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Mikey suspirou, bagunçando os próprios cabelos. Ele gostaria de fazer mais do que olhar para Takemichi e Sanzu ali felizes, mas sabia que o seu tempo já havia passado. Não era como se ele estivesse ali para somar na relação deles ou mesmo para fazer as coisas funcionarem.

Ele apertou o papel da carta no bolso, olhando em volta do estabelecimento enquanto a Toman se juntava em uma grande mesa. Foi como voltar ao passado. Um passado onde as coisas eram mais simples e haviam comemorações após descer o braço em alguma gangue aleatória. Mikey agora havia se acostumando com comemorações caras, com pessoas importantes. Sempre depois de uma corrida.

O apelido invencível também o perseguiu na fase adulta, quando foi campeão invicto na sua primeira temporada. Ele era famoso agora, diferente do estreante sensação que ganhou fama por sua direção rápida e por cortar adversários, não recuando ou mudando seu estilo mesmo que houvesse um acidente na pista. Mikey ainda era um invencível.

O passado dele foi exposto, é claro que seria, para todo o Japão. Diferente do resto do mundo, que não aceitou bem a ideia do delinquente, o Japão já reconhecia Mikey, o abraçou e apoiou em sua carreira. Ele lembra de ter visto cartazes com frases como "Mikey, estamos com você". E realmente estavam! Ele se surpreendeu ao ver matérias sobre a cultura Bosozoku em tabloides de notícias de esportes, assim como fotos dele em sua época adolescente.

Mikey parecia mais feliz ali. No meio dos seus amigos queridos, com cabelos longos e loiros, descoloridos como uma maldita modelo. A lembrança o fez passar a mão pelos fios agora pretos e cortados mais curtos. Era melhor assim, o capacete entrava melhor na cabeça e ele não precisava se preocupar com uma mecha aleatória dançando na frente dos olhos.

-Você esta bem? -Draken perguntou. É claro que Draken notaria.

Ken, agora casado com a irmã de Mikey, sempre esteve ao seu lado. Ele viu Mikey crescer, ascender sua gangue, esteve ao lado dele quando tudo parecia ruim. Quando Izana apareceu, durante o processo de adaptação entre eles, Ken foi como um porto seguro. Uma coisa que não mudou mesmo com uma mudança tão drástica. Mikey aprendeu a ser família com um homem que nunca teve uma realmente.

Ele não ficou surpreso quando Ken falou para ele que gostava de Emma ou quando Emma falou que era recíproco. Ele não ficou surpreso em ver que sua irmã gostava de um cara direito, mas com um "quê" de mistério que apenas Ken tinha. Ele era forte, leal, protetor. Era alguém bom de se amar. Mikey lembra de já ter sido apaixonado por ele, logo quando estava descobrindo a própria sexualidade. Amar Ken era bom, calmo, as não o completava. Eles eram melhores como amigos.

-Estou sim -Manjiro deu um tapinha no braco dele -Vou perguntar se eles tem algo mais forte aqui.

-Você vai beber? -Ken perguntou, surpreso. Mikey não era alguém que se entregava aos privilégios do álcool, algo estava errado, ele sabia.

-Um drink não vai matar ninguém -ele disse, ja se levantando -Relaxa, Kenzinho. Não é sempre que eu posso beber, certo?

-Tem razão -Draken concordou a contragosto.

Mikey se levantou e foi até o balcão. Ele viu alguém já parado lá, esperando atendimento. Tinha cabelos loiros cortados um pouco abaixo dos ombros, usava o uniforme da Toman. Ele estava encostado no balcão enquanto esperava alguma coisa. Mikey puxou o nome dele na memória.

-Esperando algo, Yamamoto? -Ele perguntou, em pé ao lado do loiro.

-Huh? -Takuya o olhou por cima do ombro. Sua postura nunca vacilou. Ele continuou com os cotovelos cruzados encima do balcão, numa postura quase desleixada -Ah, sim. Oi Mikey. Estou esperando o barman voltar. Ele disse algo sobre precisar de pedaços de frutas.

-Pedaços de fruta -Manjiro repetiu, se apoiando no balcão ao lado dele.

