023

44 3 0
                                    

Já pluguei os pendrives no notebook do Pietro que por sorte não estava no quarto. Estou sem ânimo para descer. Abro o meu baú e pego a única foto que tenho com meus pais, seria tudo diferente se eles não tivessem partido. Cada lembrança que tenho deles me tira um sorriso, se eu pudesse ao menos voltar no tempo, teria chorado mais, teria me machucado de propósito para eles ficarem e cuidarem de mim, teria ao menos tentado impedir eles de embarcar naquele avião idiota, faria qualquer  coisa para eles estarem comigo hoje. Pego uma pulseira, a pulseira da mamãe, pareciam glicínias azuis entrelaçadas, as flores favoritas dela, havia um pingente em forma de gota com as siglas D.S., lembro que papai deu para ela no último aniversário dela que comemoramos juntos.

Todos os dias, penso em me reencontrar com eles, ver os olhos castanhos de papai e os verdes de mamãe, abraçar eles e ouvir eles falando que vai ficar tudo bem.

O raio solar que atravessa a janela começa a refletir na arma. Começo a me perguntar o que aconteceria se disparasse em Jake, como pediram. Talvez ela esteja carregada de uma substância química que terá uma reação ruim nele, ou uma bala incapaz de perfurar os ossos. Nunca vi uma arma que não seria letal, mas acredito neles, não tem motivo para matar ele se ainda não pegaram o que queria. Sejá lá o que for.

Me recuso a disparar ela contra Jake, mas se essa bala não sair dessa arma poderá haver consequências, se eu não usar contra Jake também pode ter consequências. O que eles fariam com Pietro? E Vinnie? Ou comigo?

Se eles não me tivessem na palma da mão... agora é tarde, aquela agente está muito perto do Vinnie, se eu não fizer, ela faz.

Pego meu celular espião e resolvo passar mensagem para o chefe.

-Você
O que acontecerá quando eu puxar o gatilho?

-Chefe
Nada permanente.

-Você
Não é resposta o suficiente, se querem que eu faça isso, me digam as consequências.

-Chefe
Não está em condições de exigir, mas não se preocupe, não vai machucar ele.

-Vocé
Ele vai saber de onde a bala veio, vai me descobrir.

-Chefe
006 te passará o uniforme, atire quando ele estiver sozinho.

- Você
Por que precisam de mim para esse trabalho?

-Chefe
Porque chegou a hora de provar que ficaria ao nosso lado.

-Chefe
Mais uma coisa, meus parabéns por hoje mais cedo, bela atuação e não comprometeu nenhuma de nossas informações.

-Você
Obrigada, chefe. Tenho uma informação para passar, mas é arriscado de mais por aqui, passarei para 006.

-Chefe
Ótimo, continue assim.

Jake me falou que observa as mensagens do chefe, devo falar isso para o chefe, não por ele, mas para Jake não descobrir tão cedo de que a agente 248 sou eu, se essa informação chegar ao chefe, então ele tomará devidas providências. Talvez já tenha chegado, eles sempre escutam, mas preciso reforçar.

Retiro o carregador e vejo a solitária bala, pego para analiza-la, ela é assustadoramente leve, sinto meus dedos formigarem quanto mais tempo eu fico com a bala, não sei o que é, mas logo a coloco de volta na arma.

Alguém bate na porta e eu rapidamente fecho o carregador dela e escondo a arma no baú, o trancando. As batidas na porta retornam.

-Tá tudo bem aí Astrid?- É a Chaira, bufo já odiando sua presença.

-Sim, só um minuto.- Digo empurrando o baú para o guarda-roupa.

Quando abro a porta, a garota entra já fechando a porta atrás dela.

- Estava a caminho quando o chefe me informou.- Ela diz me analisando.- Qual é a informação?

-Jake monitora as mensagens do seu chefe.- Seus olhos se arregalam.- Achei que seria bom saberem.

-Que bom que está contribuindo Astrid.- A garota diz esticando os lábios em um sorriso vilanesco.

- O FBI tem uma forma tão estranha de fazer as pessoas contribuírem.- Digo com a voz carregada de sarcasmo.

- Percebi que já retirou o vírus do notebook do Jake.- Ela diz com os lábios curvados em um sorriso - Ficou com pena dele?

Eu apenas bufo e me retiro do quarto. Chaira vem atrás de mim se aproximando cada vez mais me causando um arrepio.

-Chega de drama, já está ficando chato.- Ela sussurra.

Não sei se posso fazer isso, sempre fui uma pessoa emotiva e sensível, mas vou tentar. Assinto lentamente com a cabeça chateada e retorno a andar.

Chaira coloca um sorriso no rosto quando nos aproximamos dos garotos e me obrigo a colocar um também para que não suspeitem de nada. Parecemos duas melhores amigas que não precisam nem de palavras para conversar.

-Bom dia.- Cumprimento e os três respondem. Sento ao lado de Jake, do outro lado está Vinnie, Chaira senta de frente pra mim e na ponta ao meu lado está Pietro

-Está melhor agora?- Vinnie pergunta ainda preocupado.

-Sim, estou.- Digo forçando um sorriso.

- A Cléo passou aqui, falou que você nunca mais entrou em contato, vai passar aqui mais tarde.- Jake me avisa e pega minha mão sob a mesa.

-Obrigada por avisar, eu cheguei de viagem tão cansada que falei apenas com a Jessy, vou marcar de encontrar todos depois.- Digo.

-Coma,  princesa, você precisa se recompor.- Jake fala com seus olhos azuis sobre os meus, ele ainda carrega preocupação. Eu assinto com a cabeça, me desvencilho de sua mão e coloco minha comida, Chaira observa cada movimento meu disfarçadamente.

A mesa ficou em silêncio por um tempo, Vinnie e Jake não paravam de trocar olhares, Pietro um vez ou outra me olhava preocupado ou digitando algo no celular tocando uma vez ou outra no prato.

-Seu aniversário está chegando Astrid, pretende fazer algo?- Vinnie pergunta com um sorriso ansioso.

-Faltam quase dois meses, Vinnie, e não estou a fim de comemorar esse ano.- Não com tudo isso acontecendo, eu costumo virar a noite com meus irmãos no dia do meu aniversário, maratonando filmes e série e enchendo a barriga de tudo o que conseguir aguentar, uma vez ou outra fazemos um bolo e chamamos algumas pessoas antes das nossas maratonas.- Mas podemos fazer o de sempre. - Digo em um sorriso verdadeiro, eu amo aqueles momentos com meus irmãos.

Chaira toca meu pé com o seu com uma sobrancelha arqueada, tentando saber a que me referi.

- A gente costuma virar a noite assistindo e comendo nos nossos aniversários, no aniversário do Pietro ano passado, nós assistimos 8 filmes, a gente nunca dorme nesses dias.- Vinnie fala orgulhoso desses momentos.

-A última vez que dormi eles me pintaram toda e decoraram meu quarto com os piores tipos de post its.- Digo um pouco furiosa ainda  para Jake, demorou dias pra mim tirar todos aqueles papéis das paredes e dos móveis.

-Que bom que se divertem tanto.- Ele diz com um sorriso sincero em seu rosto.

-Sim.- Vinnie concorda.

Pietro continua encarando a tela do celular dele, quieto, calado, me olhando uma hora ou outra.

-Vou na Lily.- Ele fala se levantando, coloca o prato na pia e sai apressadamente, nós não perguntamos o porquê da pressa e ele não fala.

The Key - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora