua biologia.

Não era natural ter que controlar seus instintos Alfa. Todavia, seria indecoroso se deixar levar. Além de constranger a mulher.

O homem tem certeza que está falhando e que muito do ronronar acaba escapando em um momento ou outro, mas Darla tem a educação de não deixar transparecer.

"Me conte sobre sua filha." Ele pede ao olhar para a cena surreal à sua frente.

"Bem, minha Maya é uma garotinha muito doce. Ela acabou de fazer nove meses e já está na fase de se levantar e arriscar andar segurando nos móveis mais baixos. Ela explora tudo o que pode colocar suas mãos." Darla responde ao levemente correr seus olhos entre pai e filho. E acaba dando uma risada suave quando James volta e explorar seu pescoço.

O Alfa nota que suas bochechas estão mais rosadas quando ela educadamente e de modo calmo afasta seu filhote de suas glândulas.

Samuel já ouviu sobre isso. A atitude de seu bebê não é absurda, mas também não é certa. Pois os filhotes costumam buscar as glândulas de feromônios de seus pais, é um modo de criar elo e firmar laços familiares.

Bebês betas não possuem esse instinto, porém os bebês designados apresentam esse comportamento e os pediatras afirmam ser bastante natural e costumam recomendar que os pais dentro de uma designação incentivem e ajudem os filhotes a realizar o ato.

Às vezes Samuel oferece suas glândulas para seu filhote, e em momentos de muito tormento para o bebê, os feromônios de seu pai são a única coisa que acalma o bebê.

É claro que isso nem sempre dá certo e mais vezes do que Samuel pode contar, James permanece inconsolável, não querendo nada com seu pai.

Punindo o Alfa por algo que ele não consegue resolver.

E em tão pouco tempo, míseras horas, seu menino já se lançou sobre Darla, buscando criar um laço familiar com o ômega.

Em um primeiro instante, Samuel sente a necessidade de levantar-se e pegar o menino para si. Muito constrangido com a atitude do bebê.

Talvez ele deve ligar para o pediatra. Um bebê com o desejo de criar laços com um desconhecido não é nada natural. Mesmo que a desconhecida seja uma nascida Ômega. O homem nunca ouviu nada parecido.

Entretanto, o mais constrangedor foi perceber que em seu interior o ato do pequeno bebê não era assustador e sim correto. Seu cérebro Alfa martelava insistentemente que o filhote estava certo. Que ambos escolheram um bom ômega.

Assim que Darla afasta o bebê, James faz um grunhido irritado e seus lábios começam a tremer por ser negado algo que ansiava.

Imediatamente a ruiva se inclina para o bebê e enche seu filho de beijos carinhosos e um ronronar de acalento.

"Filhote doce. Não chore, James. Ômega está aqui com você." Ela fala naquele tom cheio de sua designação. Sua voz fica mais melosa e suave, o que faz Samuel sentir seu corpo arrepiar inteiro.

Mas a mágica foi feita e logo o bebê irritado foi distraído de sua raiva, sendo colocado em um estado de contemplação e sorrisos amplos, mostrando os poucos dentes que já estavam nascendo em sua boca.

"Quer mamar mais, pequeno alfa? Você cheira a fome." Darla diz ao manter sua atenção no filhote, ignorando totalmente a existência de Samuel e já puxando sua roupa com o intuito de amamentar o bebê exigente em seus braços.

As palavras dela disparam todo tipo de alerta para o Alfa.

Ômega bom. Ômega certo. Meu Ômega. Marcar...morder...acasalar...

Samuel nem notou estar ronronando muito alto até ser subitamente acordado de seu devaneio pelo barulho incômodo que nascia em seu peito, mas escapava por seus lábios.

Darla não chega a levantar a cabeça do que estava fazendo, e logo seu filhote está novamente preso em um seio roliço cheio de leite materno. James suspira e arrulha naquele mesmo tom de alegria. O cheiro do bebê cresce em contentamento enquanto seus pequenos braços apertam a mulher.

