Boa noite, eu me chamo Luisa e estou muito feliz de poder estar com vocês hoje. No ano passado, durante minhas férias no Rio, estava saindo do Restaurante Mário com meu filho e meu marido quando vi uma mulher sendo atropelada por um Jaguar preto que parecia custar uma fortuna. Entrei em desespero. Dor e perplexidade me dominavam. Eu lembro de ter corrido até ela enquanto pedia pro meu marido levar nosso filho até o carro. Peguei o celular e liguei pra emergência enquanto tudo em mim tremia. Quando a ambulância chegou ela já estava inconsciente. Entrei em desespero por não saber como ajudar mais, me sentia culpada por não ter saído antes, por não ter puxado assunto com ela, por não ter perguntado onde ela morava... Mas eu tinha um filho de 5 anos no carro e um marido que devia estar tão nervoso quanto eu, por isso me afastei e observei a cena: os socorristas colocando-a na maca e levando para a ambulância, eles tiraram o seu corpo mas boa parte do seu sangue permaneceu no asfalto e do lado, uma bolsa que ela devia ter trago. Dei todas as informações que sabia para os socorristas e enquanto via as luzes da ambulância piscando freneticamente rumo ao hospital, minhas lágrimas escorriam pela minha face, observei de novo o asfalto e vi que junto a bolsa, meio aberta devido ao impacto, tinha um caderno pequeno. Peguei-o e abri em uma página aleatória:
"Luzes da cidade maravilhosa
Cor de cinza e festa
Na cidade que não presta
Tudo estranho e lindo
Eu só trago o mar de algum lugar comigo"- Ângela
Decidi voltar até o carro e ver como Pedro e Edu estavam. Enquanto caminhava até o outro lado da rua pensava no que tinha acabado de ler no caderno dela. Não é contraditório uma cidade se chamar maravilhosa e está em destaque no ranking de cidades mais violentas?
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Depois daquele dia, fiquei intrigada e decidi pesquisar mais sobre a moça que ajudei. Ela era uma artista e eu estava cada vez mais interessada em sua história. Descobri que ela usava seu caderno como um diário para registrar seus melhores e piores momentos. Na última página tinha:
"Vou correndo, não quero perder nada.
Meu bem, você pra mim é privilégio, minha chance de ter alegria.
Não importa quanto, como, seremos só eu e você."Embaixo tinha o endereço de um restaurante, provavelmente está foi a sua última anotação no dia em que eu lhe encontrei
Av. 7 – Restaurante Mário, Rua Ataulfo de Paiva
Depois de pesquisar mais, todas as pistas me levaram a Matias Bueno, um grande empresário que tinha como hobby matar pessoas desconhecidas. Fui seguindo as pistas e descobrindo sobreviventes que me ajudaram dando seus depoimentos e depois de muitos meses juntando as provas, pegamos todo o material e usamos para denunciá-lo. Hoje, dia 15 de julho de 2015 finalmente conseguimos o seu mandado de prisão. Eu queria dedicar esse momento e nossa conquista a todas e todos que não puderam chegar até aqui, que não puderam dar seu depoimento e que nem sequer conseguiram se defender. Somos a prova viva de que o fim da linha para pessoas como o Matias é o ponto inicial da nossa liberdade, é assim que começa.
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Passeio Noturno - Parte 3
Hayran KurguContinuação alternativa do conto Passeio noturno de Rubem Fonseca. Trabalho de português - 14/09/22 Escritoras - Gisele Rayanne Maia de Sousa (17) - Maria Larissa Santiago de Lima (29)