Nem notei quando peguei no sono, apenas que parecia viver algum tipo de déjà-vu. Aquele em que há uma conhecida e ruidosa voz chamando meu nome para que desperte pronto.
— Shadow, acorda, já é de manhã.
— Hump — resmunguei, virando-me, sendo sacudido pelo ombro em seguida — Tsk, o que aconteceu agora, Maria?
— Maria? Quem é Maria?! — um travesseiro foi arremessado sobre minha cabeça, fazendo-me estalar os olhos e encarar o azulado alarmado — Vai me responder ou não? — o tom dele piorou, ensaiando como se fosse sair do quarto.
— Espera! Vou explicar.
— Ah, vai?
— É minha melhor amiga.
— Sua- — expressou-se duvidoso — Isso só piora as coisas — que droga, desde quando ele é ciumento assim? — Bem, seria mais fácil dizer que tem outr-
— Ela morreu!! — Sonic parou antes de empurrar a porta, volteando sua cabeça — Muitos anos atrás... e ainda sinto falta dela.
— Sinto muito — franziu a testa, cabisbaixo, aproximando-se de novo, sentando na cama.
— Tá tudo bem.
— Não, não está. Fui tão babaca agora — suspirou, inclinando-se e apoiando as mãos na cabeça — Como pude desconfiar de você?
— Isso significa que tem medo de me perder? — provoquei.
— Não d-disse isso, mas é uma justificativa perfeita — sorriu.
— Então me dê um beijo de desculpas — vi sua cara pegar fogo — Estou esperando.
— Não me a-apresse! — chega ser engraçado e ao mesmo tempo excitante o ouriço mais veloz do mundo dizer isso todo submisso à minha frente.
Sonic achegou-se a mim, apoiando as palmas abertas em meio o lençol. Ele se via tão nervoso, mas isso era o que tornava a cena mais adorável. Fechou os olhos, aproximando vagaroso seu rosto até o meu, quando tive de pará-lo no meio do caminho, pondo uma mão em seu peito, o qual estava deveras acelerado.
— Está sentindo esse cheiro?
— C-cheiro?
— Sim, parece... — olfateei novamente e arregalei o olhar — Queimado?! — pulei dali, correndo até a cozinha, vendo os pães já pretos no fogão. Sonic chegou logo atrás e se desculpou:
— É culpa minha, esqueci deles! Queria fazer um café da manhã para você. Era pra ser surpresa, mas pelo visto deu tudo errado.
— Tudo bem — suspirei — Eu assumo daqui. Vou preparar seu prato predileto, o que acha? — perguntei pondo fora o alimento torrado na lixeira de orgânicos.
— E qual é meu prato predileto?
— Até isso você esqueceu? — assentiu — Chili dogs, é claro.
— Sério? — confirmei, segurando pacotes com salsichas em cada mão, determinado, mas ele fez uma careta suspeitosa.
— O que foi?
— Esse tipo de lanche não é muito saudável, melhor não comermos de manhã — esse Sonic definitivamente está com defeito, recusando um de seus maiores vícios de consumo.
— Quando provar vai mudar de ideia — disse virando-me para a pia — Agora me dê licença — estralei os dedos.
O ouvi caminhar para longe da cozinha e acabou se passando um largo tempo. Só me restava adicionar o ketchup e a mostarda, mas quando volto com ambos para onde os pães recheados estavam, paro ao ver Sonic parado do outro lado do balcão. Ele usava uma das camisetas da minha coleção, branca com seu rosto estampado no meio; ela ficava um pouco larga nele, abaixo da cintura, e agora a segurava pela ponta, puxando-a ainda mais abaixo entre os dedos, juntando as pernas, envergonhado. Deixei os dois recipientes vermelho e amarelo escorregarem e caírem das minhas mãos, paralisado com tal maravilhosa visão.
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𓆮 千loresta do esquecimento 𓆮
RomanceEsta misteriosa floresta guarda as almas que presenciei seus corpos partirem pelo rumo oculto do amanhã. Mas para mim, elas são tão perceptíveis quanto aqueles que nunca tiveram a angústia do próprio fim. Agora aos olhos dos demais, comparam-me a um...