Existem autores e quem escreve. Me considero o segundo, acho que no fundo sempre fui muito imprecisa e arisca quando se tratava de olhar nos meus próprios olhos, sabe? Quando se encara a alma e raiz dos motivos da sua irracionalidade e falta de consciência de vida é assim, uma sensação de ter o corpo colocado pra baixo, submetido a pressão da terra de tal forma que respirar se torna uma tarefa difícil. Honestamente, acho que nasci ontem, engraçado que muitos negam isso para descrever uma certa maturidade, um conhecimento secreto da vida que te faz ileso de enganações, mas, não, eu assumo, nasci mesmo ontem, porque não importa quanto tempo faça sinto-me uma criança que foi esquecida no shopping, sozinha e perdida. Acho-me incompreendida, desprendida de algo que me motive a ficar e a racionalizar a minha própria existência. Deve soar estranho, eu mesma não entendo palavra por palavra do que digo, mas sou daquelas fiéis que acredita que soltar as palavras de si alivia o espírito, pode até não funcionar sempre, mas às vezes funciona e, para mim, isso é o suficiente. Por isso, quando me pego avaliando textos de outrem, penso em palavras que gostaria de usar melhor, imagino se comigo seria diferente ou se sou apenas desprovida de tato e sensibilidade humana capaz de fazer com que minha voz seja a mesma que ressoa na mente de todos, tenho uma conclusão e me considero inapta. Sem dom. Quem escreve é preocupado, não o bastante para fazer de seus textos histórias de mártires, mas preciso o suficiente para contornar os próprios pensamentos e parecerem tão confusos que sequer eles entendem. Acho que deveria ser melhor, sempre acho e nunca sei se consigo.
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ELÃ
PoetryCompilado de textos de uma mente em movimento, bagunçada e contraditória.