Os homens lá fora voltaram à sua formação de vigilância. Carlo, decidido a apresentar-se, entrou após o capo. Para cada canto que olhasse, via o vermelho sangue das rosas acolhidas dentro de grandes vasos com arabescos em ouro. Todo o lugar estava impregnado com aquele perfume estonteante. Chanyeol, inicialmente, estava alheio às ações de Carlo, mal notando sua presença. Em algum canto do hall de entrada, encontrou uma mesa de bebidas e servira-se de uísque.
— Então — disse algo, enfim, ao se aproximar e tomar um primeiro gole —, como se chama?
— Me chamo Carlo, senhor.
— Quantos anos?
— Tenho 24. Capo. — Carlo lembrou de usar seu título formal.
— O que poderia fazer aqui? O que você sabe sobre isto? — esnobou.
— Dom me enviou para servi-lo diretamente. O que quer que o senhor precise. — respondeu, mesmo acreditando cegamente que aquilo já era do conhecimento do capo.
Houve silêncio.
— Você não parece forte, ou inteligente... Por que foi escolhido? — disse, esmiuçando os olhos.
— Dom confiou a missão a mim, por isso estou aqui. — exclamou, seu tom quase alterado.
Suficiente para que Chanyeol percebesse.
— Não me entenda mal. — se redimiu, tomando mais um gole em seguida, olhando nos olhos de Carlo por sobre o copo. Quando o silêncio tornou-se evidente, disse: — Sirva minha refeição em meu quarto, va bene?!
Ele não esperou por uma resposta, típico comportamento de quem estava acostumado a ser obedecido em qualquer situação. Carlo já planejava uma rota de fuga, mas lembrou-se de já estar acostumado a receber este tipo de tratamento. Chanyeol subiu pelo longo lance de escadas da esquerda, com degraus encapados por veludo vermelho, obviamente. Carlo soube depois que o quarto do outro ficava na cobertura. A única coisa que poderia fazer agora era esperar por aquela maldita refeição e entregá-la.
⧫⧫⧫
— Senhor?! — Carlo o chamou, depois de bater à porta pela enésima vez, sem ser recebido.
Carlo desistiu e tentou a mçaneta. Estava aberta este tempo todo. A porta se abriu após alguns segundos.
— Onde devo...
— Entre! — Chanyeol interrompeu, ordenando como um general faria a seus soldados, porém, sua voz estava longe.
Ali não parecia exatamente um quarto, e sim, algum tipo de escritório, com intermináveis estantes de mogno portando livros pesados, os quais não pareciam estar devidamente ordenados. À direita, ficava uma larga mesa com tampo de vidro, e logo atrás da poltrona havia uma vidraçaria que dava vista aos homens cumprindo seu turno e ao belo jardim de rosas. Era magnífico. Carlo adivinhou que as rosas que ornamentavam o interior da casa eram cultivadas ali, num jardim que parecia infinito. À esquerda, duas poltronas confortáveis eram separadas por uma mesa de centro, dando ao lugar um ar receptivo. Apesar disso, era apenas um ambiente formal.
— Bambino, suba as escadas e encontre-me. — disse uma voz que parecia estar vindo de cima. Carlo, então, percebeu o andar superior do quarto. Obedeceu.
Não demorou para subir, pois, aquele quarto, sem dúvida alguma, era o local mais excêntrico que Carlo já viu. Nas paredes, homens e mulheres despidos e esbeltos eram retratados em pinturas. Dentre eles, Carlo se manteve observando por mais um tempo a pintura de um torso masculino, com atenção especial à região baixa do ventre. Na parede antes da varanda, ficava o viveiro do que parecia ser um réptil de escamas claras, tão grande quanto a casa em que Carlo vivia. Apesar do espanto, ele desejou poder dar uma olhada nos numerosos troféus suspensos em prateleiras de vidro, uma vez que pareciam contar muito a respeito de seu chefe.
Entretanto, Chanyeol não estava ali.
— Está aqui... — Carlo segurava a bandeja em suas mãos firmes — Onde deseja comer, capo?
— Deixe aí e venha aqui.
Obedecendo, Carlo deixou a bandeja em uma mesinha e seguiu a voz de Chanyeol. Atravessando uma parede de vidro, encontrou-o na banheira, apenas os cabelos pingando e os ombros tatuados à mostra enquanto tomava banho desapressadamente.
Carlo parecia hipnotizado pelos desenhos naquela pele, guardando para si o desejo de traçá-los com a ponta de seus dedos. As tatuagens pareciam estrangeiras, não seguindo nenhum padrão ocidental. Em um de seus punhos, a cauda de um dragão japonês subia por todo o seu braço com escamas acerejadas, rodeado de lírios vermelhos e arabescos, terminando em seu peito. No outro braço, eram como se videiras levantassem-se por toda pele, portando flores coloridas e delicadas.
Ainda sob efeito das cores e formas que enfeitavam os braços do capo, aproximou-se vagarosamente.
Para sua felicidade, o capo não lhe proferiu nenhuma palavra. Ambos permaneceram ainda calados, mas o silêncio quebrou-se com um suspiro pesado de Chanyeol:
— Deixe-me lhe pedir uma coisa.