Gwyn gemeu ao entrar na água aquele dia. Estava tão cansada! As raladuras ardiam, havia um galo sem tamanho na cabeça dela, que não teve força pra lavar o cabelo, só o molhou. Ao sair se vestiu e penteou os cabelos, sonolenta, então uma mão apareceu do lado dela com dois comprimidos. Ela aceitou, ignorando Azriel, encheu um copo d’água da pia e tomou. Em seguida abriu a gaveta de primeiros socorros, examinando o braço.
Azriel: Foi uma queda e tanto. – Admitiu, apesar de não parecer nada preocupado com isso.
Gwyn: Sei disso, eu estava lá. – Dispensou, limpando a raladura do braço com algodão e soro. – Saia daqui. – Ordenou, enojada, e em resposta ele se sentou no banquinho do banheiro, muito a vontade.
Azriel: Iremos a Monte Carlo na semana que vem. – Avisou.
Gwyn: Não iremos, não. – Dispensou, colando um band-aid na raladura – Deve ter uma pilha de trabalho me esperando.
Azriel: Vamos, sim. – Rebateu – A empresa vai construir um novo cassino e eu tenho alguns jantares a comparecer, e se eu não me engano consta no contrato que você é obrigada. – Lembrou, satisfeito.
Gwyn: Quantos dias? – Perguntou, irritada, cuidando do outro braço.
Azriel: Três no máximo. – Ela o olhou pelo espelho, exasperada, e ele sorriu, se fingindo de surpreso.
Gwyn: Um cassino em Monte Carlo. Muito original. – Desprezou, terminando de cuidar dos machucados e guardando a caixinha. Saiu do banheiro e apagou a luz, deixando- o lá. A cama dela nunca parecera tão convidativa. Ela suspirou, puxando o edredom e subindo na cama, se esticando lá com um gemido. Nunca sentira tanto sono na vida.Azriel: Isso é um convite? – Perguntou, divertido.
Gwyn: Porque você ainda está aqui? – Perguntou, virando de bruços e tapando a cabeça com o travesseiro.
Azriel: Porque você tem uma bunda linda, que sempre vale à pena admirar. – Disse, dando um tapinha no traseiro dela, que grunhiu – Se mudar de idéia, sabe onde me encontrar. – Debochou, saindo. Gwyn não deu bola, e pegou no sono quase em seguida.No segundo dia, a atividade era sobre mudos. Todos receberam um pedaço de adesivo grosso, cinza, pra colar na boca. Gwyn, com a boca colada, ergueu a sobrancelha em um desafio, e Azriel ergueu as mãos, sorrindo, e foi embora. Foi de longe muito mais fácil que a cadeira de rodas, mas era irritante ter que ficar falando por sinais. Ganharam o primeiro lugar naquele dia.
No terceiro dia, a atividade era sobre cegos. Uma mascara de dormir preta foi colocada nos olhos deles, e Gwyn não gostou logo de inicio. Eles foram separados no ginásio, e a primeira missão era encontrar seus pares. Gwyn se bateu em varias pessoas, tomou um encontrão com uma pilastra, e se descobriu vagando a esmo, as mãos a frente do corpo, pisando com cuidado.
Gwyn: Greg? – Chamou, estranhando o silencio. Estava quase arrancando a mascara. O ginásio estava barulhento, mas ali não – GREG?! – Chamou, caminhando. O chão era plano. – Gre... – Ela se bateu em algo duro, frio. Tateou, e a superfície era plana. Franziu o cenho, passando a mão, então com um suspiro se esticou, tateando-o, e achou o pára-choque de um carro. Ótimo, fora parar no estacionamento. Deu a volta, tateando – GREG! – Gritou, começando a se irritar, mas não ousava tirar a mascara.Se houvesse algum fiscal por perto, o menino era desclassificado. As mãos dela bateram em algo firme novamente, só que dessa vez quente, e ela reconheceu pelo toque.
Azriel: Mesma família, um pouco mais velho. – Provocou, em um sussurro. Gwyn suspirou, revirando os olhos por debaixo da mascara. – Se quiser continuar me apalpando, não vou me importar.
Gwyn: Estou no estacionamento, não estou? – Perguntou, irritada.
Azriel: Está. Estava acariciando meu carro de um modo meio indecente, devo dizer.
– Debochou, virando-a pro outro lado e ela recomeçou a andar.
Gwyn: Você não trabalha mais? – Perguntou, caminhando, as mãos em frente ao corpo.
Azriel: Não, de uns tempos pra cá participo de gincanas de colégios de crianças. – Alfinetou, e ela sorriu de canto.
Gwyn: O que quer, Azriel? – Perguntou, quase caindo com um degrau que ela não se lembrava de ter passado. Ele a segurou pelos braços, pondo-a de pé.
Azriel: Você é uma cega terrível. – Condenou, após ela ganhar equilíbrio – Vim pra avisar que não vou voltar pra casa hoje. Nem amanhã, devo dizer. Vou viajar, só volto no fim de semana. – Gwyn parou de andar.
