Os minutos se passavam lentos. Um lado meu o ansiava perdidamente, ao mesmo tempo que o outro, aguardava o momento certo para expressar uma decente abordagem. Os dois discutiam, travavam uma disputa efervescente em meu interior, na tentativa falha de agir e proscrever a inquietação no meu corpo.
Quando enfim tive coragem, preparado para dizer algo, por menor que fosse, o desenrolar do filme foi surpreendente, calando-me antes de tudo. Pouco havia prestado-lhe atenção, pois detinha o contato do azulado na mente, portanto os escassos diálogos e cenas que flagrei esporadicamente representavam maior aproximação da protagonista com seu sequestrador.
Ele sempre seguiu um ritual de manter suas vítimas presas até que estivessem muito fracas ao ponto de nem conseguirem andar por si, depois matando-as a sangue frio. Mas com a jovem universitária foi diferente, algo nela o fez repensar os atos, levava-lhe comida e água quatro vezes no dia, pontualmente. Com o decorrer dos dias, após muitas conversas e afinidades, a próxima etapa surgiu: confiança. A garota agora podia frequentar toda a casa do criminoso, semelhante uma simples visita confinada, enfim usar o banheiro em vez de um imundo jornal no chão, a cama em seu quarto do que só um colchão empoeirado de poucas molas; o que ela não esperava era que, se quisesse continuar com tais regalias, isso lhe custaria a virgindade.
As cenas seguintes ecoavam gemidos por toda a sala, e o que deveria causar-nos medo, acabou acarretando outro sentimento, de pura vergonha. Parecia que haviam retirado aquelas tomas direto de um site impróprio, mas não classificaria trash, até porque a atuação era realmente boa, a jovem conseguia expressar prazer junto ao medo constante de ser morta com impecabilidade.
Então volto a atenção para Sonic, ele me olhava no mesmo instante, mas desviou ligeiro quando notei. Seu rosto estava bastante avermelhado e um imprevisto arrepio me percorreu à medida que o observava, contemplando seu rosto, descendo por seu peito, reidratando meus lábios com a língua. Eu o queria, o necessitava, era verdade. As súplicas expelidas pela televisão estariam prestes a unirem-se com as dele e eu mal podia esperar para ouvi-las.
— Hey — chamei. Não sabia que conseguia fazer aquela voz, intimidante.
— S-sim? Sha- ahgmm~ — fui direto à sua boca sem deixá-lo contestar, segurando seu pulso, puxando-o para mais perto pela cintura, sentindo-o temblar, movendo-me entre seus lábios por mais alguns segundos, parando somente porque queria volver a admirar o tipo de expressão que estaria me presenteando — Mhah... ahh... Shadow~ — droga, era extremamente lindo ofegando lacrimejante daquele jeito — Espe-hummn, mmnhg! — deitei-o no sofá, o calando de novo enquanto segurava-o pelos braços e roçava meus quadris nos seus. O sabor do achocolatado ainda estava inundado entre sua saliva, era doce, gostoso, viciante — Ahhng... — afastei meu rosto outra vez, vendo-o conduzir a língua para fora, molhada, escorrendo desejo.
— N-não! Não, por favor, isso n- aahhwm! Ahgm!! — a garota no filme clamou quando o louco envolveu com certa força o pescoço dela:
— Poderia matá-la agora, seria rápido, nem sentiria — disse rouco, sorrindo.
Então sinto um toque no meu pulso. Vejo a mão de Sonic rodeá-lo, o conduzindo até a região de seu próprio pescoço, provocando ao morder os lábios. Estou ficando insano, isso é bom demais.
— ShaGH-! — engasgou fino ao apertá-lo entre meus dedos. Sempre quando lutávamos, recordo dele muitas vezes demorar um tempo para revidar quando atacava-o premendo seu pescoço. Seria esse um fetiche oculto? — Sha... dow... — rogou falhado, apertando a almofada entre os dedos e estirando o outro braço, tocando meu peito, trêmulo, recolhendo um pouco as pernas por baixo de mim, inquieto. Sorri, soltando-o — Haahhh~! Aah... nh — liberou o ar pela boca, fitando-me audacioso.
Segurei sua mão, desencostando-a de meus pelos, a beijando, traçando um caminho de selares que desciam pela extensão do braço alheio até o peito, baixando mais, começando a lamber a superfície de seus espinhos na virilha, bem devagar, sentindo-o arrepiar com a ponta de minha língua, expirando fundo quando rocei uma presa por sua pele, succionando-a com os lábios, deliciando-me com seu gosto, seu cheiro, suas reações. Tudo. Tudo nele e sobre ele já me tinham no limite, deixando-lhe marcas de vício e ambição.
Não conseguia dizer nada, não conseguia raciocinar para isso, apenas continuar o que comecei, também sem ter a devida certeza de que haveria um fim, mas por vontade mútua, acabaria com ele ali mesmo quantas vezes fosse necessário, meteria com força, abusaria cada centímetro e absorveria seus gemidos tornarem-se gritos descontrolados. Mesmo sabendo que haveria de encará-lo depois disso, temendo que a qualquer momento poderia vir a esquecer o que fizemos e talvez, querer volver ao que éramos antes.
De repente, num piscar de olhos, todas as fontes de luz desaparecem. Um apagão repentino, essa é uma das desvantagens quando se opta morar mais afastado da cidade. Ainda assim, isso seria, de longe, uma coisa que me impediria de seguir com minhas ações.
— S-Shadow, calma — Sonic empatou — Está muito escuro.
— Hhmm, não acha mais excitante assim? — encontrei sua orelha, mordendo-a.
— A-ahh não! — parece que ainda teme ficar no escuro, mas estou aqui, então por quê? — Gostaria de poder ver você... fazendo — sua respiração sentiu-se quente, era como se tivesse lido meus pensamentos anteriores, isso só alimentou mais meu calor interior. Apressei-me:
— Vou pegar uma lanterna e continuamos na cama — selei-o, levantando do sofá.
— Espera! Quero ir com você — achamos a mão um do outro, entrelaçando nossos dedos.
Puxei-o comigo, tanteando as paredes até o quarto. Sempre guardo uma na gaveta da entrada, então sem dificuldades abri-a e liguei, apontando para o teto, produzindo um reflexo que podia iluminar minimamente todo o cômodo. Sonic não largara minha mão mesmo depois de tudo isso, ele tremia um pouco desde o início. Senti está-lo forçando de alguma forma, sabia que tinha muito pavor da penumbra por algum motivo desconhecido.
— Gosta de fantasia? — perguntei do nada.
— Huh? Sim, mas por que?
— Tenho um livro que vai gostar. Não lembro muito da história e seria bom se lêssemos juntos por hoje, o que acha? — é o único que tenho e não envolve caos e terror. Este mantive em minha coleção justamente porque a sinopse me recorda suas aventuras.
Alguém havia me dito uma vez para tentar deixar em segundo plano seus próprios interesses para conquistar os de quem aprecia. Farei isso. A tensão desvaiu nos próximos lentos e lisonjeados minutos.
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𓆮 千loresta do esquecimento 𓆮
RomanceEsta misteriosa floresta guarda as almas que presenciei seus corpos partirem pelo rumo oculto do amanhã. Mas para mim, elas são tão perceptíveis quanto aqueles que nunca tiveram a angústia do próprio fim. Agora aos olhos dos demais, comparam-me a um...