⊱✿⊰ 9. Despedidas de um âmago intrínseco

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A mensagem fora enviada com sucesso, uma carta falada em forma de exoneração, através de uma vida pós a morte. Apenas ouvi-la acarretou lágrimas, que escorreram, maculando o papel do imaginário, até o ponto final no ciclo de um par de flores.

O Sol estava se pondo. O tempo dela tornava-se escasso acompanhado do transparecer de um corpo frágil como a relva. Cosmo precisava uma reação, um sinal, uma resposta que a desviasse da opção de continuar sofrendo próxima seu amado, e ao mesmo tempo, tão distante dele. Suas ações só poderiam ser vistas por alguém que já presenciou a morte de perto. Esse alguém, só a mim correspondia.

— Como... isso é possível? — Tails sabia.

Ele sabia melhor que ninguém: somada declaração contendo tais informações íntimas, só eram capazes de eu também saber apenas se a própria dona dessas memórias as compartilhasse comigo. E dissera tudo aquilo no meu costumeiro tom grave, sem empolgação alguma, concentrado para não errar uma palavra, distinto ao que se ela mesma houvesse proferido, e mesmo assim, pôde soar-lhe no emocional.

— Diga a ela que... — entre soluços, o raposo deu seu veredito — ...a esquecerei. Isso é uma promessa — vi-o falhar de novo, afirmando os dedos nos de Cream, que tão logo cederia um ombro amoroso para o menor debruçar-se. E com o tempo, confortar-se naquele novo e certamente duradouro relacionamento.

— Obrigada de novo, Shadow — o sussurro ecoador da garota foi-se perdendo no desconhecido, até uma forte luz envolvê-la e desaparecer com sua imagem.

— Adeus, Cosmo — sussurrei de volta. Ela conseguiu.

— Podemos voltar pra casa agora, faker?

— Sim — parei ao dar meia volta, olhando arregalado até o azulado, que sorria largo — Desde quando você- espera! — ele riu alto.

— Faz só alguns segundos, não é como se eu não fosse te contar, mas você conseguiu perceber bem rápido, amei sua reação.

— E lembra de... tudo? Tudo mesmo?

— Cada segundo — acercou-se, rodeando os braços por meus ombros — E não me arrependo de nada, inclusive faria de novo se fosse possível — sorri de canto, retribuindo um toque pela sua cintura:

— Se eu disser que sim, é muito possível.

Sonic abaixou o olhar para meus lábios, mordiscando os próprios, mas conteve o próximo passo por seus amigos estarem há uns bons metros de nós, temeroso por questionamentos. Era um medo compreensível e nisso o tempo também favoreceríamo-nos para admitir o que estamos vivendo.

Ambos percebemos que Tails estava muito bem acompanhado e saberia debelar seus ressentimentos. O raposo nunca achou que me agradeceria por algo, que fora deveras inesperado da minha parte e servira como um voto de confiança. Tranquilizou-se ao dar-lhe a notícia de que a esverdeada está segura, livre, graças a ele. Não, graças a nós. Sem contar que de acordo com Sonic, seu amigo já vinha desenvolvendo crises de ansiedade e interesses em Cream — recíproca —, porém os dois nunca admitiram-se, um por medo e outra por simples constrangimento. Mas agora tudo pode fluir, juntos ao céu e a terra.

Retornávamos para casa, enfim em velocidade máxima. Correr com ele e não dele em si transmitia-nos um sentimento distinto. Era motivador, aumentava a adrenalina e o calor à ponta de meus espinhos, que efervesciam toda vez que sentia o roçar do seu braço, movendo-se tão depressa que a paisagem já era algo irrelevante, um borrão, e o único que me importava era ele.

— Shadow — outro sussurro atravessou-me os ouvidos, era uma voz muito familiar, que ecoava por entremeio das árvores, não muito longe dali. Precisei parar.

𓆮 千loresta do esquecimento 𓆮Onde histórias criam vida. Descubra agora