⊱✿⊰ 3. Ensinamentos de um ser estremado

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Uma piada de mau gosto, como todas às quais ele adora fazer. Fora a primeira coisa que pensei quando proferiu aquela pergunta, mas a forma que ela se dirigiu soou bastante convincente, o que também acabou gerando-me uma leve incógnita se, de fato, havia extraviado sua linha de pensamento.

— Isso é sério? — indaguei, então Maria complementou seu raciocínio antes cortado:

— A árvore que ele colidiu possui uma poderosa magia que apaga severamente a memória daqueles que entram em contato com suas folhas — permaneci em silêncio, percebendo a grande problemática que aquilo viria a se tornar, minha dor de cabeça já estava garantida.

— Você parece ser alguém muito importante, mas eu não consigo lembrar — levantou-se inseguro — Na verdade, não lembro de nada, nem como vim parar aqui ou até... saberia me dizer quem eu sou? — o semblante preocupado dele pareceu-me tão satisfatório, nunca o vira agindo daquele jeito vulnerável.

— Um faker — resmunguei e Maria coçou a garganta, fazendo uma julgadora careta, pondo as mãos na cintura. Ela certamente não me perdoaria se me burlasse dele, então contive os nervos e contestei-lhe franco — Sonic. Seu nome é Sonic — nunca o havia pronunciado antes, soava inquietante ao ser declarado no meu tom de voz.

— Sonic — repetiu, tocando os próprios lábios, logo volvendo sua atenção até mim — E você? Como se chama? — aproximou-se devagar, ainda aparentava certa debilidade no andar.

— Shadow — respondi sucinto.

— Shadow... o que somos um para o outro?

— Não assuste ele, meça suas palavras, senhor ranzinza — a garota advertiu. Franzi a testa, tentando parecer convincente:

Amigos — saiu de um jeito um tanto odioso, mas o azulado acreditou sem desconfiar.

— Fico aliviado em saber que não estou sozinho, obrigado por estar sempre comigo, Shadow, certeza você é um bom amigo — sorriu afetuoso. Desviei o olhar, agoniado.

— Sim, tanto faz. Se já se sente melhor, eu vou para casa — dei meia volta.

— O que?! Você não pode simplesmente deixá-lo aqui assim! Ou por acaso também perdeu a memória? Ele nem sabe o caminho da própria casa, muito menos quem é! — Maria rebateu, pondo-se à minha frente.

Isso não é problema meu — respondi-lhe num assoprado murmúrio. Ela então avermelhou todo rosto, contraditada, e ali soube que estava prestes a receber um desagradável sermão.

— Espera! Eu não posso ir com você? — Sonic perguntou abaixando o olhar enquanto acariciava ansioso o antebraço — Tenho medo de acabar me perdendo, tudo ainda é novo e confuso, quero ficar perto de alguém confiável — suas íris encontraram as minhas, brilhantes e vivas, um verde profundo, admiti ser belo como o pigmentar das folhas umedecidas pela chuva cristalina — Por favor, não me deixe sozinho, Shadow — lamuriou.

— Uh- — franzi o cenho, fora uma ação inesperada com uma reação que deveria ser considerada improvável, mas senti-me, por apenas um instante, desorientado e culpado pelo que fizera. Droga, droga, dro-

— E como vai ser? — a jovem cruzou os braços.

— Você venceu! Agora vamos! Antes que anoiteça — disse contrariado e uma animação esperançosa tomou conta do ouriço azul, que parou-se ao meu lado em posição de espera — Só me siga.

— Sabia que teria a melhor decisão, estou orgulhosa de você — sorri com o declarar de Maria e saí em disparada.

— Chegamos — olhei ao redor, mas nem sinal daquele idiota — Era o que me faltava — retornei ao ponto de partida e lá estava ele, estático — Que parte do "só me siga" você não entendeu?

— Juro que tentei, mas...

— Mas o que?!

— Isso foi rápido demais! Como espera que consiga acompanhar? Seus tênis que o deixam tão veloz? Se é assim, quero conseguir um par, são bem estilosos.

— Não pode ser — pus a palma no rosto, suspirando desacreditado.

— O que? Disse algo errado?

— Eu avisei — Maria recitou.

— Você é tão veloz quanto eu, realmente não se lembra como corremos até aqui? — ele negou sério com a cabeça — Ugh, não deve ser tão difícil reaprender o que já é da sua natureza, vá em frente.

— O que eu faço?

— Corre!

— Agora?

— Vai logo!! — exigi e meio receoso, deu alguns passos a frente, avançando muito rápido e repentino justo até onde eu estava. Não esperava por aquilo e nem tive tempo de esquivar, chocou-se contra mim e senti minhas costas batendo sobre a grama quando despencamos juntos ao solo — Era correr para longe, não na minha direção, seu imbecil!! — vociferei furioso.

Maria começou a reproduzir altas gargalhadas perante humilhante situação. Juro que se pudesse tocá-la e ela sentir algo como um ser vivo, teria a presenteado com um — nada gracioso — beliscão. E enquanto a garota se divertia, Sonic grunhiu apoiando-se com ambas mãos de cada lado meu, esticando os braços, fraquejante.

— M-me desculpa — notei-o ruborizado, perto demais, uma feição estampando arrependimento, mas com algo a mais. Volvi à realidade enjoado por tanto fitá-lo, ordenando nervoso:

— Sai de cima! — afundei minha mão na sua cara, empurrando-o para um lado. Afastei-me, pondo-me de pé e retirando uma fina camada de poeira dos espinhos.

— Não me sinto preparado, minhas pernas e costas doem — justificou e Maria sugeriu em tom brincalhão:

— Que tal carregá-lo nos braços, Shadow? — encarei-a fervendo repulsivo.

— Nem morto faria isso! — ela riu mais, acumulando gotículas nos olhos, já estava passando dos limites.

— Fazer o que? — o ouriço interrogativo se levantou.

— Nada — resmoneei — Dane-se, podemos ir caminhando.

— É muito longe? — neguei, calculando mentalmente que se não parássemos daqui em diante, cerca de vinte minutos seriam gastos.

Ainda custava crer que compactuaria em vigiar esse tonto, mas como nunca desisto, só manter a calma até sua memória retornar, depois expulsá-lo e fingir que nada aconteceu. Esse é o plano, tudo vai correr bem, assim espero. Submeto-me a este tipo de cenário por causa da sua bondade e vontade, Maria.

 Submeto-me a este tipo de cenário por causa da sua bondade e vontade, Maria

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𓆮 千loresta do esquecimento 𓆮Onde histórias criam vida. Descubra agora