— Carlo! — chamou, levantando os dedos da mão esquerda.
Domenico Puccini era um homem alto, com alguns anos marcados em suas linhas de expressões, cabelos loiros e bem aparados, sempre com um charuto entre os dedos, como agora. A noite era calma, com o silêncio sendo afastado apenas pelo cricrilar dos grilos e vagalumes. O vento frio fazia os cabelos esbranquiçados de quem se aproximava balançarem.
Dom acabava de terminar uma ligação telefônica. Recebendo Carlo com os modos de sempre, um olhar breve e descontraído.
— Livrou-se daquele corpo de hoje?
— A equipe de limpeza cuidou disso. Já está em uma das valas. — respondeu, tão simplório como se contasse o que havia comido no jantar.
— Obrigado, Carlo.
— É meu trabalho, senhor. Por que me chamou aqui?
— Ah, sim... Vamos, conto no caminho.
Os dois seguiram pela calçada, a fumaça emanada do charuto ficando ainda mais forte, o cheiro acre. A rua vazia era ornamentada pelas casinhas coloridas que seguiam um padrão, algumas tinham suas varandas repletas de variados tipos de flores; outras, apresentavam paredes em pedra consumidos por trepadeiras. Atravessaram o píer de madeira, ao mesmo tempo que um um gato cinza equilibrava-se na ida até o outro lado, brilhando sob o luar.
— Irei me ausentar e preciso que tome conta de alguém...
— Quem, senhor?
— Park Chanyeol, irmão da chefe, o líder de Nero. É bem simples, apenas não deixe que seu nome se envolva em novos problemas. — Dom comunicou, enfim.
Todos do clã sabiam exatamente a que tipo de problemas Dom se referia. Não se passou muito tempo desde a tragédia ocorrida em um subúrbio próximo. Uma família inteira havia sido consumida pelas chamas de um incêndio proposital. Algumas testemunhas afirmam que o autor do ato era o líder de Nero, mas nenhum desses ousava denunciá-lo, uma vez que viver era mais precioso que um senso de justiça. Carlo achava que eram acusações falsas, afinal, o que um senhor faria andando e queimando casas em um subúrbio? Seus inimigos, com certeza, não estavam lá.
— Sim, Dom, irei até lá. — respondeu, impassível.
— Bom menino. — elogiou Dom, em meio a uma tragada no charuto. — Quero alguém o vigiando 24h por dia, até durante seu sono.
Certamente, era algo radical demais.
— Quando devo ir?
— Agora.
Carlo assentiu. Quando virava para seguir seu caminho, Dom continuou:
— Carlo... seja paciente. Ele pode ser difícil.
— Vou ser profissional.
— Tsc... Como sempre.
Carlo balançou a cabeça, confirmando. Levaria a sério suas ordens.
— E aonde você vai?
— Ver Aretha.