Mordor

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Seu quadril doía e suas mãos e seus joelhos ralados. Steve nunca se imaginou naquela situação, mas quanto mais caminhava, mais sentia que estava no fim do mundo, além de sua respiração ficar meio falha pela radiação que aquele lugar emitia.

- Então é aqui que você vive? Aqui é Mordor? – fez jus ao nome que Eddie disse quando se conheceram.

A bussola estava quebrada, então teria que encontrar o Munson por conta própria. Felizmente o seu relógio também havia quebrado, mas registrado o exato momento em que acabou parando naquele lugar.

11:55 p.m.

Agora, já passado mais de 5 minutos, os sons ficavam ainda mais atormentadores, e alguns gritos vinham do Leste.

- Cadê você? – perguntou baixinho.

Acabou por pisar em uma espécie de musgo, esse que se contorceu todo. Provavelmente uma planta viva.

Um barulho ecoou dentre as arvores e sem pensar duas vezes, Steve se pôs a correr, não se importando mais com a dor, não se importando mais com seus joelhos, apenas queria sobreviver caso visse o rosto do seu tão amado Eddie um ultima vez.

Quando mais corria, mais os gritos aumentavam e mais musgos apareciam. Tentava desviar, mas sempre pisava em algum, o que resultava em mais barulhos.

Não conteve o cansaço. Estava em uma zona neutra daquele mundo pavoroso. A respiração ofegante e o corpo tremulo.

Steve nunca se sentiu tão fraco quanto estava naquele momento, mas mesmo assim, se preparou para a luta. Agarrou aquele bastão com toda a força que ainda o restava e esperou o pior.

Não sabia o que pensar, mas com certeza não imaginava que aqueles gritos, aqueles barulhos, não eram de gente ou animais comum. Eram criaturas horrendas, que sobrevoavam os seus em união, com garras enormes e dentes afiados. Tipo, morcegos. Se Dustin estivesse ali consigo, diria que eram os antecedentes do seu vampiro.

Quanto mais elas se aproximavam, mais Steve entrava em desespero, imaginando que não conseguiria lutar contra aquelas criaturas sozinho.

Uma vez, Eddie lhe contou sobre que nos filmes, existe algo chamado Deus Ex-machine, uma espécie de super herói que aparece sem aviso prévio para retirar a vitima do perigo. Ah, ele era tão inteligente. Sabia tudo sobre ficção e o mundo que abrange a literatura e o cinema, esse que Steve nunca se quer chegou perto. Eddie prometera para ele que o levaria aos cinemas de sua cidade assim que possível, mas essa promessa não seria comprida, pelos menos não nessas circunstancias.

Steve agarrou o bastão e o lançou contra os Demobats. Nome inventado na hora por ele.

Começou a bate-los sem dó nem piedade.

Quando foi dar outro golpe, acabou deixando cair o bastão, sendo agarrado por dois Demobats, esses que o arrastaram pelo chão e quando estavam prestes a o fincarem as presas, Steve observou uma sombra sobrevoar por cima de si, assustando até mesmo os pequenos monstrinhos, que na hora, saíram voando para longe, porém foram brutalmente acertados com as enormes asas e garras da criatura.

O Harrington nada mais viu. Estava tão apavorado que fechou os olhos com força, esperando o pior lhe acontecer. Ele pensou "Agora sim é o meu fim", mas quando ouviu aquela voz o chamando, aquela belíssima voz não pode negar.

- Steve... – disse ao seu lado, segurando seu rosto para que ele abrisse os olhos. – Steve, sou eu... Está tudo bem agora.

Abrir lentamente os olhos, visualizando a imagem daquela criatura com asas escuras e sombrias, sua feição era melancólica, seus cacheados e bagunçados cabelos, e seus... lindos olhos. Seus olhos com certeza eram as coisas mais belas que ele tinha.

- Eddie.

Não pensou duas vezes em abraça-lo, segurando seu corpo bem forte contra o seu e não pensando em solta-lo tão cedo.

Estava se derramando em lágrimas.

- Você não sabe o quanto eu fiquei desesperado quando foi embora. Me desculpe pelo que eu disse, eu sinto muito... – dizia entre soluços. – Fui um idiota com você, eu sei, e me odeio por isso, mas não importa o que aconteceu, não importa o que você é. Eu te amo, te amo dês do dia em que dividimos aquele cigarro no bosque, dês do dia em lemos o nosso primeiro livro deitado sobre o colchão no meio do quarto. Eu amo você por inteiro, e foram necessários muitos sonhos estranhos para eu perceber isso. Não que queira saber sobre eles agora, mas eles foram realmente muito importantes para eu saber sobre os meus reais sentimentos – acabou rindo fraco de sua confissão.

- Steve, Steve! – Riu também. – Você continua falando demais, não é?

- Desculpa – se afastou dele com um sorriso enorme no rosto. – Me perdoa?

Eddie tocou seu rosto, analisando cada feição sua.

- Independente do que fez, ou do que disse, ou do que eu fiz, isso não importa. Eu só preciso que você me tire daqui, ou...

- Ou?

- Ou se torne um como eu.

Steve ainda tentando raciocinar, mal parou para perceber que aquela beleza que Eddie emitia agora não era a mesma de antes. Ele era poderoso. Um ser fantástico. Tão encantador quanto os dos livros.

- Mesmo que você esteja perfeito sendo um vampiro, eu imagino que não seja para mim este mundo.

- É, eu conheço você – riu. – Mas antes, precisamos dar um jeito de sair daqui.

- Será difícil?

- Você não faz ideia.

Ao tentar levantar, o Harrington lembrou que estava todo machucado.

- O que houve?

- Não sei ao certo como cheguei aqui, mas com certeza fez um estrago e tanto.

Eddie riu.

- Certo, eu tive uma ideia. 

The cynical eyes - SteddieOnde histórias criam vida. Descubra agora