Os tênis enxovalhados pela terra reprisavam uma corrida incessante. Traçava atalhos mentalmente à medida que sentia-o chegando cada vez mais perto, jamais deixaria que desvendasse onde moro, por isso desviei pelo caminho oposto da direção em que minha moradia se encontra até chegar em uma vasta clareira. Ele já estava na minha cola, não havia muito o que eu pudesse fazer além de enfrentá-lo antes que essa maratona se estendesse por um longo período, em círculos.
— Achei que não fosse parar tão cedo — o vi dizer com uma expressão zombeteira.
— O que você quer? — questionei, já começando a ficar alterado.
— Vamos fazer assim: eu começo com as perguntas. Por que estava nos vigiando? Eggman te exigiu mais um daqueles seus truques de espionagem barata?
— Isso não é da sua conta.
— Não vou desistir até me dar uma explicação — sorriu torto e aquilo me apoquentou ainda mais.
— Você acaba de fazer uma má escolha, faker — estralei os dedos. Deu de ombros:
— Bom saber que tenho escolhas, qual recompensa acabo de ganhar?
— Do tipo que vai sentir tanta dor ao ponto de implorar para que eu pare — cerrei os punhos, rangendo as presas de ódio.
— Uhhh, me soa deveras interessante — elevou o indicador enluvado até os lábios e lançou um pequeno coração. Ele adorava debochar e me provocar com brincadeiras infantis, sinto que fazia isso na tentativa de ter-me distraído, mas nunca cairia em algo tão fútil.
Avancei de surpresa, e como era de se esperar, os reflexos dele raramente falhavam, desviando quase que instantaneamente. Sonic fez uma tentativa abrupta de acertar-me com o punho pelas costas, porém falhou e agarrei-lhe firme o pulso, prestes a entregar um soco na região do estômago, mas deu um jeito de recuar, reproduzindo seu conhecido som de quando gira e converte-se em uma esfera e desliza pelo solo. Esquivei de seu próximo ataque, saltando cerca de dois metros distantes. Encarei-o exasperado, ele fez o mesmo, mas despreocupado, até fingindo um falso bocejo. Bufei e comecei a caminhar para longe.
— Hey! Não me diga que desistiu! Quem é o faker aqui agora, hum? — ignorei-o, sem sessar os calmos passos, deixando que continuasse contestando-me. Guardava uma carta na manga e estava prestes a efetuá-la — Vamos terminar o que começamos! Está me ouvindo?! Shadow! Shadow... — senti sua mão pousar em meu ombro tentando me parar, precisei agir muito rápido, ele encontrava-se bem próximo, bem onde queria.
Num segundo de ingênua distração, volteei-me brusco e o atingi com ambos braços. Seu corpo foi lançado para trás, atingindo em cheio o tronco de uma árvore, desmaiando pelo impacto, então praticamente todas as folhas da planta despencaram, espalhando uma leve poeira dourada ao redor.
— Shadow, o que você fez?! — Maria surgiu, espantada.
— O que gostaria de ter feito há um bom tempo: dado uma boa lição nesse faker. Não se preocupe, ele só está desmaiado, agora podemos voltar para casa em paz.
— Não é isso, é que- — a fala dela foi interrompida com o leve tossir do dolorido ouriço, que abriu os olhos vagarosamente, murmurando:
— Huh? O que eu... onde estou? — piscou algumas vezes, elevando as aturdidas íris até mim — Ah, olá, quem é você?
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𓆮 千loresta do esquecimento 𓆮
عاطفيةEsta misteriosa floresta guarda as almas que presenciei seus corpos partirem pelo rumo oculto do amanhã. Mas para mim, elas são tão perceptíveis quanto aqueles que nunca tiveram a angústia do próprio fim. Agora aos olhos dos demais, comparam-me a um...