Parte 12

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Levaria algum tempo até Pete superar.

Ele se lembra dos poucos, porém bons, momentos com Vegas quase todos os dias. Era como uma tortura silenciosa que sua mente o fazia sofrer por lembrá-lo que poderia ter impedido tudo isso de acontecer, se tivesse chamado a ambulância mais rápido.

Ele sai da floricultura depois de ter comprado as flores favoritas de Vegas, parando para acender o cigarro. Era o mínimo que poderia fazer.

Fazia alguns anos desde a última vez que Pete colocou um cigarro na boca. Sua avó não gostava do cheiro, por isso ele evitava por ela. Mas agora era impossível. Não havia nada no mundo que o acalmaria muito neste instante, mas pelo menos o cigarro fazia um bom trabalho em fazê-lo se sentir, mesmo que momentaneamente, menos vazio.

Jogando as cinzas no chão, Pete arrumou a mochila nas costas e apertou as flores nos dedos. Eram rosas vermelhas, cheias de espinhos. Estavam em um arranjo bonito, com um laço vermelho de cetim. Era a cor favorita de Vegas.

De repente, algo tremeu em seu bolso. Pete alcançou o celular, sugando o restante do cigarro antes de jogá-lo no chão e pisar em cima. Era Macau. "Alô?"

"Onde você está? Saiu faz quase duas horas."

Pete sorriu, mesmo que Macau não pudesse ver. Ele puxou a máscara para esconder o rosto e apertou o cachecol em volta do pescoço, sentindo, de uma forma muito infantil, uma pontada de alegria lhe enchendo. Depois de tudo o que aconteceu, Pete tentou tomar conta de Macau: ele sabia que era isso o que Vegas iria querer. Mesmo que no começo tenha sido difícil lidar com aquele adolescênte tão parecido com o irmão, Pete fez o melhor.

E, agora, nutria um amor estranhamente fraternal pelo garoto.

"Estou chegando. Você está em casa?"

"Estou. Pedi comida!" Macau exclamou, e Pete sorriu mais uma vez.

Ele avisou que logo voltaria para casa (era, na verdade, a casa de Macau, um pequeno apartamento no centro de Bangkok que Vegas tinha lhe dado, e, embora Pete insistisse que a casa era apenas de Macau, o garoto afirmava que era a casa deles. Os três.)

Uma pontada o acertou no peito ao lembrar de quando o garoto lhe disse isso, apertando as alças da mochila antes de pedir um táxi em direção ao hospital.

**

Pete não gostava daqueles lugares; não depois de todos os horrores que teve que passar em um hospital. Desde criança, as idas àqueles lugares eram terríveis: ele sempre estava com o rosto inchado e machucado dos socos do próprio pai, mas, quando as enfermeiras, assustadas com a imagem de uma criança tão jovem estar tão ferida, perguntavam o que tinha acontecido, Pete apenas sorria e balançava a cabeça, dizendo que tinha caído.

A verdade é que ele tinha medo. Medo de ficar sozinho. Ele sabia que o pai não era alguém bom, mas sabia que, se ele contasse o que sofria nas mãos daquele homem, não lhe sobraria nada: sua mãe era submissa ao marido, dizendo que o amava tanto e que o seguiria onde quer que fosse. Ele não tinha irmãos que pudessem acolhê-lo, nem família próxima. Então, para não ser deixado para trás, Pete aguentava as surras e tentava focar nos poucos momentos felizes que tinha com os pais.

Isso durou até Pete apanhar tanto que chegou no hospital sem consciência. Ele já tinha ouvido essa história da sua avó, embora não recordasse de todos os detalhes: o que lhe fora contado era que uma enfermeira, conhecida da sua avó, viu a situação em que Pete estava e ligou para a amiga.

Pete passou tanto tempo achando que não tinha família alguma, quando, na verdade, seus pais o esconderam de todos. Sua avó nem sequer sabia que a filha ainda estava casada com aquele homem que ela tanto detestava, muito menos que seu neto sofria ataques com tanta frequência.

SURPREENDENTEMENTE BOM | VegasPete ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora