La plus belle des amitiés

538 67 19
                                    

Acordei atrasado!

Marcamos uma reunião cedo para decidir algumas coisas com a equipe de decoração, mas eu dormi demais. Meu chefe vai me odiar e a minha promoção vai por água abaixo.

A verdade é que eu demorei para cair no sono, porque a todo momento pensava nos beijos com Josh. Por que eu pensava tanto nisso? Por que parecia tão importante? E por que cada vez que eu lembrava meu estômago parecia se arrepiar? Eu nem sabia que ele se arrepiava.

— Desculpe o atraso! — Chego no hall, onde os três já esperavam por mim para irmos juntos até o local que alugamos para a cerimônia. — Meu celular não despertou e…

— Está tudo bem, Noah! — Taylor sorri singela. — Às vezes dormimos demais, mas isso não vai apagar todo o resto que você já fez. Acontece!

Sorrio para ela e assinto, seguindo eles até o carro. O céu está limpo, o sol brilha e está quente, muito quente. Quente a ponto de eu querer voltar correndo pro quarto e tirar essa camisa preta. Por que eu não escolhi a rosinha claro?

— Sonhou comigo e por isso se atrasou? — Ouço a voz dele, me assustando. Estava avaliando a possibilidade de voltar correndo, mas eu já atrasei eles demais para isso.

— Não! Sonhei com algo bem melhor… — Olho para ele rindo. — Eu estava cercado de todos os chocolates do mundo e mesmo comendo tudo, eu não enjoava e nem engordava.

— Aposto que se eu tivesse numa cama, pelado e com chocolate por todo meu corpo, você iria gostar.

— Que nojo, cara! — Empurro o ombro dele com o meu e entro no carro, com ele sentando ao meu lado. Sr. Harris e Srta. Hatala estavam no branco da frente.

— Espero que dessa vez o mocinho aí de trás não implique com tudo e dê sugestões realmente úteis e boas. — Taylor diz e eu sei que ela se refere a Josh.

— Minhas sugestões são incríveis, vocês que não valorizam isso. — Responde brincando com ela. Estava distraído, olhando pela janela, quando sinto a mão dele na minha perna. Ele ainda conversava com a amiga e estava com a mão na minha perna, como se não fosse nada demais. — E vocês escolhem coisas muito bregas.

— E decoração de animal print não é brega? — Me pronuncio, tirando a mão dele da minha perna, mas ele volta com a mão para lá. Faço o mesmo processo e ele bate na minha mão, e deixa em cima da minha coxa. — Tira! — Falo meio alto, na nossa lutinha antes silenciosa.

— O que está acontecendo aí atrás? — Sr. Harris pergunta e eu fico vermelho.

— Era um bichinho que tinha subido na minha perna. — Minto e quando olho para o loiro ao meu lado, ele ri. Sinalizo para ele tirar a mão e ele cede. Só que então ele passa a segurar a minha mão e entrelaça nossos dedos, como fizemos ontem, enquanto íamos ao Moulin Rouge. 

Eu resolvo para de tentar lutar e fico prestando atenção no caminho. Estamos indo até o chalé no vinhedo que alugamos para o casamento, lá nós iremos avaliar de perto e junto com a decoradora, pensar no que podemos fazer.

O casal está animado e eu estou tentando entender porque meu coração está tão acelerado. Josh ao meu lado parece estar em outro mundo e eu não entendo o porquê a mão dele ainda está junto com a minha, ou o porquê dele acariciar a palma com o dedão.

— Fico pensando se todos os convidados conseguirão vir dos EUA até aqui. — Taylor comenta, quebrando o som do rádio. Acho que isso estava incomodando ela, porque eu sinto uma pontada de angústia.

— Você fala isso por questões financeiras ou por disponibilidade de tempo? — O noivo pergunta.

— Os dois. Eu sei que tem gente que trabalha e a questão financeira sempre é um tabu. Tenho familiares que não tem condições. Meus avós não tem condições de sair do Canadá para vir para cá e eu sei que eles não vão aceitar o seu dinheiro.

Não sabia que ela era de família simples. Sr. Harris é podre de rico e filho de um casal de milionários, ele nunca passou necessidade. Mas eu pensei que a Srta. Hatala também era assim. Pelo jeito ela conquistou o que tem hoje, com o próprio suor e eu acho isso bonito, porque eu faço a mesma coisa.

— Tay, não fica pensando nisso. — O loiro fala, soltando a minha mão para tocar o ombro dela, já que ela estava sentada na minha frente. — Seus avós podem vir com os meus, tenho certeza que meu avô consegue convencer o seu a aceitar o dinheiro, nem que seja vindo da minha família. — Eles se conhecem há tanto tempo assim? — Sim! Nós crescemos juntos. — Responde e eu arregalo os olhos. 

— Eu falei em voz alta? — Josh sorri e concorda com a cabeça. — Desculpe! 

— Não precisa pedir desculpas. — A moça diz. — Nossas famílias sempre foram amigas. Nossos avós eram vizinhos, nossas mães foram criadas juntas. Josh e eu fomos obrigados a virarmos amigos também.

— Você me odiava quando éramos crianças. — Ele ri alto e eu acho um ótimo som. Por que?

— Você era uma peste! Vivia puxando meu cabelo e você arrancava a cabeça de todas as minhas bonecas. — Abro a boca surpreso com a revelação. 

— Que maldade, Josh! — Comento, rindo um pouco. É uma história bonita! Amizade inseparável, assim é bom! Também tenho amigos desde a época do colégio, mas hoje em dia estão todos casados com suas "almas gêmeas" e eu estou focado na minha carreira, os assuntos não são os mesmos. — Como você perdoou ele?

— Ele teve uma anemia muito forte quando criança e eu fiquei tão preocupada que levava doces todos os dias pra ele melhorar logo. — Sorrio pequeno. — Depois disso, ficamos inseparáveis.

— Tanto que seus pais tinham certeza que éramos almas gêmeas e íamos nos casar. — Por que essa sensação estranha na barriga? De repente, eu gostaria de parar o carro e sair correndo. 

Eu tô ficando lelé da cuca.

— Espera, você nunca me contou isso. — Sr. Harris brinca. Ele não acha estranho?

— Meus pais não percebiam que Josh era totalmente gay. Quando ficamos adolescentes, eles me perguntavam se nós tínhamos alguma coisa, até que eu tirei ele do armário por não aguentar mais. — Josh é gay? Eu pensei que ele era bissexual.

— Seus pais contaram para os meus que de algum modo já sabiam e tudo ficou bem.

— A amizade de vocês é muito bonita! — Elogio e eu não consigo ver a feição da loira, mas ele está sorrindo para mim, de um jeito que eu não entendo o porquê de querer sorrir junto. — Talvez vocês sejam alma gêmea um do outro, mas não de forma romântica. 

— Mas você não acredita… — Josh me olha com dúvida.

— Eu não acredito no fato de existir alguém destinado a você para toda a vida. Mas isso que vocês tem é uma conexão e cumplicidade que muitos casais que são "almas gêmeas" não possuem. — Explico meu ponto de vista.

— Faz sentido e eu concordo com o Noah. — Meu chefe diz. — Eu não possuo muitos amigos e com certeza os que eu tenho, não possuo essa conexão.

— Mas eu sou sua alma gêmea… — Taylor diz, manhosa.

— Deus me livre de ter uma alma gêmea mulher! — Josh faz sinal da cruz e eu acabo rindo. 

Até que está sendo uma viagem divertida.

Âme Sœur (Nosh)Onde histórias criam vida. Descubra agora