Como um cachorro

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Os olhos de Steve se abriram após uma longa noite cheia de soluços e gritos abafados pelo travesseiro. Sentia tanta raiva, tanto ódio de Eddie que chegava a ser doloroso.

Sua mãe havia saído pela manhã, e o garoto estava pela primeira vez, após 4 longas semanas, sozinho em casa. Não havia mais a presença do seu garoto ali. Aquela risada, o cheiro de cigarro que vinha dos seus compridos cachos.

Tentou preparar um café da manhã, mas não estava conseguindo engolir a comida sabendo que havia um corpo no seu porão. Logo ele iria começar a cheirar e sua mãe já estava neurótica com a falta do seu pai em casa. Ela pensava que ele estava a traindo ou coisa do tipo, e Steve gostaria muito que ela continuasse pensando assim.

Por um momento, ele tentou entender o lado de Eddie. Mas estava tão bravo por ele simplesmente ter matado o seu pai que não conseguia ter nem um pouco de coeficiente naquele momento.

Largou a xícara de café ainda cheia na pia e foi direto para o porão. Desceu as escadas apressado. Queria por um fim de uma vez naquela história.

Porém, ao acender as luzes, não encontrou o corpo de seu pai.

Havia desaparecido.


- Steve! - Robin batia em sua porta. - Mas que merda de garoto. - foi até o a parede aonde ficava a janela do seu quarto. Subiu por alguns galhos que ali haviam e gritou novamente. - Steve!!! - Não obtendo respostas, pulou em direção ao chão e tentou bater na porta mais uma vez. - Steve! - bateu o pé no chão.

O Harrington finalmente apareceu. Seu rosto estava branco feito papel e os olhos arregalados como se estivesse acabado de encontrar o próprio demônio.

- Finalmente! Aonde você estava!? - ela não obteve respostas dele. - Steve? Ei, oi?? Você teve um derrame?

Steve puxou ela pra dentro, trancando a porta e logo a arrastando até o porão, onde deveria estar o corpo de seu pai.

- O que estamos fazendo aqui?

- Ali - apontou. - Ele deveria estar ali... O meu pai... Ele... - levou as mãos até os cabelos, sentindo a tenção daquela situação correr por seus neurônios.

- Beleza, você enlouqueceu de vez. Senta aqui - sentou-se junto a ele na escada. - O que aconteceu?

- O corpo do meu pai Robin! Deveria estar aqui! Ele morreu! Mataram ele... - as lágrimas começaram a cair. - Ele sumiu...

- Quem fez isso com ele?

Steve se manteve em silêncio.

- Steve?

- Minha mãe não pode saber disso.

- Steve, do que caralhos você está falando!?

- Robin - segurou sua mão. - Se eu te contar... Promete que não falará para ninguém?

- Claro. Hey, Harrington, somos amigos, esqueceu? Melhores amigos. Confiamos um no outro.

Com Eddie também era assim...


Steve começou a contar tudo. Tudo mesmo. Cada mínimo detalhe da história sem deixar nada de fora, e era claro que Robin não iria dúvidar. Em Hawkins inteiro, ela era a única que sempre teve uma mente aberta e ampla.

- Me diz o que você pensa sobre isso? - falou ele limpando as lágrimas com a manga da camiseta.

- Seu pai merecia.

- Robin.

- Mas é verdade! Olha, pelo que eu entendi e pude notar, o Eddie era fascinado por você. Eu nunca vi alguém olhar para alguém com tanta paixão. Pelo menos não nessa cidade.

- Mas, ele matou pessoas...

- Você se ouviu enquanto falava? Cara, ele não é um ser humano! Ele não tem culpa por não ser como nós. A culpa não é dele por necessitar de sangue humano para sobreviver. Porra Steve, o que você pensava!?

- Eu sou um idiota...

- Sim. Um imbecil! Pensa pelo lado do Eddie. Ele só queria proteger você. É como um cachorro. Não estou querendo comparar ele, mas segue o raciocínio. O seu doguinho as vezes faz coisas erradas por diversão. Ele come pássaros e galinhas pelo instinto de caça. Ele te ama mais do que tudo. Com o Eddie é a mesma coisa.

Steve não conseguiu segurar o riso.

- Que comparação horrível.

- É, eu sei - riu também.


Após Robin ir embora, Steve subiu até seu quarto, notando o quão abafado estava lá dentro. Resolveu abrir a janela pois ainda estava fechada. Viu a luz iluminar seus móveis até finalmente iluminem a cama de hóspedes.

Ele caminhou até ela, sentando-se e segurou o travesseiro contra o peito, inalando o cheiro de cigarro misturado com loção para cachos.

Steve estava sentindo-se culpado por ter gritado com Eddie. Ele só queria protegê-lo e ama-lo incondicionalmente, mas as suas atitudes como um ser humano repugnante o fizera agir daquela maneira.

Foi até seu guarda-roupa, vasculhando por entre as roupas até encontrar o pequeno quadro que havia pintado a alguns dias atrás após o sonho erótico com seu até então melhor amigo.

Eram eles dois juntos conversando como sempre faziam. Sentados encima do carro de seu pai enquanto dividiam um cigarro. Steve não sabia por quais motivos havia feito aquela pintura. Ele apenas imaginou uma cena significava para eles. Algo que os conectasse sem necessariamente ser com toque físico.

- Seu desgraçado - agarrou aquele quadro com força, e retirou um dos quadros preso a parede, colocando aquele no lugar.

Foi até a janela para fecha-la, porém quando ia a trancar, resolveu não girar a chave.

Pegou um casaco no cabide e desceu as escadas apressado.

- Steve meu bem, aconteceu alguma coisa? - sua mãe perguntou.

- Mãe... - ele parou em frente a ela e após dar-lhe uma boa olhada, a abraçou. Abraçou bem forte. - Eu sinto muito.

- Pelo que, querido?

- Me promete que vai ficar bem?

- Steve, do que está falando?

Ele apertou um pouco mais o abraço e beijou sua testa.

- Eu amo a senhora, muito. Ok?

Ela concordou ainda confusa e viu seu filho sair pela porta sem olhar para trás. 

The cynical eyes - SteddieOnde histórias criam vida. Descubra agora