Gwyn: Tem algum fiscal em volta? – Perguntou, quieta.Azriel: Não. Porque, vai me agarrar? – Brincou, com as mãos nos bolsos do terno aberto – Nada contra, mas algumas pessoas ficariam escandalizadas. Quero dizer, é uma escola de crianças. – Gwyn arrancou a mascara do rosto, os olhos azuis piscando sobre a claridade.
Gwyn: Pra onde você vai? – Perguntou, observando-o. Um fim de semana sem Azriel. Quando a oferta é demais, o santo desconfia.
Azriel: Resolver uns problemas em Vancouver. Devo estar de volta no domingo, bem a tempo de irmos para Monte Carlo, não se preocupe. – Disse, tranquilo.
Gwyn: Bom, que Deus o leve. Ou o diabo. Não me importo. – Disse, olhando a direção do ginásio e pondo a mascara de novo.
Quando Gwyn chegou em casa aquela noite, não havia ninguém. Ela se sentiu violentamente feliz com aquilo. Preparou uma tigela enorme de pipoca e colocou Friends pra assistir. Tinha o apartamento só pra ela. Nada de Azriel se esgueirando nos corredores, achando que era o dono do mundo. Foi a noite mais feliz e tranquila que ela tivera desde que se casara.
No dia seguinte, veio a ultima tarefa. Era sobre surdos. Fácil de lidar. A cadeira de rodas e a mascara nos olhos foram violentamente piores, mas o melhor: Greg vencera. O menino ficara exultante, com sua medalha de ouro na mão. Gwyn ganhou uma também e colocou no pescoço, muito dignamente. Grace e Nestha riram da euforia do menino, que estava todo orgulhoso.Grace: Obrigada. – Disse, quando Greg a soltou pra mostrar sua medalha a Nestha.
Gwyn: Do que está falando? Eu ganhei uma medalha. – Disse, forçadamente orgulhosa, estufando o peito, e Grace riu, abraçando-a – OK, que tal um pararmos no McDonalds? – Greg olhou, os olhos brilhando – Precisamos comemorar a vitoria... E eu estou faminta. – Reparou, sorrindo, satisfeita.
Greg: Mamãe? – Confirmou. Grace era bastante rígida com a dieta do menino, guloseimas eram controladas.
Nestha: Vamos mãe, ele venceu. – Adulou, e Grace fingiu estar avaliando. A ansiedade de Greg era comovente.
Grace: Está bem. – O menino gritou, pulando feliz da vida – Mas nada de exagerar!
Eles exageraram. A comida de Greg era diferente, sem queijo ou nada com lactose, mas o menino se empanturrou com seu sanduíche, refrigerante e batatas fritas. Gwyn se surpreendeu, faminta, atacando um sanduíche enorme com um milkshake do grande e fritas. Quando chegou em casa – o apartamento maravilhosamente vazio de novo – se sentiu plena. Passou grande parte da sexta-feira trabalhando em casa, atualizando o que estava atolado, mas decidiu que era melhor aproveitar enquanto estava sozinha.
Ouviu musica alta, dançou sozinha, assistiu vários filmes, passou horas na banheira coberta de espuma, foi ótimo. Estava totalmente descontraída quando recebeu a visita de Cassian, no sábado.
Gwyn: Como detetive você é um ótimo empresário. – Disse, vendo o envelope quase vazio, que eram as “evidencias” que Cassian conseguira.
Cassian: Trabalho com petróleo, não com câmeras. Você devia estar mais agradecida. – Disse, se deitando em um dos sofás.Gwyn riu, abrindo o envelope. Haviam alguns papeis, relatórios do dia a dia de Azriel, algumas fotos dele almoçando (Ianthe sempre presente), então... Nas ultimas fotos, ele estava em um restaurante aberto. Ianthe também estava, sentada ao lado dele, e eles conversavam com um homem. Ianthe sorria, e Azriel parecia tranquilo. Na primeira das fotos eles estavam de pé, apertando as mãos. Depois almoçavam, conversavam.
Gwyn sentiu a pele gelar. Toda a alegria sumira, substituída por um pânico viscoso. Anos podiam ter se passado, mas ela conheceria o rosto daquele homem em qualquer lugar. Os traços do rosto, o mesmo corte de cabelo, o jeito do olhar, o formato da boca quando sorria... O estomago dela se revirou em náusea, como se alguém o tivesse esmagado, a pele gelou e ela ficou pálida, os olhos em choque.
Então esse era o trunfo de Azriel, o que ele tinha certeza que a faria perder o jogo, e era pior do que tudo o que ela havia imaginado: Ele trouxera Ryle de volta.
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A Court Of Pain And Revenge - Livro 1
RomanceQuando você é enganado, traído e machucado a certo ponto, só existe duas opções: Esquecer e perdoar, ou esperar o momento e a hora certa de se vingar. Essa não é uma história sobre perdão. "O bater das asas de uma borboleta pode desencadear um tufão...