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-Nós poderíamos surrar o traseiro dele por você. -ofereceu Chifuyu. Ele tentava ao máximo manter a cabeça de Takemichi ocupada enquanto também dava tudo de si para não voar até Sanzu com os dois pés em seu peito.

Talvez o fato de Takemichi ter salvo Baji em uma emboscada rival, ou de ter o acompanhado quando ele sugeriu que isso poderia ser verdade, fossem os motivos para Matsuno ser tão protetor com ele. Ou poderia ser apenas por Takemichi não saber se defender quando se tratava de si mesmo. Hanagaki era uma bolha sentimental que era facilmente afetada quando se tratava de seus próprios sentimentos. Ele não merecia nada de ruim e o fato de abrir o coração para outra pessoa que o deixou péssimo era completamente imperdoável.

-Chifuyu, pela décima vez, não surre a bunda de Sanzu. -repreendeu Takemichi. Ele era abraçado por Hakkai que tinha o oxigenado no meio de suas pernas e repousava o queixo no topo da cabeça dele. Era quente e protetor, carinhoso. -Ele é um bailarino e tem apresentações a cumprir. Se você o machucar, vai afetar a carreira dele também.

-Pro inferno com a carreira de Sanzu! -disse Pah. Ele nem sabia o motivo de estarem brigando, mas Peh Yan parecia muito zangado ao redor do padrinho de sua filha -Surraremos o traseiro albino do merdinha!

-Takemichi tem razão. -disse Mitsuya tentando apaziguar as coisas -Ninguém vai brigar com ninguém.

-Não vai ser uma briga, vai ser um massacre! -Angry estalou os dedos fazendo Smiley rir.

Mucho queria defender Haruchiyo, mas sabia que não tinha mais a força ou disposição de adolescência, então optou por ficar calado. Ele sabia que ninguém entraria em vias de fato, mas se acontecesse... talvez ele pudesse agir um pouquinho. Tinha certeza que ainda lhe restava alguns minutos de luta corporal em toda a vida, mas queria usar com uma boa razão, não com esses idiotas. Ele tensionou, mudando o peso de um pé para o outro. Nahoya percebeu a mudança de comportamento do amigo e se recostou nele, buscando apoio.

-Talvez se você brigar por ele, ele finalmente olhe pra você -Smiley sussurrou de modo a deixar apenas que Yasuhiro ouvisse.

-Ele não olharia para mim nem que eu tomasse um tiro por ele -brincou o mais velho. No fundo, as próprias palavras o machucaram.

A distância e a diferença de idade sempre foram o maior empecilho para qualquer investida de Mucho. Ele já tinha 18 anos quando Sanzu ainda contava com 16. E mesmo naquela época ele não estava interessado em Mucho, sendo devotado completamente por Mikey. A confissão de seu modo de vista, como um irmão mais velho, fez Yasu perder completamente todas as esperanças que poderia ter.

Basicamente foi durante uma das noites que o menor se refugiou consigo por medo de trovões, que Mucho soube que estava entorpecido demais de sentimentos para deixar tudo para lá. Para Sanzu, ele (Yasuhiro) tinha um "quê" de segurança; era grande confortável em sua forma de ser. Um homem justo e confiável que tinha na sua essência uma forma de ser agradável. Era comum se sentir bem ao lado de alguém que sabia que não faria nada consigo. Era bom achar o conforto em Mucho de quem nunca lhe pediria nada em troca. Haruchiyo acabou desabando em lágrimas naquela noite, nos braços do mais velho.

Yasuhiro o abraçou novamente, enquanto procurava uma posição confortável para os dois. Sanzu havia passado mais coisas que sua mente pequena e limitada poderia imaginar. Ele não deixaria o pequeno na mão, precisava cuidar dele. Ser um grande exemplo era o primeiro passo para conquistar a confiança. Mesmo quando algo o irritava, como Haruchiyo babar em seu peito quando buscava consolo e acabava dormindo. O loiro estava fazendo isso agora. Mucho o olhou com ternura e beijou seus cabelos, rebeldes e revoltados. Sanzu parecia um lindo dente de leão, com o vento arrastando seus cabelos em uma brisa suave.

Era muito difícil não se apaixonar por ele. A coisa da idade era o maior problema em relação a isso. Mesmo que Mucho pudesse se confessar, e Sanzu sentisse algo por si, ele não faria nada. Dois anos separavam qualquer chance e oportunidade que Yasu, apelido carinhoso posto por Haruchiyo, pudesse ter com o seu vice. E ele sabia que Haruchiyo merecia coisa muito melhor do que um maldito delinquente e que tinha um bom futuro pela frente. Um futuro que ele tratou muito bem de incentivar e cuidar sempre. Foi Mucho quem pagou as primeiras aulas de ballet, até Sanzu conseguir uma bolsa. Foi ele também quem presenteou o albino com seu primeiro par de sapatilhas.

-Você sequer está ouvindo? -cutucou Nahoya. Yasu lhe ofereceu um sorriso pequeno antes de descansar a mão entre os cabelos grandes e cheio de cachos dele -Vai desmanchar os cachos, velho!

Ambos iniciaram uma pequena luta sobre Smiley não permitir que Mucho pegasse em seu cabelo afro. Briga essa que só veio parar quando o motivo de outra briga apareceu junto com o comandante. Manjiro tinha a aura pesada de quem havia acabado de contar o maior segredo de sua vida e também exibia um sorriso aliviado. Sanzu tinha olhos baixos e fixados apenas em Takemichi. Nahoya poderia jurar que, ao lado do loiro falso, Chifuyu quase tremia de raiva, tentando não ceder a vontade de apertar o pescoço do bailarino.

-Nós vamos comer? -perguntou Mikey. Ele era totalmente alheio a situação e não sabia quando não havia clima para coisas do tipo.

Draken bateu a mão na testa e se levantou do pequeno grupo onde ele mantinha uma conversa animada com Kazutora Hanemiya. O bicolor também levantou, batendo a mão nas calças para tirar a areia e poeira que se acumularam ali. Baji ressonava tranquilo encostado em Hakkai e Takemichi. Kazutora o cutucou, provocando uma reação de susto no moreno que acordou de um pulo e levantando os braços em forma de soco. O simples ato fez todo mundo rir, esquecendo momentaneamente de Sanzu e Takemichi.

-Vamos comer. Os casal precisa conversar -disse Mikey. Pareceu mais uma ordem que um pedido.

Draken olhou para o amigo em surpresa. Ken nunca viu tanto vislumbre de maturidade do Sano em uma única frase. Ele lembrava insistente da mania de Mikey de dizer que Takemichi era apenas dele e seria para sempre. A mão do comandante apertou algo no bolso, e Ken soube exatamente o que era. As palavras malditas de Takemichi para ele, que o quebraram por inteiro ainda tinham o peso do mundo enquanto descansavam em seu bolso. Ele teve a impressão de ter visto algo molhado aparecer no rosto de Mikey antes dele exigir ser levado de cavalinho.

-Não vou esperar ninguém, e espero que todos que não sejam Sanzu e Takemichi estejam atrás de mim quando eu chegar no restaurante. -gritou Manjiro. Ele apoiou a cabeça no ombro de Draken, deixando algumas lágrimas rolarem pelo ombro e pescoço do vice-comandante.

-Tudo bem? -perguntou Draken, se colocando a andar rumo ao restaurante da filial dos Kawata ali perto. Ele foi a frente, para que ninguém visse Mikey chorar e falava baixo para não chamar atenção.

-Vai ficar, Ken-chin -murmurou Mikey, ainda com os olhos baixos e vazando lágrimas.

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