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Takemichi se via como se estivesse caminhando em uma corda bamba. Todos os seus músculos gritavam pra que corresse o mais rápido possível, evitando o contato a aproximação do homem branco.

Sanzu tinha olhares predatórios ao mesmo tempo que tinha vontade de enfiar a cabeça no chão. Ele foi criado e treinado para falar com tudo e todos. Ele sabia como se portar, decorava sequencias tão complicadas de passos e movimentos de mão que nem sequer as pessoas fora do palco prestavam atenção l. Numa dança como Ballet tudo tem que ser perfeito, impecável. Uma falha pode custar um papel, uma carreira, um sonho.

Pela primeira vez, ele não sabia dançar, não sabia qual música estava tocando. E qualquer que fosse, ele apostava que era triste. Ele era o bobo da corte daquela peça miserável, o idiota da vila. Ele foi idiota mesmo quando falou aquilo para Takemichi e fodeu tudo em grande estilo. Como uma de suas apresentações decoradas.

-Do que está rindo? -perguntou Takemichi. Sua voz tirou Sanzu de um mundo fantasioso e cheio de autopiedades. Ele olhava para si, com os olhos crescidos atrás das lentes para miopia. Agora que Sanzu conhecia e se lembrava dele, ele pensou se Takemichi levou muito socos no olho para ter que usar óculos.

-Oh... só estava pensando... pensando em -se retorceu com a mentira que não queria sair. Haruchiyo não era mentiroso e o simples fato disse, o deixava nervoso. -Deixe para lá.

-Certo, se vai rir de mim, estou indo atrás dos outros. -Hanagaki disse isso, levantando e batendo a poeira de suas roupas.

Ele queria chorar. Queria muito. Queria chorar e gritar para Sanzu que ele era o maior idiota desse mundo! Que partiu o coração de um jeito que ninguém partiria! Esfregar na cara do maldito bailarino que ele não tinha qualquer coisa por Mikey além de respeito. Mikey era passado e ele errou em achar que Sanzu era o futuro. Maldito concerto de ballet, malditos bailarinos!

Ao tentar passar por Haruchiyo, Takemichi foi impedido. Sanzu praticamente dançou com ele, impedindo totalmente que Hanagaki desse mais um passo. As vezes ele segurava Takemichi pela cintura e o girava entorno de si mesmo. Seria divertido em outra ocasião, onde ambos estivessem bem. Mas estavam tristes e quebrados, com um bailarino desesperado por não conseguir falar o que queria pois as palavras não saiam da boca! Era como estar acomodado com sentimentos que nem saiam do peito.

"Dançar" com Takemichi era uma forma cruel de mostrar a única coisa que era bom, enquanto fazia isso com a única música não sabia.

-Você vai continuar com isso? -perguntou Takemichi. Sua voz era autoritária e fria. Sanzu quase conseguiu ver o homem que terminou com Manjiro por carta -Se quer falar então fale de uma vez!

-Eu não posso... -disse, abaixando a cabeça. Intimidado e intimado pela voz de Takemichi como se para deixar ele em paz.

-Ok... -murmurou o mais novo. Hanagaki suspirou, derrotado. Ele esperava alguma coisa. Qualquer coisa! Nem que fosse um suspiro pesado. Algo que significasse que Sanzu estava arrependido, algo que o fizesse ver que não foi por querer. Calar era admitir a derrota em um pequeno mundo onde Takemichi tinha controle se quem entrava e saia. E Sanzu queria sair.

Ele se virou, pronto pra cumprir a sua promessa de ir embora. Algo puxou sua manga do uniforme, lhe parando. Era real? Quão...? Ele nem sabia o que pensar, como se algum botão o tivesse desconfigurado de uma vez. Dado pane na sua placa mãe que só fazia reconhecimento dos sons que o outro emitia. Takemichi parou, ficando quieto e de costas pra um olhar penoso que queimava suas costas.

