Touch me.| H.S

o.ne.

Era todos os dias o mesmo ritual. Acordar do mesmo lado da cama, por o pé direito no chão e somente depois o esquerdo, ao acordar e esticar os dois braços, primeiro para o lado direito e depois para o lado esquerdo. Se não, minha mente perturbada dirá que algo iria acontecer se eu não iniciasse o que faço normalmente todas as manhãs.

A incessante angústia que é me ser não está rotulada nos parâmetros da vida. Minha mente me controla, não sou eu que controlo minha mente. E sempre foi assim. O que ela mandar, farei. Porque é somente ela que sabe e entende toda a verdade por trás de quem sou e o que sou.

Minha psicóloga costuma dizer que eu não posso seguir o que minha mente manda, porquê eu acredito muito que meus pensamentos são verdadeiros e que "Pensamentos são apenas pensamentos, não são a realidade!" . Mas quem tanto me garante que se eu não seguir o meu pensamento de comando nada irá acontecer? Que se eu não usar meu relógio algo ruim vai acontecer? Eu prefiro fielmente e piamente seguir meus padrões e mente, que sei que nada de ruim me ocorrerá no dia fazendo os mandamentos da minha cabeça.

Ter transtorno obsessivo compulsivo é sim, ser escravo da própria mente. Quem disse que não? A nossa mente nos sabota por tudo, e nos faz crer em tudo que ela nos traz. Estou com essa companheira cruel há tanto tempo que já nem sinto mais, estou apática. Eu sinto tudo, mas ao mesmo tempo sinto nada. E custe o que custar, estarei em um eterno julgamento entre Sentimento X Mente, o que me traz a racionalidade e culpa a cada coisa. A tudo. É seguir normas o tempo todo de você mesmo, de uma forma obsessiva onde somente a compulsão de faze-lo te aliviará da ansiedade momentânea, pois logo depois ela vem carregada e te obriga a lembrar que você é doente e necessita urgentemente de terapia e tomar seu antidepressivo. Afinal, ela te faz crer que você é um alguém sem futuro e que irá ser assim para todo o sempre, que você não tem cura.

É ter dúvida da dúvida, medo de não ter certeza do presente e nem sequer do futuro. Porque do passado... Ah! Como temos certeza dele e como nos culpamos sadicamente por cada erro ou não do nosso passado. Nos culpamos até daquilo que nem sequer temos culpa e no fim, tudo se resulta na tristeza infame que é viver.

Arabella Moreau.