Espírito protetor

407 57 46
                                    

Steve viu um pouco da luz da lua atravessar as cortinas do quarto. Ele não estava 100% acordado, mas sabia que era madrugada ainda. Acabou por avistar uma sombra estranha se aproximando, subindo por sua cama, rastejando até seu corpo. Inclunou-se um pouco e viu criatura beijar seus lábios, como se quisesse os sugar. O cheiro dele era doce feito vinho. Sentiu um arrepio percorrer por toda sua nuca.

E então... A sombra sumiu.

Steve acordou completamente assustado, sentado na cama vendo apenas as luzes da rua iluminarem o quarto. Olhou pros lados e não viu nada. Olhou pra frente e viu Eddie se remexendo na cama.

- Foi só um sonho... - sussurrou baixinho e então dormiu novamente.


Acordou com a visão do garoto cabeludo deitado ao seu lado, tocando seus fios de cabelo com um sorriso idiota na cara.

- Bom dia Harrington.

- Bom dia... - ele falou baixinho e sorriu.

- Dormiu bem?

- Perfeitamente bem - mentiu.

- Isso é ótimo. Vamos tomar café.


Ao descerem, Eddie e Steve viram o senhor Harrington bater com as mãos na mesa, assustando a todos, principalmente a esposa.

- Alguém bebeu o meu vinho!

- Querido, calma...

- Não! Alguém bebeu e esse alguém está aqui! Ou esteve aqui... E eu vou descobrir!

- Querido...

- Não toca em mim! - a empurrou. - Vou trabalhar.


Steve puxou Eddie para as escadas.

- Foi você? - sussurrou.

- Não! Já disse, odeio coisas doces.

- É, você disse... Tem uma ideia do que pode ter sido?

- Não faço a menor ideia.

Por um momento, Steve lembrou do cheiro da criatura, era doce como o vinho do seu pai... Pensou, será que tem algum espírito maligno rondando a minha casa?

- Harrington, vamos ler algum livro?

- Claro.

Eddie não costumava comer muito, mas já fazia três dias que ele não comia quase nada.

- Você não está com fome mesmo? - perguntou enquanto arrumava os colchões no meio do quarto.

- Não. Estou perfeitamente bem e sem fome - sorriu colocando os travesseiros, cobertores e alguns livros. - O que vamos ler hoje?

- Frankstein!

- Eu estava esperando você falar isso!

Deitaram os dois de frente para a janela com a porta trancada e os cobertores pendurados um em cada ponta das camas, formando uma cabaninha.

- O monstro, abandonado pelo criador... Começa a assimilar os sentimentos humanos e a compreender sua tristeza... - Eddie lia, porém parou a leitura ao ver o olho parado do garoto deitado ao seu lado. - Steve? Está tudo bem?

Ele demorou um pouco para responder.

- Você já sentiu como se alguém estivesse o vigiando?

- Bom... O tempo todo - sorriu.

- Tipo... Espírito?

- Uhum. Eu chamo de espírito protetor - Eddie fechou o livro e virou-se para ele.

- Acha que um espírito protetor me vigia durante a noite? - Steve também se virou, ficando cara a cara com ele.

- Isso não sou eu quem pode dizer. Só você...

Eddie direcionou os olhos até os lábios de Steve, que ainda parecia tenso, mas percebeu suas intenções. Ele não queria mais manter aquela distância. Eddie queria sentir Steve por inteiro.

- Você... Quer me beijar... Eddie? - perguntou baixinho.

O Munson levou aqueles redondos olhos até os do Harrington. Aquela sensação de querer sentir o corpo do cabeludo junto ao seu estava enlouquecendo Steve. Era estranho, pois nunca sentiu isso com ninguém.

Eddie se aproximou, e o beijou.

Era como se Steve já estivesse sentido aqueles lábios, eles pareciam familiar, mas como eram os lábios de Eddie, era algo confortável

Ao se afastarem, voltaram a se olhar.

- Você não é a melhor coisa nessa cidade Steve. É a melhor coisa que os meus cínicos olhos já viram. 

The cynical eyes - SteddieOnde histórias criam vida. Descubra agora