A viagem dos dois seguiu silenciosa. Não era culpa de ninguém, já que um não lembrava do outro e sequer lembrou de falar sobre a gangue que pertencia. Haruchiyo sentia como se a falta de diálogo estivesse atrapalhando o encontro de alguma forma, e estendeu a mão para desacelerar a moto de Takemichi. O loiro, que seguia um ritmo mais lento do que o que havia chegado na casa de Haruchiyo, parou em uma rua pouco movimentada.
-Aconteceu algo? -perguntou Takemichi. As suas costas ainda estavam viradas para Sanzu, que mordia os lábios em pensar qualquer coisa para dizer.
-Você não me contou... -disse o albino. Ele não queria julgar a falta de informação, nem poderia já que ele mesmo não deu tantas assim. Mas se sentia levemente incomodado com o silêncio pouco confortável que eles haviam se enfiado.
-Você também não. -esclareceu Takemichi.
Seus ombros estavam pesados, como se o peso do mundo estivesse sobre ele. A responsabilidade de afirmar coisas, conhecer o outro havia ido por água abaixo. Se Haruchiyo era de Toman, ele conhecia Mikey e vice-versa. Foi uma idiotice pensar que ele poderia ter um relacionamento comum, sem a sombra do "Invencível Mikey" pairando sobre a sua cabeça. Mesmo sem perceber, Takemichi mordeu os próprios lábios.
-Você conhece Mikey? -perguntou o oxigenado, apenas para confirmar suas teorias malucas.
-Manjiro e eu somos amigos a muito tempo. -respondeu Sanzu. Ele abraçou o próprio corpo, montando uma bolinha de proteção em torno de si mesmo. -Porque eu nunca ouvi falar de você, Takemichi?
-Acho que, na época, ninguém me chamava pelo nome. -disse Takemichi virando para Haruchiyo e exibindo um sorriso largo -Eu era o Herói Bebê Chorão, Mithy, Takemichy...
-Takemichy? -perguntou Haruchiyo como se tivesse dado um estalo na cabeça dele.
Todas as conversas de Mikey, tudo o que ele falava parecia tomar algum tipo de sentido agora. Parecia ter forma diante das reclamações, das brincadeiras e suspiros apaixonados do seu ex melhor amigo. Manjiro, quando ia ajudar Haruchiyo nos ensaios de ballet, sempre reclamava por deixar o namorado sozinho. Que Takemichy gostava de atenção e que se sentia meio abandonado com os ensaios frequentes do líder. Ele finalmente entendeu porque parecia conhecer o outro a muito mais tempo, mesmo antes daquele recital onde reencontrou Mitsuya e ele. Por isso o rosto de Takemichi parecia tão familiar! Mesmo com aqueles óculos horríveis. Era só enfiar um quilo de gel capilar na cabeça dele e pentear o cabelo para cima!
-Mas porque eu não lembrei de você pelo nome? -perguntou Hanagaki, forçando a lembrança.
Ambos encima da moto e virados um para o outro, pareciam estudar os movimentos alheios. Como cobras preparando um bote. Um movimento em falso poderia acabar com "a vida" do outro. Takemichi olhou bem para o rosto de Sanzu, lembrando vagamente de já ter visto os olhos dele em algum lugar, e resistindo a cantada idiota de que Sanzu era o seu sonho que virou realidade, ele buscou na mente.
Seus olhos em cima do rapaz, focando em seu rosto albino levemente vermelho pelo frio, a boca muito bem hidratada e também levemente rosada. Alguma parte da clavícula do rapaz estava exposta na gola meio aberta do uniforme. Eram tão bonitas... Takemichi poderia descrever por horas toda a beleza de Sanzu diante de seus olhos. Ele poderia fazer mil poemas e arriscar uma música para que o mundo entendesse.
-Ah... digamos que eu também não usava "meu nome". -confessou Haruchiyo com uma risadinha. Ele apontou para o bordado de sua roupa estava o nome "Akashi".
-Akashi-senpai?! -Takemichi quase gritou. Ele lembrava dele! O garoto com cabelos raspados! Loiro albino, sempre de máscara, com olhos cansados de sono. Sanzu parecia um dente de leão revoltado antes do surto capilar considerável que fez seu cabelo crescer consideravelmente.
-Não grite! -repreendeu Haruchiyo. Ele se aproximou ainda mais de Takemichi -Eu estou bem perto, não precisa gritar.
Takemichi se viu quase de peito colado com Haruchiyo. Seus olhos correram a beleza dele. As luzes piscavam em cores neon, dando um aspecto as vezes angelical e as vezes demoníaco ao rosto limpo do seu encontro. Pela primeira vez, ele não sabia o que fazer, pela primeira vez ele não tentou nada. Pela primeira vez ele se viu no papel de vítima de um flerte barato. Ele odiou não tomar nenhuma atitude, enquanto Haruchiyo parecia tão belo a sua frente. Seus óculos grandes estavam começando a embaçar, denunciando a aproximação lenta do albino.
As mãos de mexeram como se fossem feitas exatamente para aquele momento. Uma foi direto ao rosto alheio, quente, ela descansou na bochecha rosada do Akashi. Takemichi imaginou mil finais, desde levar um tapa até Haruchiyo afastar sua mão. Mas não imaginou que o garoto fosse descansar a face gelada na mão cheia de calor e levemente suada. Sanzu direcionou seus grandes olhos azuis, antes tão gelados, quentes e escuros para Takemichi. Sua mão calejada de academia e treinos de ballet envolveram a macia que segurava seu rosto.
Haruchiyo depositou um beijo na palma da mão de Hanagaki antes de se aconchegar nela novamente. Takemichi achou que sua cabeça fosse explodir e o barulho do coração fosse tic tac rápido de uma bomba. Sua outra mão se mexeu imediatamente, tirando uma mecha dos cabelos alheios do rosto. A luz que refletia agora era um vermelho carmesim.
Lindo.
A beleza se Sanzu era só oque passava na cabeça de Takemichi. Ele se inclinou pra frente, bem a tempo de ter o outro inclinando-se também. Os narizes foram os primeiros a se encontrarem, lentos. Com um pequeno choque que nem sequer pensou em algo doloroso. Haruchiyo moveu a cabeça a modo de acariciar o nariz de Takemichi com o seu. Um carinho suave que abriu espaço para encurtar a distância.
Os lábios encostaram exatamente no momento em que o mundo parou para assistir. A felicidade de Takemichi era colossal! Ele mal poderia se imaginar naquela situação. Nenhum dos diversos cenários que ele criou na cabeça foram capazes de equivaler a tal perfeição. Sanzu tinha gosto de algo doce, tão único que ele não poderia descrever além de "Sanzu".
Era isso: Sanzu tinha gosto de Sanzu.
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Croisé
Fanfiction"E 5, 6, 7 e 8..." A contagem que sucedia das mais variadas artes, era comum com a dança. No ballet, a contagem significava seus últimos momentos antes de se encaixar totalmente na perfeição e leveza. Era a contagem de segundos que tinha para que p...