— Bem, não é que eu não goste de chuva.
— Então o que é?
— Acho que é mais sobre... memórias, sabe?
— Ah, como algum trauma que você viveu? Algo assim?
— É... na verdade, sei lá. Eu não gosto da forma como você diz isso.
— Ué, que forma?
— Como se fosse um problema eu não gostar de chuva. Até parece que alguém adora ter os sapatos e as roupas molhadas.
— Eu gosto.
— Não seja mentiroso.
— É, eu tô mentindo. E você gosta de mentir?
— O que isso tem a ver com chuva?
— Nada. Mas achei filosófico.
— Ah, eu acho que todo mundo gosta, é empolgante, não é?
— Então, você gosta de chuva?
— Puta que pariu, esquece isso!
— Eu já esqueci.
— Que bom.
— Eu menti.
— Cara, o que você quer? Sério!
— Eu gosto que você não goste de chuva. Gosto que adore mentir e, ainda assim, eu te odeio pra caralho.
— E por que eu preciso saber disso?
— Porque, talvez, esse seja o nosso último dia de vida.
— Do que você tá falando?
— Hoje vai chover.
[FIM]
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ELÃ
PoetryCompilado de textos de uma mente em movimento, bagunçada e contraditória.