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Ontem estava conversando com Jake quando Vinnie chegou. Não deu tempo de terminar nossa conversa. Acordo na esperança de ver a tela ligada, pois sinto necessidade de saber o que ele queria me falar, mas tudo o que eu vejo é meu próprio reflexo na tela preta e sem graça do notebook.

Estou uma bagunça, então decido me arrumar e assim que termino, desço. Quando chego na cozinha, Vinnie está no pé do fogão.

-Bom dia, Vinnie.- O saúdo.

-Bom dia, maninha. Como está ?

-Um pouco melhor, ainda confusa, mas estou melhor.- Me aproximo do fogão para ver o que ele prepara.- Eba, panquecas.- Digo animada, as panquecas de Vinnie são ótimas. Tudo o que ele cozinha é bom.

-Estão quase prontas.

Pego um suco na geladeira e coloco encima da mesa, logo Vinnie serve as panquecas enquanto comemos e discutimos sobre o que seria esse D.S. quando finalmente me dou conta.

-A pulseira.

-Que pulseira?- Vinnie me pergunta, confuso.

-A que mamãe me deu antes de viajar. Duarte e Saraiva. DS, é claro, tem que ser a pulseira.

Abandono meu prato com um pedaço incompleto e vou rumo ao meu quarto. Vinnie vem logo atrás.

Chegando em meu quarto a passos rápidos, nervosa para ver o objeto que já vi milhares de vezes, pego o baú e logo tiro aquele pedaço de metal azulado, entrelaçado como glicínias. Foco na gota que contém as siglas. Não há nada de suspeito para mim, então entrego para meu irmão que a pega com grande delicadeza. Ele sabe o valor que tem para mim e respeita. Seus olhos passam em cada canto da pulseira, virando ela em várias posições para melhor alcance.

-Vou analisar. Se houver algo nessa pulseira, a pessoa que projetou foi bastante meticulosa.- Diz franzindo o cenho, como se estivesse intrigado com o fato.

-Fique a vontade. Me avise se encontrar algo.

Estou sozinha em meu quarto quando escuto um grande "tá" vindo da janela. E lá está ele, figura encapuzada, me encarando, implorando para entrar.

Vou até a janela, me demoro a abrir até lembrar que ele pode ter mais a falar.

Destranco a janela e ele me ajuda a levanta, depois de pressionar a trava para ficar aberta, dou espaço para Jake e ele entra.

-Seja rápido!- Digo tentando não transparecer a felicidade de estar o vendo depois de semanas. Nem a tristeza por todas as merdas que estão acontecendo.

Depois dessa vou precisar de terapia.

-Encontrou o dispositivo?- Ele pergunta.

-Acho que sim, Vinnie está analisando.

Jake sem dizer nada se vira para a janela e parece conferir se não há ninguém por perto. Logo depois se vira para mim e percebo que suas olheiras estão piores, as rugas nos olhos de quem está carregando muito nas costas e repleto de preocupação. Seus lábios se curvam em uma linha fina de aflição.

-Tem uma pessoa te seguindo... desde... desde antes de nos encontrarmos. Desde antes de nos conhecermos.

Congelo de pavor. Ele só pode estar mentindo... eu teria percebido.

-Você só pode estar brincando.

-Não estou.- Ele se aproxima de mim.- Demorei bastante tempo para descobrir. Você o encontrou dias atrás.

-Quem é?- Pergunto...o coração pulsando a mil.

-O sorveteiro.

Talvez isso explique porque ele me era tão familiar.

-Como pode ter certeza ?

Ele tira o celular do bolso do moletom, seu dedo toca o teclado algumas vezes antes de seus olhos irem para mim. Está relutante se me mostra ou não. E então, vira a tela para mim.

Não consigo acreditar na imagem que vejo. Meu coração aperta ao ver aquilo. Estou na minha cafeteria favorita em Paris, com duas amigas do trabalho. Lá está ele, algumas mesas após a nossa, olhando diretamente para meu rosto. O cardápio sobre as mãos fazendo com que não suspeitasse. É ele mesmo. Mesmo queixo quadrado, maçãs rosadas, cabelos negros e olhos castanhos.

Tumtumtumtumtum

Sinto meu coração a mim, estou em choque. Apavorada,. Amedrontada.

-Astrid? Você está bem?

Ouço sua voz em meio ao zunido em meus tímpanos. me sinto em êxtase e a medida que as batidas de meu coração aumentam, meus pulmões doem.

Sinto algo me envolvendo. Por um instante, meu pânico aumenta. Mas a medida que percebo que estou com ele, meu coração começa a reduzir as batidas...mas... meus pulmões...

-Escrivania. Gaveta. Não ...re... respirar.

Ele se afasta de súbito. Escuto a primeira gaveta sendo aberta, objetos sendo agitados. A segunda gaveta, mais objetos sendo agitados até ele vim a mim. Leva a bombinha a minha boca e logo começo a inalar.

Leva um tempo, mas finalmente minha respiração volta ao normal.

-Obrigada!- o agradeço com a voz rouca.

-Fiz o que devia fazer.- Seus olhos ainda refletem preocupação. - Precisa de mais alguma coisa? Água, comida... Conversar?

-Estou bem.- Minto.

-Não, não está bem. Você acabou de descobrir que tem um cara te seguindo a bastante tempo, o que desencadeou uma crise. Vamos, Astrid, seja sincera.

- Você tem razão. Eu não estou bem, Jake. Estou cansada de sair de um perigo e entrar em outro. Estou cansada de você ficar sumindo. Estou cansada de não conseguir me defender. Estou cansada. Estou cansada. Estou cansada.

Jake toca seus polegares nas minhas bochechas... limpando lágrimas que desciam.

-Me perdoe. Achei que não queria me ver.- Seu pedido sai doce antes que ele tome meus lábios em um beijo igualmente doce. Quando seus belos lábios se afastam dos meus, seus braços descem logo envolvendo minha cintura- Você não está sozinha, vou ajudar a encontrar seus pais, vou te proteger. Se for preciso, serei seu segurança, vigiarei todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos. Não deixarei que nada te machuque. Minha prioridade será você. A todo custo.

Ele deposita um beijo em minha cabeça e vai em direção a porta... não para a janela, mas para a porta.

-Jake... eles vão te ver.

Ele para, me olha de soslaio antes de falar:

-Não me importo, você precisa de energia. Você precisa comer.

Então ele sai. Espero... espero... vou atrás dele. Chegando no corredor próxima a escada, escuto algo caindo, provavelmente madeira.

Estou fraca ainda, seguro no corrimão e desço lentamente até chegar perto da cozinha.

-Você poderia ajudar, não chegando nunca mais perto dela.- Vinnie

-Ela não está segura. Vocês precisam de mim... Ela precisa de mim.

-Não, ela não precisa de um babaca pra partir o coração dela sempre que bem entender.

-Não vou discutir com você. Me arruma algo para comer.

-Proucure em outro lugar. Não vou te dar nada.

-Não é pra mim... é pra ela. Ela precisa de energia.

Entro na cozinha recebendo o olhar dos dois.

-Não precisa, Jake, muito obrigada.- digo indo em direção ao armário onde guardo meus cookies.

The Key - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora