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-Espera! Haru! -gritou Takemichi.

Sanzu parecia ter asas nos pés pela velocidade que ele se afastava. Ambos descendo as escadas enquanto Sanzu estava muito abaixo do Hanagaki em distância, já alcançando os últimos degraus. O bailarino parou, fazendo com que Takemichi quase o alcançasse antes de também parar. Mantendo uma distância de dois degraus dele.

-O que? -perguntou Sanzu. Sua voz era quase robótica e Takemichi poderia sentir facilmente a hostilidade escorrendo por baixo das máscara. O olhar em seu rosto tinha algo quase indecifrável, raivoso.

-Nós viemos juntos... Você disse que ia com Mucho e estava indo embora! -diz Takemichi sem entender nada. Ele coçou a nuca em sinal claro de desconforto. -Foi por causa de Mikey?

-Mikey nunca é o problema -disse Haruchiyo, sentindo que tinha 7 anos de novo. -Está tudo bem.

-Você... o que? -tentou entender o pobre Hanagaki.

-Mikey sempre fica com as coisas boas, Takemichi. -disse Haruchiyo. Seus olhos se apertaram em um meio sorriso doloroso.

-Eu não tenho nada com ele! -afirmou o mais baixo, entendendo finalmente onde aquela conversa chegaria.

-Takemichi, está tudo bem. -disse Haruchiyo. Ele subiu um degrau na escada e ficando frenre a frente com Hanagaki, sua aparência parecia sofrida -Você foi namorado dele, é normal ainda sentir algo.

-Eu não sinto! -disse Takemichi sentindo um pouco de raiva. Haruchiyo não sustentou o olhar do mais novo e abaixou a cabeça.

Takemichi amou Mikey, quase deu a vida por ele muitas vezes. Aguentou muitas de suas merdas calado, como um bom namorado. Mas eram coisas passadas! A repulsa que havia sentido quando ele o abraçou ainda era forte e nauseante. Nunca pensou que a diferença entre o abraço de Haruchiyo e o de Mikey seria tão diferente. Um o lembrava coisas ruins e correntes que o prendiam em um lugar. De submissão e tragédias eram feitos os abraços do Sano mais velho.

O abraço de Haruchiyo era calmo e acolhedor. Trazia a sensação de ser capaz de fazer loucuras com ele. Abraçando Sanzu, Takemichi percebeu que nunca tinha dançado na chuva, gritado da borda de um lugar alto. Nunca pulou de paraquedas e nem tocou um instrumento. Takemichi sequer havia dado chance a comidas agridoces! Abraçar Sanzu era tocar o céu sem nunca tirar os pés do chão. Era como se ele pudesse agarrar os anéis de Saturno e jogar gude com os planetas.

Ouvir de que era normal sentir algo pelo homem que o destruiu era demais para Takemichi. Seus olhos brilharam em lágrimas contidas antes de se virar, pronto a ir embora. Ainda olhou uma última vez para Haruchiyo mas, sem forças de falar algo, se foi. Como quem abandona um pedaço de si para trás. Tudo que ele sentia era verdadeiro, real e agora doloroso. Havia se apaixonado por Sanzu desde a primeira vez que o viu, e agora lhe tratava assim? Era melhor ter ficado sozinho. Era ingênuo de pensar que teria um relacionamento normal e saudável com alguém sem os respingos da merda de Mikey em si.

Sanzu ficou preso, grudado no terceiro degrau da escadaria enquanto observava as costas do nerd se afastarem dele. O cabelo revolto de Takemichi se afastava como a juba de um leão era levada consigo quando ele corria. Takemichi era bom demais para alguém como ele. O que de tão bom ele poderia oferecer que Mikey não faria melhor? Era uma boa decisão.

-Olha eu sempre achei que você era burro, mas agora eu tive certeza. -a voz grossa e brincalhona desceu nas suas costas como a mão pesada que pousou no topo de sua cabeça.