-Me desculpe. -sussurrou Haruchiyo atrás de si. Sua voz era baixa e arrastada, como uma maré calma. -Eu nunca fui amado, desejado... Nunca foi a primeira opção. Fui feito de idiota e traído quando resolvi me abrir com alguém.

Takemichi guardou essa informação com o cenho franzido. Era ridículo! Como alguém seria capaz de trair a coisa mais bonita e perfeita que veio para a Terra?! Sanzu era a piedade dos deuses com um mundo tão feio. Ele era tão bonito que Takemichi poderia escrever milhares de poemas apenas sobre seus olhos ou o jeito que ele sorri. Rindou era maluco, burro, idiota, lelé da cuca!

-Não me julgue por achar que Mikey o roubaria de mim. Eu sequer sou digno de você! -Haruchiyo continuou, sentindo a bola na garganta se mover um pouco, apenas um pouco -Assim que eu te encontrei, você me tratou bem, me amou desde o primeiro momento, quando eu nem te conhecia. Você era diferente, cuidadoso. Por isso me abri em mensagem, por isso tive vontade de te encontrar pessoalmente. Por isso eu não recuei. Porque era você! E você é um Golden Retriver bobão que chora quando não tem atenção suficiente. Ou quando Yasuda briga com você, ou quando Mitsuya faz algo bobo e consegue toda a atenção da sua afilhada.

Takemichi apertou os lábios em uma linha fina. Ele queria rir das últimas informações, por só lembrar agora que havia compartilhado isso com Sanzu. Ele queria dizer tudo isso também! Queria olhar nos olhos daquele homem e o beijar! Gritar que foda-se os míseros dias que passaram conversando! Eles estavam apaixonados e deveriam se casar em algumas horas ou Takemichi poderia morrer de ansiedade. Ele se virou lentamente para o homem, dando de cara com a cena que quase o fez ter um ataque do coração. Haruchiyo parecia ter diminuído de tamanho quando encolhia os ombros. Ele segurava a mão no rosto vermelho do choro enquanto suas lágrimas desciam violetamente pelo rodro bonito. Takemichi quis morrer ali mesmo.

-Me desculpe, Takemichi! -pediu Haruchiyo, chorando ainda mais. Ele agarrou Hanagaki com força, temendo que ele pudesse escapar entre seus dedos. -Eu vi a sua carta para Mikey. Ele me mostrou e contou tudo. Mieky ama você e você não o ama. Eu não sabia k que pensar. Vi vocês abraçados e....

-Shiiiiii... -sibilou Takemichi, apertando Haru em seus braços, sufocando os soluços que o sacudiam por completo enquanto ele continuava chorando a plenos pulmões. -Eu sinto algo, mas não é pelo Mikey.

-Sente? -perguntou fracamente o albino. Sem levantar o rosto do pescoço do outro. Era quente, confortável. Como a sensação de estar em casa novamente, com uma boa noite de sono bem gasto.

-Sinto. -reafirmou -Sinto tando amor que sufoca, tanta fofura que engasga. Sinto como se não tivesse forças para fazer outra coisa além de montar um grupo de adoração a você e ser o único membro porque só eu posso admirar a sua beleza celestial. Sinto vontade queimar a lua com seu nome, te entregar os anéis de Saturno, te nomear como estrela e talvez como maravilha do mundo moderno. Você é tão bonito que eu não hesitaria em me jogar numa batalha de punhos com o Superman por você! Venderia minha coleção de quadrinhos, pararia de jogar Lol! Por você eu reescreveria o universo onde você é a Terra e eu a Lua, pra sempre pairar em torno de você, esperando uma chance de cair.

-Que horror! -riu-se Haruchiyo. -Me acha digno de aniquilação em escala mundial?

-Por você, eu viraria Eren Yeager! E o estrondo seria as batidas do meu coração por você! -brincou Hanagaki, trazendo Sanzu para dar uma olhada em seu rosto vermelho -Tatakae!

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