Ela estava completamente esgotada. A dor e uma febre alta confundiram seu senso de direção e Mal se viu ainda mais perdida pelos becos da ilha após deixar a baía dos piratas mais de duas horas atrás. E como se seu azar já não fosse suficiente, uma chuva pesada e gélida se iniciou. Por um lado, aquilo era bom, ajudava a cessar o fogo dos incêndios causados pelos atentados, mas para pessoas no estado de Mal ou até pior, aquilo era mais um inconveniente.
As gotas congelantes pareciam agulhas afundando em sua pele. Exausta, Mal deslizou pela parede do beco e com dificuldade se arrastou para debaixo de umas caixas de madeira se encolhendo como pôde. Esfregou os braços com as mãos tentando se aquecer enquanto observava a faixa de sangue no lado esquerdo de sua calça já imaginando a situação deplorável que sua perna estaria sob o tecido. A dor crescia cada vez mais, sendo que um simples toque mais próximo ao ferimento fizesse a garota ficar tonta. Ao se ver naquela situação: ferida, perdida e sozinha debaixo da chuva, uma dolorosa lembrança se fez presente, uma lembrança que mesmo contra sua vontade, Mal foi aos poucos recordando enquanto desmaiava.
Era uma manhã comum, Mal havia ido com Bela até o mercado para comprar (e roubar) algumas coisas. Ela raramente roubava na frente das crianças e mesmo que elas vissem, logo esqueceriam. Embora Mal e Aziz não os criassem como modelinhos perfeitos de Auradon, Neal e Bela tinham apenas quatro anos, as aulas de roubo podiam esperar um pouco mais.
Chegando ao mercado, Mal passou por algumas tendas para pegar o que precisava, Bela estava ao seu lado brincando com uma lata de tinta spray que havia encontrado no chão. Ela deu tapinhas na perna de Mal e mostrou o objeto.
— Olha mamãe, igual sua
— Verdade, é igual as minhas. Mas você ainda é pequena pra tinta spray Bely, deixo brincar com as outras quando voltarmos pra casa
— Pintar no quadro?
— Tá bem, você pode pintar no quadro, agora me dá a lata
Ela pediu e assim a pequena fez com um sorriso no rosto. Alguns minutos se passaram e ela continuava a olhar mais algumas coisas antes de irem embora quando seu coração gelou ao ouvir o grito de Bela. Mal olhou ao redor não vendo a filha que continuou chamando pela mãe com a voz cada vez mais longe. Ela percebeu uma movimentação mais a frente e não hesitou em correr até lá, havia muitas pessoas na sua frente, mas ela viu parte de um casaco marrom esfarrapado correndo entre o emaranhado de gente. Ele carregava algo e os olhos de Mal se focaram no tecido verde do vestido de Bela que voava conforme ele corria.
Mal o perseguiu por algumas ruas até o perder de vista completamente. Ela estava em choque, o coração prestes a sair pela boca, os pensamentos à mil. Bertha sabia quem era aquele homem e pior que isso para quem ele trabalhava. Então correu de volta pra casa sem dar a mínima para o código de batidas na porta o que assustou Aziz que estava na cozinha. Ela parecia não ver mais nada ao seu redor indo diretamente até o armário se esticando para pegar uma adaga que ficava escondida em cima dele, assim como outras armas.
— Mal.. Mal? Ei, ei o que está acontecendo?! — Aziz questionou vendo a mistura de medo e raiva no rosto vermelho de Mal
— Aquela desgraçada pegou a Bela! — esbravejou sentindo sua garganta doer, Aziz perdeu a cor
— Malévola? Ela pegou a Bela?!
— Mandou um dos capangas, eu vi e sei reconhecer um capanga dela. Eu vou matar aquela, aquela
As palavras travaram e Mal não conseguiu falar mais nada se contentando em chutar uma cadeira. Aziz a segurou colocando as mãos trêmulas em seu rosto.
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Letters to Auradon
Teen FictionEm Auradon, o Rei Fera envia seu filho Benjamin até à Ilha dos Perdidos com uma missão. Mas o garoto não esperava ter sentimentos justamente pela pessoa que mais odeia seu reino e sua família. Enquanto isso na Ilha dos Perdidos, como se já não fosse...