Yasuhiro Muto era um homem calado, pelo menos era assim que a maioria com certeza o descreveria. Mucho, apelidado na juventude pelo seu grande porte físico e muscular, agora exibia um cabelo de um político almofadinha e totalmente preto, contrariando sua natureza loira. Sanzu mantinha contato o suficiente para saber muito sobre a sua vida. Ele nunca casou ou teve relacionamentos duradouros. Abriu uma rede de cafeterias com um antigo amigo/rival de reformatório: Kanji Mochizuki. Além de ser um dos principais motivos para a conversa que os irmãos Sano teriam que ter tido a muito tempo.

-Capitão... -gemeu o albino, sabendo que provavelmente levaria um esporro bem dado, isso se Mucho não o fizesse entender as coisas como fazia na adolescência: com os punhos

-Porque você não vai atrás dele? -perguntou o mais velho. Sua voz era a de um professor que descontava a malcriação do aluno travesso.

-Eu não acho que seja pra mim. -disse Haruchiyo, ele mordeu a parte interior da bochecha enquanto falava.

-Hanagaki? Ou o amor? -questionou Yasuhiro. Ele mudou sua postura totalmente para uma protetora e confiável. Sanzu poderia chorar com ele, lutar com ele, gritar com ele e se abrir também. A calmaria de Muto era boa, Muto era bom. Você o acusou de ser apaixonado por Mikey, mas esquece que esteve na mesma situação que ele. -apontou o mais velho, vendo seu eterno companheiro ficar vermelho.

-Eu era criança. Tinha a ideia de que Mikey era um Rei poderoso e um salvador dourado. -disse Sanzu, se sentindo completamente derrotado pela lógica.

-E o que te fez mudar? -perguntou Mucho passando os dedos grossos pelo cabelo dele.

-Rindou apareceu. -disse Sanzu, entendendo mais ou menos onde o seu capitão queria chegar -E eu me apaixonei de novo.

-Hanagaki se apaixonou de novo. Por você. -Mucho deu um pequeno peteleco na testa dele enquanto dizia isso -E você o mandou embora.

-Porque ele se apaixonaria por mim? -perguntou Sanzu fazendo carinho na área afetada pelo pequeno golpe.

-Porque ele não se apaixonaria? Você é incrível, engraçado, talentoso, bonito... -a última palavra foi dita enquanto um dedo sorrateiro livrou o rosto da máscara negra.

Ainda era a mesma que Yasuhiro havia lhe dado por ter medo de germes e nojo de sujeita. O mesmo dedo passou pela cicatriz de Haruchiyo, onde a pele era mais grossa. Eram quase como buracos perfeitos na forma de diamantes bonitos. Yasuhiro acariciou aquela área, enviando sensações de conforto em Haruchiyo. Antes que pudesse se acostumar, Mucho se afastou dele, levando a máscara no punho fechado e entregando na mão dele.

-Qualquer um se apaixonaria por você, pirralho. Corra atrás do seu homem! -disse Mucho empurrando Haruchiyo.

-Ei, Velho! Estava procurando você! - a voz de Nahoya Kawata ainda combinava perfeitamente com o seu sorriso zombeteiro. Ele não havia perdido a alegria ou parecia ter envelhecido nada. O rosto de Smiley parecia congelado no tempo, mas seu cabelo afro estava bem maior. Nahoya parou antes de notar quem acompanhava seu amigo -Ei, Sanzu!

-Smiley. -cumprimentou Haruchiyo. Ele deu um pequeno aceno de cabeça antes de correr por onde Takemichi havia partido, esperando que ele não tivesse desistido de si e lhe perdosse por ser um idiota.

-Quanto você ouviu? -perguntou Mucho, voltando a sua posição seria e sombria.

-A conversa toda. -afirmou o mais baixo. Assim que estava de frente para Mucho, ele deu um soquinho em seu braço, fazendo o mais velho suspirar -Como se sente dando conselhos de amor para o cara que você AINDA está secretamente apaixonado desde os 17 anos?

-Uma merda. -confessou Mucho. -Vamos.

Os dois seguiram o Akashi para ter certeza de um final feliz, pelo menos para o casal.

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