Assim que chegamos ao hotel, cada um vai para o seu quarto. Imaginei que Josh iria para o meu, para conversarmos sobre o que aconteceu no carro, mas ele também foi para o quarto dele. Então eu fui para o meu.
Só que apesar do cansaço físico, eu não consegui pregar o olho. Eu só conseguia pensar em Josh e tentar entender o porquê do sonho. É algo que ainda machuca ele e parece importante para ele, então eu sinto que é importante para mim. Por que eu sinto isso?
Eu simplesmente não consigo conter a angústia dentro do meu peito e me dirijo até o quarto de Josh. De alguma forma eu sei que ele não está dormindo.
— Noah… — Ele abre a porta com os olhos vermelhos e úmidos. No mesmo momento eu o abraço, tentando fazer com que a dor dele passe. Eu quero chorar junto com ele. Eu quero que saia dele, para vir para mim.
— Eu tô aqui! — Ele chora mais ainda, agarrando a minha camiseta muito forte, como se tivesse medo que eu saísse correndo. — Vem, vamos deitar! — Levo ele até a cama, onde ele deita no meu ombro e ainda chora.
— Desculpe estar chorando! Eu odeio chorar! — Resmunga. — Você não devia ver essas merdas.
— Todo mundo chora, Josh. E quando choramos, tudo que precisamos é de um abraço acolhedor.
— É só que… Eu não quero mais chorar por isso. — Ele se levanta do meu peito e olha no fundo dos meus olhos. — A minha reação no Moulin Rouge, o sonho de hoje… Está tudo interligado ao meu passado. Um que eu tento esquecer todos os dias.
— O que aconteceu? — Agarro as mãos dele, entrelaçando nossos dedos. Dessa vez eu tomei a iniciativa e eu não sei se ele está tão surpreso com isso como eu estou.
— Quando eu tinha 17 anos, eu tinha alguns amigos e um namorado. Era idiota e com certeza ele não era minha alma gêmea. O fato é que nós saímos juntos, resolvemos só nos divertir. Tinha uma pista de skate onde estávamos bebendo, tinha um outro grupo lá, mas nós éramos a maioria, então estava tudo ok. — Ele suspira e se cala, como se não tivesse coragem de contar o resto.
— Se você não quiser…
— Eu sinto que devo contar para você. — Olha nos meus olhos e aperta a minha mão. — Aos poucos meus amigos foram indo embora e ficou só eu e meu namorado. Ficamos nos beijando, enquanto ele esperava os pais. Depois que os pais dele chegaram, eu fiquei sozinho esperando os meus, mas eles demoraram. E essa demora foi suficiente para o outro grupo aparecer.
— E-eles fizeram algo…?
— Primeiro eles me xingaram de forma pejorativa, como viadinho e essas coisas. Eu não dei bola e continuei tentando ligar para a minha mãe. Só que então veio um empurrão e eu fui para o chão. — Josh estava chorando muito e as palavras saíam entre cortadas por soluços. — Então ele chutaram minhas costelas enquanto ainda me xingavam e diziam que gente como eu deveria morrer. Vieram socos e mais chutes até o meu pai chegar e chamar a polícia. Eu fui para o hospital e cheguei a quebrar o nariz. Meus pais se culpam até hoje pela demora, mas eu sei que eles não controlam o trânsito e não tem culpa da homofobia dos outros. Mas aquilo doeu, não só fisicamente. Doeu ouvir as palavras, doeu saber o motivo e doeu o que aconteceu ontem no Moulin Rouge. Faz 10 anos que aconteceu e ainda dói.
Ele termina de contar e eu não tenho outra reação a não ser abraçá-lo. Eu nunca passei por isso, mas eu poderia. Simplesmente pela minha sexualidade. A dor de Josh não é só dele, mas é a de todos os LGBT's. É a minha dor também.
Mas o mais estranho nisso tudo, foi não só a comoção pelo relato, mas o fato de eu sentir tudo que ele estava sentindo, como se estivéssemos ligados. Era só porque era uma história triste, né?
— Eu sinto muito que você tenha passado por isso! — Aperto mais meus braços ao redor do corpo dele. — Eu entendo a sua dor.
— Você sente, não é? — Coloca a mão no meu peito e afasta o rosto do meu pescoço, olhando nos meus olhos. — Diz que você sente o que eu sinto, por favor…
— Claro que sim. — Respondo e ele arregala os olhos. — Eu também sou gay, todos nós sentimos o peso da homofobia. — Então ele murcha diante dos meus olhos, como uma flor no sol. O que eu disse de errado?
— Sim, sim… É! — Afasta a mão de mim e olha para o lado. — Foi bom contar isso para alguém que me entenda.
— Amigos são para isso. — Seguro a mão dele, que volta a olhar para mim.
— Amigos, Noah? — Ri debochado e aos poucos vejo o Josh de sempre. — Você pagou um boquete para mim no meio de parreiras de uvas, enquanto queria que eu te xingasse em francês. Isso não é coisa de amigos.
Fico vermelho e solto sua mão. — Vejo que você já está melhor, então vou voltar para o quarto.
— Não vai, não! — Segura meu braço. — Eu prometi que ia fazer você se arrepender por quase me deixar naquele estado, mas como eu não estou no clima agora, você vai dormir aqui comigo para recompensar sua maldade de mais cedo.
— Josh, eu tenho coisa pra fazer.
— De madrugada? Impossível! — Se joga em cima de mim. — Agora você não consegue sair.
— É sério… Sai de cima de mim!
— Não saio!
— Eu vou te chutar daqui.
— Duvido. — Consigo chutar a barriga dele, que cai ao meu lado e dessa vez, eu que subo em cima dele. — Uh, se você queria ficar por cima era só ter me falado.
— Cala a boca, idiota! — Beijo a boca dele, porque simplesmente não resisto.
E bom, naquela noite não transamos, mas nos beijamos o bastante para perdermos a hora. E dessa vez, eu não me arrependo.
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Âme Sœur (Nosh)
FanfictionOnde Noah, um cético que não acredita em almas gêmeas, é convocado a ajudar no planejamento do casamento do chefe. E Josh é só o melhor amigo irritante da noiva.