Thirteen.

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 E lá estava eu, mais uma vez em crise. A crise do TOC passa de ser a tal "Crise de ansiedade"¹ porquê ela vai muito mais além de estar ansioso. Sempre vem carregado de pensamentos intrusivos que duvidam de mim ou reafirmam algo que não condiz à mim.

É uma dor insalubre, dolorosa e que te faz duvidar se é ou não seus pensamentos. Lógico que psicólogos, terapeutas e psiquiatras te diriam:"Você não é seus pensamentos, Arabella!". E quem garante isso para mim? A confiança de se ser, sempre carrega a ideia de que "Óbvio que não concordo com isso, tenho outros pensamentos em relação a tal coisa". E eu? Porque em crises como essa, de chorar dentro do escritório do meu trabalho enquanto arranho meu pescoço e repenso se é bom ou não estar viva, depois começo a me questionar se eu realmente estou sofrendo ou é apenas um fingimento para me enganar.

TOC vai também muito além da dúvida, querer ou não tudo arrumado ou se sentir incomodado ao ver algo torto. A realidade é que as pessoas decidiram usar o transtorno como adjetivo e acham que aquilo é a verdade. E quando eu, portadora do transtorno digo que não é só aquilo e que o diagnóstico do transtorno é complexo e difícil, parece que as pessoas tem um tipo de dissonância cognitiva.²

  Me olho no espelho e noto meus olhos vermelhos juntamente ao meu rosto, jogo água para ver se ameniza toda essa situação típica mas ainda sim vergonhosa. Saio do banheiro, depois de 20  minutos que se pareceram uma hora, ando pelo corredor do escritório de cabeça baixa e já ciente de que os olhares que se pousavam sobre mim, eram de pessoas que já devem ter pensado "Céus, de novo ela chorando por coisas que a própria cabeça inventa", e sinceramente? De uma forma bem grosseira, é exatamente isso!

 Me sento na cadeira da minha mesa e vejo no relógio do computador que eu deveria já estar comendo algo. Mas eu simplesmente não tenho forças para comer meu sanduíche e nem sequer fome para isso.

 — Arabella, você tem algum e-mail meu aí na sua caixa de entrada? Mandei tem uns dias sem querer para você.  — escuto a voz de Zayn, que quando o olho vejo que estava preso a tela gigante de seu computador.

 — Não vi nada aqui, vou ver se não na aba de spam...  — disse também olhando para minha tela e sinto os olhos de Zayn caírem em mim, e vejo que ali, ele já viria falar comigo sobre terapia, remédios e minha saúde mental.

 — Arabella... O que aconteceu?  — seu tom de preocupação era sempre muito sincero e tocável.

 — O de sempre.  — dei de ombros, afinal aquilo não era novidade.

 — Hum, bom, acho que.... — ele se cala e olha em direção ao fim do extenso corredor do nosso andar, e eu olho junto porquê sou fofoqueira.

 E lá estava Emy Lincon. A vice chefe que se vi 5 vezes fazendo algo nessa empresa foi muito. Harry deu esse cargo a ela, pois era irmã de sua falecida amada e ele sentia que deveria fazer algo por ela e pela família que estava devastada pelo falecimento da primeira filha e neta de toda a família.

 — Essa mulher é uma broaca.  — Zayn reclamou, e eu franzi meus cenhos.

 Tudo bem que ele falava mal de tudo e todos dessa empresa, mas ele não teria lá motivos para falar da Lincon.

 — O que foi?  — ele reclamava, pois vê que eu o olho feio.

 — Você nunca fala assim de ninguém.

Ele chega mais próximo de mim por suas cadeiras de rodinhas, como se fosse sussurrar:

 — Styles me disse que ela está dando muito em cima dele, dizendo que ele deve esquecer a falecida e viver com ela pois elas se parecem.

Arregalo os olhos, mas me mantenho em silêncio. 

Concordo que Styles precisa conhecer gente nova e voltar a viver com alguém, mas assim? Cruz credo. É no mínimo repugnante e doentio pensar e falar assim com seu ex cunhado, não?

 — Quem morreu foi a irmã dela, essa aí está vivíssima.  — brinco, mas lógico que acho isso uma safadeza de certa forma.

 Zayn ri leve, balançando a cabeça em negação.

 — Agora disfarça que a jacaroa tá' vindo na nossa direção.

 Ok, eu não sei onde o Zayn está aprendendo essas novas e rústicas palavras.

Assenti, balançando a cabeça para os lados tirando o pensamento da mente e voltando a procurar o e-mail de Malik.

 — Arabella e Zayn, preciso de um relatório de pelo menos 5 página dos dois sobre as reuniões que vocês fizeram para fora.  — Lincon ordena, sem nem um boa tarde, em seu tom autoritário de sempre.

 Como um ato quase sem pensar, franzi meu cenho e fechei a cara. Mas em seguida raciocino que ela é minha chefe também.

 — Boa tarde, senhorita. Tudo bem.  — Malik a olha, com as sobrancelhas levemente levantadas, claramente debochando dela.

 Seguro o riso, deixo ele bem ali, internamente, e assinto. Ela sai, sem responder, indo atanazar a vida de outro funcionário.

 — Você pede para ser demitido às vezes, Malik. — balanço a cabeça em negação, enquanto acho graça da situação como um todo.

 —Para... Você sabe que ela não pode nos demitir e nem Harry faria isso.

 — Bom, eu não ponho minha mão no fogo por ele.  — falo, procurando meu remédio na minha mesa, e pegando meu sanduíche para não tomar meu antidepressivo de estômago vazio.

 — Claro, você põe é as mãos dentro da calça dele.  — arregalo os olhos, engolindo o remédio, quase me engasgando.

 — Tá' doido?  — sinalizo com os olhos que tinha gente por perto.  — E eu nunca fiz isso... Não depois que paramos de se falar.

 Sussurro a última parte, e rio com a língua entre os dentes.

 — É né? — ele me responde acompanhando meu almoço.

— Vai começar seu relatório para a jacaroa, vai... —  rio, mordendo o sanduiche. 


Dissonância Cognitiva: É o nome dado a um viés cognitivo que leva as pessoas a procurarem algum tipo de coerência em suas crenças e ideologias, embora a realidade as desminta com fatos. Muito comum em diversos segmentos da sociedade.

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⏰ Última atualização: Jul 25, 2023 ⏰

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