Na Itália atual, os Três Grandes Clãs imperavam sobre o povo. Há muito tempo, o governo era pacífico entre eles, entretanto, com a eclosão de grandes batalhas, a consequência imediata foi a instauração de vinganças e disputas.
Rosso, Marrone e Verdrastro eram famílias que uniam-se por alianças e laços de sangue. Tamanha era a segregação de seus povos que, para pertencer a algum lugar, era necessário conquistar sua marca. Aqueles que não a tinham eram os Esquecidos, que viviam espalhados por terras sem lei e sem títulos: os subúrbios. Carlo pertencia a este grupo desde que nasceu, e apesar de trabalhar há meses para os Rosso, ainda não havia adquirido sua marca. A tatuagem de meia lua, preenchida por traços finos e amenos, era disputada, e logo a reclamariam sobre a pele de Carlo.
Chanyeol, durante as investidas da noite passada, a qual terminou sozinho, percebera esse detalhe em Carlo. Ou melhor, a falta dele. Mesmo sabendo o que aquela ausência significava, não se importou. Em seu íntimo, sabia ele, a falta de uma maldita marca tampouco importaria no momento de levá-lo para sua cama.
Na noite passada, em meio às tentativas de adormecer, Carlo também refletiu sobre a marca. Sabia que logo suas origens seriam de conhecimento do capo. Logo, pensou em motivos pelos quais não o rejeitariam. Sentiu-se grato, mesmo não querendo, por Chanyeol não ter tocado neste assunto e apenas deixar passar. Deixou sua gratidão de lado e deu início a seu pensamento estratégico. Precisava conseguir a cópia da chave daquela porta, precisava de garantias. Não poderia ser explícito, ou tudo se encaixaria na pequena mente excêntrica de Chanyeol. Isso tomou-lhe tempo, tanto que dormiu sem perceber.
Ao amanhecer, já de pé mas tão cansado como sempre, ainda pensava sobre a pequena porta de madeira e em uma maneira de adentrá-la despercebidamente. Em todo caso, não gostava de concluir nada de barriga vazia. E, como se adivinhasse suas intenções, Komako, a auxiliar de Mamma, bateu à porta de seu quarto, o chamando em um tom agudo. Carlo apareceu, a recebendo com um sorriso, e a seguiu.
Os dois caminharam lado a lado. Juntos aparentavam ter a mesma idade e gostos comuns, como descobriu Carlo ao iniciar uma breve conversa com a outra. Komako era órfã, adotada pelo clã quando ainda era um bebê, desde então sendo cuidado pela Mamma. Uma garota como qualquer outra, ela gostava de sair e encontrar os poucos amigos que tinha em um karaokê da Zona Azul. Adorava animais, inclusive Glória, a cobra de estimação do capo.
Chegando à cozinha, lá estava uma senhora com uma cara não muito receptiva.
— Grazie al cielo! Vocês demoraram demais! — falava, parecendo amedrontadora ao segurar um rolo de massas na mão.
— Eu explicava um pouco da casa para ele, Mamma — Komako se aproximou, dando um beijo na testa da senhora. Carlo começava a achar este, um cumprimento usual.
— Obrigada, querida, só seja mais ágil, sì?! — bufou, rindo em seguida, aparentemente não mais irritada. — Carlo, já tomou café? Sente-se e coma, enquanto conversamos.
Carlo puxou uma cadeira da pequena mesa da cozinha, Komako sentava-se ao seu lado e já começava a comer novamente. Animado com os doces que havia à sua frente, serviu-se de um bom pedaço da charlotte de morangos, que parecia divina. Enquanto comia, mal ouviu as palavras de Mamma. Entretanto, pelo que entendeu, não se tratava de algo sério, ela apenas lhe explicava diversas funcionalidades.
Além disso, não deixou de citar os eventos daquela semana.
Carlo comia em silêncio, já no 2º pedaço de bolo. Alguns minutos depois, quando já estava de saída, um dos homens que acompanhava Chanyeol em sua chegada acabava de entrar no recinto, sem dizer palavra.
Carlo percebeu que alguém assim seria percebido em qualquer lugar.