Todavia não é isso que alerta Samuel para seu descontrole e sim o vermelho intenso que toma conta do rosto de Darla. E o homem pode notar que suas pupilas voltam a dilatar, seus feromônios queimam em uma onda constante.

O cérebro Alfa de Samuel logo entende que a ruiva está respondendo a ele. Porém, seu rosto não expressa contentamento e sim vergonha.

E isso lança o homem e seus malditos instintos incontroláveis em um limbo. O que ele está fazendo não é certo.

Malditos instintos. Samuel grita em pensamento, ele tem que forçar deu corpo a parar com o fodido barulho constrangedor.

O homem logo percebe que é mais fácil falar do que fazer. Então, ainda leva alguns minutos para se colocar em ordem.

Seu corpo protesta e seus músculos doem com a força que está fazendo para se manter controlado. O que o ajuda é voltar seus pensamentos para a última frase de Darla.

Ela chamou seu filhote de pequeno alfa. O que é bastante curioso já que mesmo nascendo de pais designados, um bebê não necessariamente vai puxar a biologia de seus pais.

E James ainda é muito jovem para desprender qualquer tipo de cheiro que se assemelhe a feromônios.

"Desculpe, Darla. Meus instintos estão bagunçados, não é meu desejo te deixar desconfortável..." Ele acaba dizendo ao se arrumar na poltrona e tossir algumas vezes para afastar os pequenos ronronados insistirem em escapar de seu corpo. Tentar encobrir é patético, mas sua única opção.

Samuel sem sombra de dúvida nunca passou por algo tão constrangedor em toda a vida. Mas o homem nunca desejou nenhum ômega antes. Não que ele tivesse conhecido muitos por aí, talvez alguns poucos já acasalados ou em relacionamento.

Ao decorrer de sua adolescência, apresentação em uma designação e vida adulta, Samuel sempre encontrou aqui e ali alguns nascidos Alfa que insistiam em um acasalamento correto.

Ou seja. Um designado Alfa iniciar um relacionamento com um designado Ômega. Existiam fóruns e plataformas políticas conservadores que enaltecem esse tipo de coisa. Afirmando que esse é o jeito correto em que o mundo deve seguir. O modo biologicamente natural para ambas as designações.

Todas essas pessoas eram consideradas conservadoras, radicais e malucas pela maior parte da população.

E Samuel certamente não se enquadrava nesse meio.

"Não se preocupe, Senhor Hux. Hoje, também não estou no meu estado normal." Darla se apressa em dizer. "Esse tipo de coisa mexe com a gente, e mesmo o melhor supressor não pode barrar algumas coisas do instinto."

A ruiva continua a ronronar para o seu bebê. E pela primeira vez Samuel para e pensa que seu descontrole também espelha o dela, se a situação é vergonhosa para ele, para Darla deve ser pior, afinal ele está em supressores, o mais forte do mercado, tudo o que ela tinha eram esses adesivos supressores leves.

Sim, a situação de Darla é elevadamente pior que a dele. E se ela consegue lidar com isso de cabeça erguida, era seu dever moral segui-lá e não colocar peso em uma situação já estranha.

"Obrigado por compreender, estou tendo um pouco de dificuldade em manter o instinto no peito." O homem confessa após um suspiro cansado escapar de seu peito.

"Isso não é bom. Segurar os instintos pode ser bem doloroso." O ômega responde e em seus olhos existe uma verdadeira compreensão do que acontece com ele.

E sim, Samuel sabe que ela está certa, confessar sobre seu desconforto não foi fácil, mas escapou de seus lábios com bastante verdade e de certa forma, para Darla a coisa não pareceu errada.

Todo Alfa é bastante crítico com esse tipo de assunto. Mostrar fraqueza não é uma coisa boa. E os instintos competitivos o incitam a ser forte e capaz, um Alfa entre Alfas.

"Por que não fazemos o seguinte. Enquanto você estiver ao meu lado, pode ser você mesmo, sem julgamentos, que tal?" Darla o surpreende com seu comentário com base em uma pergunta, para a mulher parece algo simples e natural. E isso solidifica a pureza e inocência desprendido por ela.

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