Ele parecia deslocado ao contexto. Tinha longos cabelos escuros, descendo como cascatas por suas costas, que se assemelhavam ao tom de pele escura. Além disso, uma franja ondulada e volumosa escondia parte de seu rosto. Carlo logo entendera porquê. Apesar da altura e dos músculos rígidos, seu olho direito, que outrora talvez fora azul como o outro, era preenchido por um glóbulo branco e apático. Era cego de um olho. Uma comprida cicatriz assimétrica cortava o olho inútil, maculando seu belo rosto. Carlo teve curiosidade em saber como aquilo aconteceu.
Em silêncio, o gigante de um olho só bebeu um pouco de café, logo virando as costas para ir. A lua minguante, cravada nas costas de sua mão direita.
— Rhaziel! — ralhou Mamma — Custa muito ser educado?!
— Desculpe, Mamma — bebeu um gole do que tinha em mãos — Tenho pressa.
— Volte já! — disse, suspirando e redirecionando seu olhar — Este é Carlo, Dom quem o enviou. Faça-o sentir-se em casa, sì?! Honre a figura do seu padrinho, Domenico! — dizia, o rolo de massas tendo Rhaziel como alvo.
Os dois se encararam por um momento.Este, por fim, era Rhaz. Rhaziel desafiava o outro como se lesse todos os seus pecados e apostasse na sua descida de tobogã ao inferno. Carlo sabia que não conseguiria a confiança deste, mas não havia nada que poderia — ou gostaria — de fazer para muda o atual contexto.
— Va benne, Mamma — disse, por fim — Você, venha comigo. — meneou a cabeça em direção à saída.
⧫⧫⧫
— O que preciso fazer? — Carlo perguntou. Estavam indo em direção ao estábulo.
— O que você acha? — Raziel ironizou. — Vamos patrulhar. Será assim todos os dias, então, acostume-se.
Carlo calou-se. Rhaziel trouxe consigo dois cavalos pelas rédeas. Carlo poucas vezes havia montado um. Apenas conseguia focar nas ferraduras nas patas dos animais, imaginando o quão doloroso seria levar um coice ou algo parecido. Sob sua perspectiva, os cavalos pareciam agitados demais, quando, na realidade, seguiam tranquilos nas mãos de Rhaziel.
— Este é o seu. Suba. — Raziel ofereceu.
Carlo assentiu, pegou as rédeas do cavalo e... hesitou. Raziel suspirou, impaciente.
— Suba.
À contra gosto, Carlo buscou forças em seu íntimo, clamando para quem quer que pudesse ler pensamentos e realizar milagres. Logo conseguiu encaixar seu pé no estribo, levantar e montar. Prestes a sair, seguindo Rhaziel mais uma vez, ouviu o relinchar de outro cavalo que se aproximava dali, pisando melodicamente os cascos contra o chão de pedra. Levantando seu olhar, lá estava ele.
Chanyeol era quem montava aquele majestoso cavalo enegrecido, com um ar casual, assumindo certo conforto mesmo estando sobre um animal tão imprevisível.
— Rhaziel, onde pretendia ir sem mim? — disse ele, quando estava mais próximo.
— Fazer o trabalho que você não faz. — desdenhou, rabugento.
— Você perdeu o amor à vida?
De repente, Chanyeol trocou seu sorriso por um ar intimidador e, já de mal humor, disse:
— Os dois, se apressem.