Ele ouviu a porta do restaurante abrir e não precisou mais do que um olhar por cima do ombro para saber que eram Takemichi e Sanzu. Mikey respirou fundo e virou as costas. Ainda doía o suficiente, obrigado. Ele não precisa colocar mais sal na ferida.

-Você sabe... -Takuya falou, com uma voz quase preguiçosa -As vezes, confrontar os fantasmas do passado te impulsiona para frente.

-Experiência própria ou você leu em algum livro de auto-ajuda? -Mikey revirou os olhos, o veneno involuntário saindo junto com as palavras.

-Se eu disser que é experiência própria, isso vai validar meus argumentos? -Takyua rebate rápido. Ele rem uma língua afiada, apesar da carinha de inocente.

-Talvez -Mikey disse, sem se importar com isso. Ele gostava de pessoas atrevidas, petulantes. Isso foi o que o fez gostar de Sanzu. A máscara que ele usava na adolescência abafava bem os comentários maldosos e rápidos, de humor questionável, que Mikey se pegava rindo quando estavam juntos.

-Bem, você pode ser invencível, mas não é o único que sofre de amor -Yamamoto disse, agora prestando atenção no barman que havia retornado. Ele se inclinou no balcão, com um sorriso que Mikey considerou quase doce -Um Cassis Orange, por favor.

-Pra já -O barman respondeu, começando a separar os ingredientes do drink.

-Você sofre por amor também? -Mikey levantou a sobrancelha, incrédulo talvez.

-E quem não sofre? -Takuya deu de ombros -O amor é uma praga. Não adianta você fugir, tapar a boca, fechar os olhos, parar de respirar.... Ele entra pelas orelhas.

-Esta dizendo que o amor é inevitável, Yamamoto? -Mikey perguntou, realmente intrigado agora.

-Pense como quiser -o loiro arrumou o cabelo atrás da orelha, como se estivesse encerrando o assunto -Mas você não é o único a se apaixonar por um amigo.

-.. Está falando de Takemichi? -Mikey perguntou.

-Eu tenho bom gosto, sabia? -o loiro riu, fingindo-se de ofendido -Mas não, não é Takemichi.

Mikey acompanhou o olhar dele. Na mesa, juntos com os outros, dois amigos mais antigos de Takemichi estavam conversando sobre seu possível casamento próximo. Kazushi Yamagishi mostrava a Sanzu o anel que ganhou de Atsushi Sendo como prova de um compromisso mais sério. O cabeleireiro parecia querer se enfiar no chão, mas ao mesmo tempo, estava orgulhoso de si.

-Sério? -Mikey perguntou, ainda mais curioso.

-Seéio -Takuya respondeu, finalmente recebendo seu drink.

Mikey fez o pedido rápido, um simples uísque duplo com gelo. Ali, segurando drinks opostos com um silêncio confortável, Mikey deixou uma risadinha escapar.

-Qual dos dois? O idiota ou o com o cabelo esquisito? -Ele perguntou, dando um gole em sua bebida enquanto Takyua sorria com o canudo preso entre os dentes.

-O com o cabelo idiota -Ele apontou ara Akkun com o queixo, não querendo dar muitos sinais.

-Você tem gostos estranhos -Mikey disse, escapando uma risada sincera.

-Disse o homem que gostava de Takemichi -Yamamoto atacou rapidamente, divertido com a troca.

-Tudo bem, você venceu -Mikey admitiu. -Mas ei, se você vai andar por aí com uma cara igual à minha, tente ter gostos mais decentes.

-Decentes? -Takuya riu baixinho -Que tal você me contar mais sobre isso?

-Acho que não tenho seu número -Mikey disse, confiante.

-Você tem um papel? -Takuya alcançou uma das canetas do Barman.

Mikey revirou os bolsos. Ele tinha um papel. Mikey rasgou a carta, entregando um pedaço do papel em branco para Takuya, que anotou o próprio telefone ali.

-Devo dizer... Você tem bons métodos para conseguir o telefone de alguém -o loiro estendeu o papel para Mikey, com um sorriso quase malicioso nos lábios.

-Questione meus métodos -Mikey amassou o resto do papel e jogou na lixeira, guardando apenas o número de Takuya com ele -Não os meus resultados.

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