Confissão

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Eddie estava frente a frente com Steve, olhando diretamente em seus olhos enquanto narrava a sua história da mesma maneira que narrava livros de fantasia. Porém agora, a história era real.

- Não lembro da minhas origens. Não sei se tenho pais biológicos. Eu não sei exatamente como nasci. Apenas sei que de onde eu venho, é um lugar terrível. O meu mundo não é seguro, e quando atingi uma idade maior, fugi. Fugi pra cá e fui adotado pelos Munson. Eles me criaram feito um filho de sangue. São as pessoas mais gentis que eu já conheci...

- Esse lugar... Aonde fica? - perguntou Steve prestando total atenção nele.

Eddie segurou mais seus joelhos contra o peito.

- Você já ouviu falar no submundo? Tipo, não é exatamente o inferno. Não, não, tá bem longe de ser isso. Pelo menos no meu ponto de vista, o lugar onde eu vivo... É sombrio. Frio.

- Isso quer dizer que...

- Existe um portal.

- E onde fica esse portal?

Eddie levou a mão até seu bolso, procurando alguma coisa. De repente, ele retirou uma bússola dourada, com alguns morcegos gravados atrás.

- Toma. Sempre aponte para o norte. Não importa aonde esteja. Continue indo em direção ao norte. E quando a bússola começar a pirar...

Alguém bateu na porta, atrapalhando a conversa. Era a mãe de Steve.

- Eddie... Seus pais estão aqui.


O sorriso no rosto dos Munson ao verem o filho era exorbitante. Não pensaram duas vezes em abraça-lo fortemente.

- Eddie... - disse sua mãe. - Que bom que está bem, querido.

- Meu filho, que saudade! - seu pai o abraçou e bagunçou seus cabelos.

- Quando vocês saíram do hospital? - ele parecia surpreso pela visita repentina, e obviamente Steve percebeu isso.

O Harrington sabia que Eddie não costumava falar sobre os pais, ele estava fascinado em ficar consigo 24 horas por dia.

- Ontem a noite - respondeu a mulher. - Nos hospedamos na casa dos Byers. Eles são tão gentis...

- Ah, senhora Harrington - o homem se aproximou dela. - Muito obrigado por cuidar do nosso filho, muito obrigado mesmo!

- Sem problemas, foi uma honra ter o Eddie aqui conosco. Não é Steve?

Ele concordou em silêncio.


Eddie subiu as escadas atrás de Steve com a cabeça baixa e os olhos cheios d'água. Não estava pronto para ir embora. Seu plano da Lua cheia estava longe de se tornar realidade.

- Eddie... - Steve fechou a porta. - Ei, não precisa ficar triste. Eu sempre vou estar aqui quando quiser me visitar.

- Eu não quero visitar você, Steve. Quero viver aqui com você... - fungou ainda de cabeça baixa. - Eu gosto daqui. O clima não é muito quente e na maioria do tempo o dia está nublado. Tirando hoje que o Sol resolveu dar as caras.

- Mas, você não pode morar aqui comigo. E os seus pais?

- Eles não são meus pais de verdade!

- Mas eles te amam!

- Mas eu não os amo. Eu amo você, Steve. Só você... Se não for para ficar aqui com você então eu não tenho mais motivos para ficar aqui. Vou voltar para onde eu nunca deveria ter saído!

- Ok Edward, já chega. Para de drama pelo amor de Deus, você não é mais uma criança. - sua voz agora era firme. Pegou o pulso dele e o levou até a janela. - Se você realmente é o que diz ser, me prova.

- Provar? O que quer que eu faça!?

- Prova que você é um vampiro.

- Não.

Steve abriu grotescamente a cortina, fazendo com que toda a luz do Sol batesse na cara do Munson. Esse que, pôs os braços contra os olhos, cambaleando para trás, logo vindo de um grito doloroso.

- Fecha!

- Assume que você matou as pessoas dessa cidade. Assuma que você matou o meu pai! - exclamou em uma mistura de raiva e tristeza.

- Me desculpa...

- Confessa!!

Eddie caiu ao lado da pilha de livros que costumava ler com Steve. Se encolheu ali tentando se proteger da energia solar.

- Tudo bem! Tudo bem... - ofegou. - Eu confesso... Eu confesso... Me perdoa. Não foi minha intenção. Eu apenas não aguenta ver você sofrer... Você e sua mãe. Ele era um desgraçado.

- Você não tinha o direito.

- Eu sei. Já pedi perdão!

Steve caiu em lágrimas, não conseguindo controlar a enorme decepção que estava sentindo naquele momento.

Fechou as cortinas escutando um suspiro de alívio vindo do garoto.

- E o Mike? A Nancy? Por que eles?

- Eu estava com fome. E a Nancy... Ela estava se assanhando pra cima de você! E você estava aceitando aquela palhaçada! Fiz isso por você, e pela Robin!

- O que a Robin tem haver com isso!?

- Ah, você não sabia? - se levantou lentamente. - Sua amiga, Robin Buckley era... Apaixonada... Maluca... Fascinada pela droga da Nancy Wheeler. Ela merece algo melhor.

Steve não conseguia acreditar naquilo.

- Como eu não percebi essas coisas antes? Você é um monstro! - gritou fazendo com que o corpo já frágil de Eddie se encolher caminhando para trás. - Um monstro tenebroso e maluco! Um psicopata! E sinceramente, eu nunca deveria ter aceitado ser seu amigo! Nunca! - Enquanto ele gritava, o Munson terminava de juntar suas coisas apressadamente. - Vai embora! Eu não quero nunca mais ver a sua cara!

Eddie desceu as escadas chorando. Inventou qualquer história para a senhora Harrington não se preocupar, e foi embora com seus pais naquele carro preto da alta elite.

Steve nunca havia chorado tanto na sua vida. 

The cynical eyes - SteddieOnde histórias criam vida. Descubra agora